PCC ordena atentados no RN e MG e põe outros estados em alerta
Mais de 24 ônibus foram incendiados em 17 cidades mineiras. No Nordeste, houve execução de um PM, além de incêndios em coletivos
atualizado
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Os ataques contra ônibus em Minas Gerais e no Rio Grande do Norte, além da execução de um policial militar em Parnamirim (RN), partiram de ordens do Primeiro Comando da Capital (PCC). Os atentados simultâneos – os primeiros da história da facção – foram determinados na semana passada e deveriam envolver ainda outros dois estados, cujas forças de segurança estão de prontidão.
Em 24 horas, mais de 24 ônibus foram incendiados em 17 cidades mineiras. Um coletivo foi queimado em Natal, e um PM acabou assassinado. Os ataques simultâneos em mais de um estado foram decididos pelo “Resumo dos Estados”, bandidos responsáveis pela facção em cada unidade da Federação, depois de consulta feita à “Sintonia dos Estados”, setor do PCC que cuida da organização fora de São Paulo.
“Os bandidos diziam que era para ir para cima de policiais e agentes prisionais e pôr fogo em ônibus. As forças de segurança desses estados foram avisadas e estão de prontidão”, informou o investigador. Em Minas, a facção tem 1.432 filiados e no Rio Grande do Norte há 798 bandidos ligados ao grupo.
Detectado em São Paulo, onde a facção não pretende atacar, conforme as informações interceptadas, o plano foi confirmado pelas forças de segurança dos estados. Primeiramente, os bandidos agiram em Natal, no sábado (2/6), quando assassinaram o PM Kelves Freitas de Brito. Em outro caso, policiais mataram dois suspeitos que tentavam fugir. Na capital do estado, os criminosos incendiaram um ônibus, fazendo as empresas do setor recolherem a frota.
Nessa segunda-feira (4), foi a vez de Minas. Os bandidos começaram os ataques durante a madrugada. Entre as cidades atingidas, está Passos, onde a Câmara Municipal foi atacada. Ali os criminosos atiraram em direção a um quartel da PM e, por fim, incendiaram ônibus em outras cidades do sul do estado. Houve ataques em Alfenas, Varginha, Guaxupé e Pouso Alegre.
Em Uberaba e Uberlândia, no Triângulo Mineiro, também foram registrados atentados, bem como em Belo Horizonte. Em muitos casos, os criminosos agiram de forma parecida à ocorrida em Pouso Alegre na noite de domingo (3). Eles pararam um ônibus, pediram para todos descerem e atearam fogo ao veículo. “Prometeram R$ 15 a cada moleque que participa da queima de ônibus. A ordem é mandar descer todo mundo e queimar o coletivo”, afirmou um delegado da área da inteligência.
Há ocorrências, no entanto, que diferem um pouco desse padrão. Em Monte Santo de Minas, por exemplo, entraram na garagem da prefeitura com garrafas de álcool e incendiaram dois ônibus escolares.
Segundo a PM mineira, em todo o estado, 30 pessoas foram detidas e levadas para delegacia, oito autuadas em flagrante. Um adolescente também foi apreendido. Segundo a PM, áudios obtidos pela corporação mostram a responsabilidade da facção nos ataques.
Oficialmente, a polícia trata com cautela as informações. “Parece-nos que houve, em parte, a orquestração de facção criminosa, mas não podemos determinar isso. A investigação vai ditar se esses áudios correspondem aos ataques que foram efetivados”, informou o major Flávio Santiago, porta-voz da PM mineira. Ele afirma que as ocorrências “podem, sim, ter relação com demandas vindas de dentro dos presídios”.
Segundo o oficial, tudo será apurado pelo setor de inteligência da Segurança Pública. O major também afirmou que ataques semelhantes foram registrados em outros estados.
Para lembrar – Facção cresce fora de São Paulo
O total de membros do PCC no país já ultrapassa a casa dos 30 mil. Entre 2014 e 2018, o número de integrantes mapeados pelo censo da organização fora do estado de São Paulo foi multiplicado por seis e chegou a 20,5 mil. Paraná e Ceará concentraram o maior número de bandidos inscritos na facção – os chamados “batizados”.
Documentos obtidos pelos investigadores mostram a consolidação do PCC no tráfico internacional. A organização tem integrantes também na Colômbia, no Paraguai, na Bolívia, no Peru e na Guiana. Os negócios particulares dos líderes e da própria facção têm faturamento estimado pela inteligência policial paulista em, no mínimo, R$ 400 milhões por ano.