PCC: expulso da África, Fuminho é levado para presídio no Paraná
Conhecido como Fuminho, o criminoso foi preso na África na última segunda-feira (13/4)
atualizado
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Expulso de Moçambique, o narcotraficante brasileiro Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, partiu da África em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), na madrugada deste domingo (19/04). O criminoso deu entrada na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR) por volta de 14h. Gilberto dos Santos tem ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e é acusado de faturar milhões de dólares com o tráfico de cocaína.
O Metrópoles apurou que será uma passagem transitória pelo Paraná. Em breve, ele será encaminhado para outra unidade de segurança máxima administrada pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
Quando embarcou, às 1h30 (horário local) da madrugada deste domingo, no aeroporto de Maputo, capital de Moçambique, Fuminho usava máscara e estava com algemas nas mãos e nos pés.
A transferência do narcotraficante para uma penitenciária federal, considerada de altíssimo risco, movimentou um grande aparato de segurança: helicópteros, carros blindados e dezenas de homem fortemente armados.
A logística foi coordenada pela Polícia Federal. A ação também contou com a participação das forças armadas e do Depen. Imagens mostram o momento em que o Fuminho chegou ao Paraná.
Confira:
Prisão
O criminoso, que estava foragido há mais de 20 anos, foi preso na África na última segunda-feira (13/4). Ele é o principal nome do Primeiro Comando da Capital (PCC) que ainda atuava nas ruas. Também tinha a missão de resgatar o líder máximo do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola da Penitenciária Federal em Brasília. O complexo abriga a alta cúpula da facção.
Fuminho foi surpreendido pela polícia no momento em que voltava de uma consulta médica. Ele foi a uma clínica para tratar de um ferimento na perna direita, enfermidade conhecida como erisipela. Gilberto Santos fumava um cigarro nas dependências do hotel Montebelo Indy Maputo Congress, localizado no subúrbio de Sommerschield, em Maputo, quando recebeu a voz de prisão. Ele estava hospedado no local há 40 dias, acompanhado de dois nigerianos e não reagiu.
Ao ser apresentado para a imprensa nas dependências da delegacia de Moçambique, foi hostil. Tentou cobrir o rosto com uma garrafa e mostrou o dedo médio aos jornalistas. Ao ser questionado pelos crimes, respondeu: “Não tenho nada a declarar, vai falar com o meu advogado”. Os repórteres também perguntaram se ele conhecia Marcola e a resposta foi negativa. Confira na reportagem da TV VOA Portugues, de Moçambique.
Barão da droga
Leonardo Simbine, porta-voz da polícia de Moçambique, detalhou que os agentes apreenderam com Fuminho dois passaportes nigerianos e um brasileiro, todos falsos. Ele ainda portava 100 gramas de maconha, 15 celulares, cinco malas, um automóvel, 34.700 meticals (moeda moçambicana, o equivalente a 470 euros) e 5 mil rands (250 euros) em espécie e três relógios. Simbine classificou o brasileiro como “Barão da Droga”. A polícia local investiga as ligações do narcotraficante na região.
Parceiros comerciais de Fuminho tinham a função de organizar as viagens do narcotraficante na África e cuidar de toda a legista de hospedagem, transporte e reuniões. Eles também auxiliavam no transporte da cocaína para Europa.
Plano de ação
Por meio de nota, a Polícia Federal classificou o preso como “maior fornecedor de cocaína a uma facção com atuação em todo o Brasil, além de ser responsável pelo envio de toneladas da droga para diversos países do mundo”. No Brasil, as investigações que resultaram na prisão histórica foram conduzidas pela Coordenadoria Geral de Polícia de Repressão a Drogas e Crime Organizado (CGPRE), da PF.
O delegado Elvis Aparecido Secco, chefe da unidade especializada, explicou ao Metrópoles que a corporação já vinha investigando Fuminho há dois anos, por meio de um inquérito instaurado no Ceará. “No começo de 2019, o Ministério da Justiça e Segurança Pública, em conjunto com PF, definiu que intensificaria o combate às facções criminosas. Decidimos, então, reunir todas as informações que tínhamos sobre esse criminoso. Ampliamos a nossa estrutura e concentramos as ações em em Brasília”, detalhou Secco.
Há 12 meses, os policiais federais deram início à montagem de um quebra-cabeça. A investigação teve foco no patrimônio e na movimentação dos familiares. As apurações contaram com informantes, transação de dados e um árduo e intenso trabalho de campo.
Os federais localizaram os familiares e amigos de Fuminho e passaram a rastreá-los. “Por meio de redes sociais e monitoramento, descobrimos que familiares e amigos do narcotraficante passaram a ir para África com uma certa frequência após março de 2018. Eles iam cinco, seis, sete vezes para África do Sul. Em alguns momentos, nossos policiais acompanharam essas pessoas até mesmo durante os voos”, detalhou Elvis Secco.
Infiltrados, policiais fizeram campanas e levantaram os endereços e locais frequentados pelo traficante. “Estávamos rastreando o tempo todo. Sabemos que ele foi para Maputo, capital de Moçambique, 40 dias antes da prisão. Ele entrou de forma clandestina, sem passar pela imigração. Era para ser uma viagem rápida de negócios, mas devido à pandemia do novo coronavírus, as fronteiras foram fechadas e ele não conseguiu voltar à África do Sul”, revelou o delegado. O narcotraficante ficou de quarentena em Maputo, sob vigilância velada dos policiais.
“A facção perdeu uma grande referência. Era o único em liberdade, responsável por movimentar milhões de dólares. Já apreendemos uma carga com 10 toneladas de cocaína que pertencia a ele”, completou Secco.
Fuga cinematográfica na “Terra dos Candangos”
A prisão enfraqueceu e praticamente extinguiu a possibilidade da facção colocar em prática o grande resgate de Marcola na Penitenciária Federal de Brasília, local onde a cúpula do PCC cumpre pena. Um bilhete interceptado por autoridades de São Paulo, no ano passado, apontava planejamento de uso de blindados e massacre de policiais no suposto ataque ao complexo. O papel estava codificado e foi localizado no esgoto, durante revista em uma das celas.
Segundo as apurações, a facção utilizaria dois helicópteros, além de granadas, metralhadoras de calibre .50 e fuzis. O aparato estava sob responsabilidade de Fuminho, braço-direito de Marcola.
De acordo com informações, os criminosos estariam aguardando o aval de Fuminho para colocar o plano em prática. Brasília era chamada pelos criminosos de “Terra dos candangos”. O PCC teria reunido um verdadeiro exército de alto nível e com criminosos que possuem conhecimento militar e de armamentos. A facção já teria mapeado os arredores do complexo penitenciário em Brasília com o uso de drones.
Informações colhidas pela Secretaria de Administração Penitenciaria de São Paulo apontam que mesmo antes de ser transferido para penitenciaria federal, Marcola havia atribuído funções e orientações a três presos da Penitenciaria de Presidente Venceslau (SP).
Segundo ofício enviado à Justiça paulista, Marcola ordenou que os internos Wilber de Jesus Merces, Valdeci Francisco da Costa e Márcio Domingos Ramos instruíssem Fuminho, através de cartas, a continuar com o planejamento de resgate.
Segundo o líder do PCC, se o resgate fosse inviabilizado por qualquer motivo dentro de alguns meses após a transferência, a facção deveria realizar o levantamento de agentes públicos e autoridades para eventual execução.
A suspeita, segundo o Metrópoles revelou com exclusividade, fez com que os ministérios da Justiça e da Defesa fechassem um acordo para intensificar a segurança do complexo, localizado em São Sebastião. Militares do Exército Brasileiro foram direcionados para a penitenciária de segurança máxima, onde ficaram de prontidão, com carros blindados. Em fevereiro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) decretou Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no perímetro da complexo. O esquema conta com militares do Exército e da Força Nacional.
“Fuminho era o cara que poderia arquitetar um plano ousado para fazer o resgate na penitenciária federal de Brasília”, destacou Elvis Secco.
Com o material apreendido em Moçambique, a polícia brasileira poderá analisar se há mais detalhes do plano de resgate, assim como a atuação criminosa do preso no exterior.
Segundo o Grupo de Atuação Especial de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de São Paulo, Gilberto Aparecido dos Santos é considerado o maior traficante de drogas do Brasil. Há indícios de que ele exportava, mensalmente, ao menos uma tonelada de cocaína para a Europa.