PC e MP investigarão médica que fez nebulizações com hidroxicloroquina
Eliane Schere foi demitida no dia 10 de março. Ela atuava no pronto-socorro do Hospital Nossa Senhora, no Rio Grande do Sul
atualizado
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O caso da médica Eliane Schere, que aplicou tratamento experimental com nebulização de hidroxicloroquina diluída em pacientes infectados pela Covid-19, ganhou mais um capítulo nesta quinta-feira (25/3). A Polícia Civil e o Ministério Público abriram investigações para apurar a conduta de Schere. As informações são da GauchaZH.
Após o “tratamento” ministrado por Schere, três pessoas morreram nesta semana no Hospital Nossa Senhora, em Camaquã (RS). A técnica, que não é prevista nos protocolos médicos, causou reações adversas nos enfermos, como taquicardia e queda de saturação (oxigênio no sangue).
De acordo com Geórgia Malafaia, titular da Delegacia de Pronto-Atendimento (DPPA) de Camaquã, o inquérito está em fase inicial. Ainda serão tomados depoimentos de funcionários e médicos do hospital, de familiares de pacientes que faleceram e fará análise de prontuários clínicos para avaliar a evolução dos doentes.
“Vamos apurar se ela (médica) fez aplicações de forma adequada e se ela tinha o domínio total desse método que decidiu adotar. Se ela não tem o domínio, isso pode eventualmente caracterizar imperícia. Vamos procurar saber como surgiu a ideia desse tratamento, se foram os familiares que pediram ou se foi a médica que incentivou”, informou a delegada.
O objetivo da investigação, ainda segundo a delegada, é averiguar se houve “negligência” ou “imperícia” que possam ensejar uma infração penal. Geórgia Malafaia também diz que, com os elementos até agora inclusos no inquérito, “não há indício de infração penal”.
O MP
Já a promotora de justiça Fabiane Rios, da comarca de Camaquã, afirmou que tinha recebido documentos do próprio hospital, que decidiu denunciar às autoridades supostas 17 infrações éticas cometidas pela médica Eliane.
“Foi instaurado expediente investigatório para verificar se os procedimentos adotados estão dentro dos protocolos e da ética profissional. A investigação será de oitiva de pessoas envolvidas, protocolos adotados, de acordo com o Ministério da Saúde”, diz a promotora.
“Constatada eventual falta, será encaminhada na esfera cível e administrativa. Se for provada imperícia da médica ao adotar o procedimento, causando óbito de pacientes, a conduta será apurada na esfera criminal (também no MP, neste caso)”, completou.
Relembre
De acordo com GaúchaZH, a médica Eliane foi demitida no dia 10 de março. Ela era contratada para atuar no pronto-socorro do hospital. Porém, mesmo com o desligamento, a profissional seguiu ministrando o tratamento experimental para alguns pacientes no hospital, incluindo os que conseguiram autorização judicial para isso e os que assinaram um termo de conciliação informando que pretendiam aderir à nebulização de hidroxicloroquina.
Sobre a demissão, o hospital justificou a decisão como consequência do tratamento experimental e de atritos com os outros médicos responsáveis pelos leitos clínicos e pela UTI, que não concordavam com os métodos da colega.
Na última segunda-feira (22/3), o hospital denunciou a profissional ao Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) por 17 supostas infrações médicas.
Bolsonaro
Na segunda-feira (19/3), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) falou à Rádio Acústica, uma emissora local, sobre o tratamento precoce contra a Covid-19 e a chamada “nebulização da hidroxicloroquina”.
Bolsonaro, inclusive, citou o caso da médica Eliane Scherer, que também teria usado a técnica de nebulização da droga no tratamento do vereador e ex-prefeito de Dom Feliciano (RS) Dalvi Soares de Freitas. O político estava internado no Hospital Nossa Senhora Aparecida, em Camaquã.
“Até conversei com a doutora agora há pouco, conversei com o vereador também, o vereador Dalvi, e ele falou que estava em uma situação complicada, sentindo a morte do lado. E a doutora falou muito humildemente que não é uma ideia dela a questão da nebulização. A primeira vez que eu ouvi falar disso foi lá no estado do Amazonas”, disse Bolsonaro.
“Agora, aqui no Brasil, a pessoa é criminalizada quando tenta uma alternativa para salvar quem está em estado grave – e quem está em estado grave e uma vez é intubado, chega próximo a 70% que não há mais retorno, vai a óbito”, prosseguiu o presidente, durante a ligação.