Pastor nega importunação sexual em menina de 14 anos: “Foi só selinho”
Religioso compareceu à polícia e negou acusações; ele deve ser indiciado por oferecer dinheiro à vítima; crime pode dar até 10 anos e cadeia
atualizado
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Goiânia – Em depoimento à Polícia Civil de Goiás na tarde dessa sexta-feira (23/4), o pastor investigado por importunação sexual contra uma adolescente de 14 anos em Goiânia negou a acusação feita pela própria vítima e pelo Conselho Tutelar. Filmado secretamente beijando a menina, ele disse que se tratou de “apenas um selinho”.
Identificado como Otacílio Emanuel, o religioso também negou que tenha oferecido dinheiro à menina, ainda que no vídeo gravado e entregue à polícia, ele apareça perguntando se ela quer “mais 10 Reais”.
Apesar de todas as negativas, o pastor deve ser indiciado pelo menos por favorecimento à prostituição ou outra forma de exploração sexual de pessoa menor de 18 anos por ter oferecido dinheiro à vítima.
Conforme a delegada Gabriela Adas, adjunta da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), disse ao Metrópoles, o crime pode render 10 anos de reclusão ao autor.
O caso vem sendo investigado pela DPCA desde a última terça-feira (20/4). O pastor compareceu espontaneamente, viu os vídeos e ouviu os áudios e se reconheceu nos dois casos. Mas, ainda assim, não considerou que teve condutas indevidas. Afirmou que deu “apenas um selinho” na menina e que teria sido retribuído de maneira espontânea.
Nos áudios divulgados com exclusividade pelo Metrópoles e atribuídos ao pastor pela própria vítima e pelo Conselho Tutelar, são ditas frases como:
“Eu amei, amei e amei. Amei muito. Quero todos os dias, sempre que puder, tá bom? Eu te amo muito e amei muito, gostei muito e quero sempre. Você é minha. A gente vai ficar junto agora, tá bom? Mas tudo no tempo certo. Você ouve a mensagem aí e apaga, tá bom? Te amo.”
Ouça os áudios:
Negativas
À polícia, o pastor também disse não ter forçado beijo (apesar do vídeo mostrar o contrário) e nem ter oferecido dinheiro para a menina (no vídeo também é possível vê-lo oferecendo R$ 10).
“É claro no vídeo ele perguntando à vítima se ela quer mais 10 Reais, o que indica uma prática reiterada de oferecimento de dinheiro a ela. Ele negou, disse que a menina é quem pedia dinheiro. Mas isso não encontra respaldo. Ele a assediava”, disse a delegada Gabriela Adas.
Até agora a DPCA já ouviu, além do pastor, a vítima, familiares dela e da amiga que ajudou na gravação do vídeo, além de representantes do Conselho Tutelar da Região Noroeste de Goiânia.
A delegada acredita que ainda na próxima semana deve concluir o inquérito e encaminhá-lo ao Judiciário.
O Metrópoles não conseguiu contato com a defesa do acusado.
Otacílio Emanuel é dirigente da Igreja Pentecostal Deus é a Vitória, no Setor Parque Tremendão, na região noroeste, uma das mais pobres da capital goiana. A divulgação de denúncia abriu uma cizânia na comunidade local. Parte se revoltou com o religioso. Outra parte o defende com unhas e dentes.
Amedrontada, a vítima e a mãe tiveram que se mudar às pressas do endereço onde moravam, conforme adiantou o Metrópoles.
Entenda o caso
Com a ajuda de uma amiga, a adolescente de 14 anos filmou, de forma secreta, um encontro em sua casa com o pastor Otacílio Emanuel. Nas imagens, ele força beijo na boca da adolescente, abraça, diz para que ela apague as mensagens, promete torná-la “muito feliz” e dá 10 reais. “A gente vai começar devagarzinho. Depois a gente vai fazer amor bem gostoso”, diz ele, no vídeo.
Em conversa com o conselheiro tutelar Junior Borges Leite, a adolescente contou que os crimes começaram a ocorrer há mais de 4 meses, mas, segundo ele, nenhuma das pessoas próximas, inclusive a mãe da vítima, acreditou na história por causa da credibilidade do pastor.
Conforme a menina disse ao conselheiro, as atitudes lhe causavam nojo.
Foi justamente diante da incredulidade de todos que a adolescente resolveu fazer a filmagem. Ela também repassou ao conselheiro tutelar cópias de várias mensagens que o pastor lhe enviava regularmente. O vídeo, assim como todo o material em áudio, foi repassado à Polícia Civil e fazem parte do material probatório.
Atenção
A delegada Gabriela Adas disse que é fundamental que as famílias estejam atentas a situações semelhantes. “A menina resolveu gravar o vídeo justamente para comprovar o que ela vinha denunciando à família”, comentou.
Ela disse, por exemplo, que o vídeo só foi entregue à Polícia Civil seis dias depois da filmagem. “Isso impediu, inclusive, que o suspeito tivesse sido preso em flagrante. É importante que as famílias deem atenção para o que suas crianças e adolescentes denunciam”, acrescentou a policial.