Partidos pagam salários de até R$ 27 mil com fundo partidário
A remuneração dos dirigentes partidários é permitida, seja com dinheiro público (recebido por meio do Fundo Partidário) ou privado
atualizado
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Presidentes e dirigentes partidários recebem das legendas salários que chegam a R$ 27,5 mil por mês. Os dados constam nas prestações de conta das siglas, referentes ao ano passado, enviadas à Justiça Eleitoral. Esse valor é superior, por exemplo, aos vencimentos de governadores, como o de São Paulo, de R$ 22,3 mil mensais.
Levantamento nas contas de 35 partidos aponta que 12 legendas pagaram vencimentos a seus dirigentes no ano passado variáveis entre R$ 27,5 mil – caso do nanico PRP – e R$ 4,1 mil, como o PCB.
A remuneração dos dirigentes partidários é permitida, seja com dinheiro público, recebido por meio do Fundo Partidário, ou privado, arrecadado em doações externas e contribuições de filiados. Em abril, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reafirmou, por maioria de votos, que os dirigentes podem ser pagos com verbas do Fundo Partidário, sem necessidade de comprovação das atividades desempenhadas nas siglas.Por lei, a direção nacional dos partidos pode gastar com funcionários até 50% da parcela recebida pelo Fundo Partidário. No caso de diretórios municipais e estaduais, o limite é maior: 60%. Ministros do TSE e a Procuradoria-Geral Eleitoral, porém, têm cobrado dos partidos o estabelecimento de critérios transparentes de remuneração, registrados em estatutos e normas internas.
Em geral, os partidos não remuneram dirigentes que ocupam concomitantemente outros cargos eletivos. Não há nas prestações de contas em registros de pagamentos para os presidentes do PSDB, o pré-candidato ao Planalto e ex-governador Geraldo Alckmin; do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR); do PCdoB, a deputada Luciana Santos (PE); do DEM, o prefeito de Salvador, ACM Neto; e do MDB, o senador Romero Jucá (RR).
O PSD também não registra repasses a seu presidente licenciado, Gilberto Kassab, atual ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Integrantes da cúpula do partido que não possuem outros cargos são destinatários de parcelas, como a coordenadora do PSD Mulher, a ex-vice-prefeita de São Paulo Alda Marco Antônio (R$ 25 mil).
Depois do PRP, o PV é o partido que pagou o maior valor – R$ 26 mil ao ex-deputado José Luiz Penna, presidente nacional da legenda. Penna não foi localizado nessa quarta-feira (13/6).
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, com salário atual de até R$ 25 mil, considera o valor “razoável” e pondera que poucas pessoas da Executiva Nacional recebem salário, arbitrado pela própria direção. “A remuneração é para quem tem dedicação exclusiva. Por um período longo no qual eu era dirigente e advogava, não recebia. Não tenho emprego público e hoje não me sobra tempo, fica impossível eu me dedicar à minha profissão, com rendimento anterior muitíssimo maior”, disse Siqueira.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, confirmou receber os recursos. “O valor serve para cobrir diversas despesas, almoço, jantar, táxi e etc”, declarou. Lupi recebe R$ 12 mil do PDT, menos do que o vice-presidente da legenda e pré-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes, cuja remuneração é de R$ 21,1 mil. Ambos aparecem no balanço do partido como prestadores de serviço técnico-profissional e não na folha de pessoal.
Alvo da Operação Registro Espúrio, responsável por investigar irregularidades no Ministério do Trabalho, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, recebeu parcelas de R$ 23 mil ao longo do ano passado. Procurado, o político não respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem.