Partido de Bolsonaro, PL se divide entre Tarcísio e Garcia em SP
Partido Liberal tem disputa interna entre apoiadores de Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Bolsonaro, e Rodrigo Garcia, apoiado por Doria
atualizado
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São Paulo – Em 5 de abril, um encontro em Suzano, na grande São Paulo, reuniu integrantes do Partido Liberal para selar apoio a Rodrigo Garcia (PSDB) ao governo estadual, escancarando a divisão da legenda de Jair Bolsonaro no estado. O candidato de Bolsonaro no estado é Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura, mas apenas parte do PL em São Paulo embarcou nessa candidatura.
A relação da legenda com Garcia vem de longa data, e conta com o respaldo principalmente de prefeitos. Isso porque, enquanto vice-governador de João Doria, ele ocupou o cargo de secretário de Governo, responsável por fazer a interlocução com os prefeitos.
Nessa função, o tucano viajou o estado por mais de três anos selando acordos e negociando repasses com os municípios, e construiu um bom relacionamento que agora retorna em forma de apoio político.
Os números são relevantes: foram 34 prefeitos presentes no encontro de apoio a Garcia, dos 40 que o PL tem no estado. Além disso, marcaram presença também 15 vice-prefeitos, 70 vereadores e ao menos seis deputados estaduais.
O prefeito de Itu, Guilherme Gazzola (PL), é um dos que apoiam Garcia, e credita esse apoio à “demonstração de tudo que os municípios receberam durante a gestão no qual o Rodrigo era o secretário de governo”.
Em sua visão, é “um desrespeito com o estado de São Paulo querer impor uma candidatura de fora”, como a de Tarcísio, que é do Rio de Janeiro e nunca teve nenhum vínculo com o estado. “É um desaforo para São Paulo uma candidatura como a dele”, opina.
Prefeitos e deputados ouvidos pela reportagem afirmam que não houve nenhuma determinação do diretório estadual do partido para apoiar Tarcísio de Freitas ou Garcia. Por isso, se sentem livres para decidir de que lado vão estar na eleição de outubro.
Ao mesmo tempo, alguns deputados que apoiam Bolsonaro e Tarcísio ouvidos reservadamente avaliaram o evento de apoio a Garcia como “traição”, já que o tucano é apadrinhado de Doria – que deve concorrer contra Bolsonaro em outubro no pleito nacional – e acreditam que o “natural” seria o apoio ao ex-ministro de Infraestrutura.
Alguns deputados estaduais, inclusive, só foram para o PL por causa de Bolsonaro. Até fevereiro, a legenda tinha seis parlamentares. Em março, durante a janela partidária, o partido ganhou novas adesões impulsionadas pelo presidente: chegou a 19 deputados, a maior bancada da Assembleia Legislativa (Alesp).
A resistência a Tarcísio, entretanto, não é nova no PL. Quando ele era presidente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), durante o governo Dilma Rousseff, Tarcísio demitiu diversos indicados pelo PL por suspeitas de corrupção, o que deixou uma mancha na relação dele com Valdemar da Costa Neto, presidente da legenda.
Outro motivo para essa relação conturbada é que o PL sempre fez parte do governo Doria-Garcia, e o apoio ao então vice nas eleições deste ano já era dado como certo há mais de um ano. Em novembro, Bolsonaro chegou a ter dificuldades de se filiar à legenda justamente porque a sigla já havia fechado apoio a Garcia em São Paulo, e não queria vincular a filiação nacional ao pleito paulista. Mas, no fim das contas, o presidente se filiou ao PL.
Tarcísio, no fim de março, juntou-se ao Republicanos. A expectativa era de que os dois partidos caminhariam juntos no pleito paulista, mas a divisão já mostra que a relação não será tão pacífica assim.