Paracatu: “Agora é recomeçar, mas não sei como”, diz filho de vítima
A Polícia Civil ainda busca respostas para atenuar a dor das famílias. Nesta quinta começam os interrogatórios
atualizado
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Enviado especial a Paracatu (MG) – De camisa branca, calça jeans e olhos vermelhos de tanto chorar, um homem alto, amparado por diversas pessoas chamava a atenção no sepultamento de Antônio Rama, uma das vítimas da matança na Igreja Batista Shalon, em Paracatu, distante 234 km de Brasília.
O técnico em mecânica Thiago Rama (foto em destaque), não acredita que o pai morreu de uma forma tão brutal. A sensação fica pior quando ele reflete: o principal alvo do atirador Rudson Aragão Guimarães, 39, era seu irmão, o pastor evangélico Evandro Rama.
Ele chorou. Ao mesmo tempo que as lágrimas corriam no rosto, ele procurava o ar. Era como se o sentido de viver, mesmo que temporariamente, tivesse acabado. Thiago esmoreceu, foi abraçado e acabou deixando o enterro antes de o caixão ser enterrado no Cemitério Colina.
No caminho de volta para casa, ele pausou a dor e conversou com o Metrópoles. Muito abalado, Thiago foi categórico. “Agora é tentar recomeçar, mas não sei como. É muito difícil”, desabafou.
Assim como muitas vítimas de tragédias inexplicáveis, ele tenta encontrar respostas para o crime. Menos de 48 horas após o massacre, questionamentos ainda falam mais alto. Sobre o pai, fica a lembrança de um homem que sempre ajudou a comunidade.
“Só consigo me lembrar de coisas boas, dele ajudando as pessoas na comunidade e do bem que ele fazia a todos. É injusto isso (a forma que a morte aconteceu)”, lamentou.
A conversa foi interrompida por um barulho forte. Vinha de onde estava o corpo do pai. O caixão de Antônio escorregou e caiu. A cena chocou Thiago, que desmoronou. Aos prantos, deixou o cemitério.
Agora é tentar recomeçar, mas não sei como. É muito difícil
“Uma dor inexplicável”
Minutos antes do sepultamento de Antônio, familiares e amigos acompanharam o enterro de Marilene Marins de Melo Neves, 38. A última homenagem foi marcada pela forte emoção. A mãe dela, uma senhora de idade avançada, sequer conseguia falar.
A mulher simples, de cabelos curtos e passos lentos, sentou-se na praça em frente ao Cemitério da Santa Cruz. Teve forças para apenas um lamento. “É impossível acreditar que fizeram isso com a minha filha. É uma dor inexplicável”, disse, antes de cair em prantos.
Uma das irmãs de Marilene, Simone Neves observava de longe. Rodeada de amigos, ela falou da convivência próxima com a sobrinha. “Só tenho coisa boa para falar. Era uma pessoa ótima, ajudava no trabalho da igreja”, resumiu, ao engasgar com o choro.
A Polícia Civil ainda busca respostas para atenuar a dor dessas famílias. Nesta quinta-feira (23/05/2019), os investigadores começarão a ouvir formalmente as testemunhas dos crimes, analisará os resultados das perícias e fará novas ações investigatórias. Ainda falta saber a origem da arma usada nos assassinatos e o que motivou a ação. Rudson está internado e não corre o risco de morrer.
Para entender o crime
Por volta de 20h da última terça-feira (21/05/2019), Rudson foi até a casa da mãe dele, onde também estava a ex-namorada Heloísa Vieira Andrade, 50. Lá, ele esfaqueou a ex-companheira no pescoço com um canivete. Ela morreu a caminho do hospital devido a uma parada cardiorrespiratória.
Minutos depois, Rudson invadiu a igreja. Ele atirou contra Rosângela e Antônio, que não resistiram aos ferimentos e morreram. A intenção dele, segundo a polícia, era matar o pastor Evandro, mas como ele fugiu com a ajuda de fiéis, alvejou o pai dele.
Rudson ainda rendeu outra fiel e a manteve sob ameaça. A Polícia Militar chegou ao local da ocorrência e tentou negociar. Nervoso, ele disparou contra Marilene, a quarta vítima. Rudson acabou baleado por um policial.
O atirador foi autuado por quatro homicídios qualificados por motivação fútil e tentativa de homicídio devido à ameaça ao pastor Evandro Rama.