Para Marco Aurélio Mello, governo subestimou greve dos caminhoneiros
Na avaliação do ministro do Supremo Tribunal Federal, país não poderia “ter chegado a esse ponto”
atualizado
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Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), avalia que o governo federal subestimou a situação dos caminhoneiros, o que resultou em uma reação atrasada sobre a crise. “O governo é o órgão mais bem informado que nós temos. Aí, eu penso que subestimaram e foram surpreendidos com essa reação que paralisou o país”, disse o ministro.
Em pronunciamento no domingo (27/5) o presidente Michel Temer anunciou que o preço do óleo diesel terá uma redução de R$ 0,46 por um período de 60 dias. Para Marco Aurélio, apesar das providências tomadas, a greve dá sinais de persistência porque a categoria ainda não visualiza como as mudanças serão efetivadas, aliado a um nível de insatisfação com a reação do governo.
“Aí nós temos a forma (a reação do governo). O que nós precisamos cuidar, e isso cumpre ao governo, é do conteúdo. Sentar à mesa e buscar o entendimento”, comentou.Questionado sobre a manifestação do ministro Celso de Mello, decano da Corte, que relembrou que Código de Trânsito Brasileiro pune como infração gravíssima o ato de alguém usar qualquer veículo para deliberadamente interromper a circulação rodoviária, Marco Aurélio destacou que o aspecto fica em segundo plano quando a situação “chega ao extremo”. “Não adianta simplesmente dizer que eles não podem fazer. O que se precisa é imprimir providências que os levem a recuar”, afirmou.
Confira os principais tópicos da conversa na entrevista abaixo.
Broadcast: A greve dos caminhoneiros entra na segunda semana, com serviços parados e um grande caos de abastecimento instalado. Como o senhor avalia a situação?
Marco Aurélio Mello: É uma frase crítica, nós realmente não podíamos ter chegado a esse ponto. Não sei (se governo) subestimou as informações alcançadas, mas é uma situação realmente muito ruim, porque repercute na vida de todos. É um contexto que você precisa ter presente, e tomar as providências antes que o pior aconteça. E o pior veio a acontecer, já que os caminhoneiros só viram esse caminho para tentar ter preservados os meios de trabalho.
Broadcast: Então o senhor considera que a situação dos preços deveria ter sido tratada antes?
Marco Aurélio: Sem dúvida. E o governo é o órgão mais bem informado que temos. Aí eu penso que subestimaram e foram surpreendidos com essa reação que paralisou o País.
Broadcast: Como o senhor avalia a paralisação que está sendo feita?
Marco Aurélio: É um ato de força, sem a menor dúvida. E só se chega a ele quando não se tem outra solução. Os caminhoneiros fizeram o que fizeram porque estão visando a própria sobrevivência, incitando essa paralisação total.
Broadcast: Mesmo após a manifestação do governo federal, atendendo a grande parte das reivindicações, a greve dá sinais que irá continuar. A questão pode acabar na Justiça?
Marco Aurélio: Não sei. A questão é que aí (na reação do governo) nós temos a forma. O que nós precisamos cuidar, e isso cumpre ao governo, é do conteúdo. Sentar à mesa e buscar o entendimento. Arrumar a situação criada pelo aumento de preços dos combustíveis, buscar uma saída. Claro que o presidente Pedro Parente, da Petrobrás, tinha que buscar o saneamento da Petrobrás. Temos que buscar o meio.
Broadcast: Em entrevista ao Broadcast, o ministro Celso de Mello comentou que o País não pode ser “refém de qualquer categoria profissional”. O senhor vê da mesma forma?
Marco Aurélio: Quanto à manifestação em rodovia, nós assentamos que deveria haver comunicação prévia. Mas quando se chega a esse extremo, evidentemente esses aspectos ficam em segundo plano. Não adianta simplesmente dizer que eles não podem fazer. O que se precisa é imprimir providências que os levem a recuar.
Broadcast: Consegue visualizar a situação se acalmando ainda essa semana?
Marco Aurélio: A tendência é pouco a pouco a normalização. Agora vamos ver o que se faz para realmente evoluir. Essa semana é truncada porque temos o feriado, mas evidentemente a vida precisa continuar, e sem sobressaltos. Eu acho que o momento é para diálogo, para se chegar a um denominador comum.