Para juiz, nova prisão de João de Deus preserva segurança de vítimas
Segundo o magistrado Marcos Boechat Lopes Filho, a liberdade do acusado permite reiteração criminosa, além de intimidação das vítimas
atualizado
Compartilhar notícia
Goiânia – João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, de 79 anos, foi preso preventivamente nesta quinta-feira (26/8), em Anápolis. De acordo com a decisão judicial, que determinou a prisão do médium, a prisão domiciliar que ele cumpria representa um risco à necessidade de preservação da segurança das vítimas e testemunhas.
Conforme a decisão do juiz Marcos Boechat Lopes Filho, da Vara Criminal da Comarca de Abadiânia, a determinação atende à denúncia oferecida pelo Ministério Público de Goiás (MPGO). No documento, o magistrado afirma que, neste momento, “não se mostra conveniente para a instrução processual que o acusado permaneça em liberdade ou mesmo em prisão domiciliar porque completou 80 anos de idade, mesmo porque se trata de pessoa que responde a 16 (dezesseis) ações penais, acusado por inúmeros crimes de intensa gravidade”.
De acordo com o juiz, “em prisão domiciliar, o acusado pode a qualquer momento, por si ou por alguém a seu mando, entrar em contato pessoal ou por meio virtual com vítimas, testemunhas ou terceiras pessoas que possam vir a intimidá-las, ameaçá-las ou mesmo atentar contra suas integridades físicas e à própria vida”.
Para o magistrado, a saúde de João de Deus também não é um impedimento para que fique preso em regime fechado. “Em razão de sua idade avançada, é de se presumir que o acusado já recebeu as duas doses de vacina contra Covid-19 e se encontra possivelmente imunizado”.
Prisão
João de Deus foi preso nesta quinta-feira (26/8), em Anápolis, cidade onde mora e cumpria, desde março do ano passado, prisão em regime domiciliar. Ele era monitorado por tornozoleira eletrônica.
Os promotores ofereceram nova denúncia contra ele, no dia 13/8, pelo crime de estupro de vulnerável, cometido contra oito mulheres. Após receber essa nova denúncia, a Justiça determinou a prisão de João de Deus.
Segundo o MPGO, o caso relaciona outras 44 vítimas, mas, em razão de os crimes estarem prescritos, elas foram arroladas como testemunhas para depor e reforçar a forma de agir de João de Deus. Os crimes descritos aconteceram na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia.
“Ordem temerária”
A defesa de João de Deus, disse nesta quinta-feira (26/8), que ordem judicial que determinou a prisão dele é “temerária” e “atropelou conscientemente” a decisão proferida anteriormente pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) que concedeu prisão domiciliar ao condenado por crimes sexuais.
“Concernente à concessão de prisão do médium João Teixeira de Faria ocorrida na data de hoje, a defesa recebeu a notícia com espanto e se mostra estarrecida diante da flagrante ilegalidade da nova prisão”, criticaram os advogados Anderson Vangualberto de Mendonça e Marcos Maciel Lara, em nota enviada ao Metrópoles.
Os advogados lembraram que a prisão domiciliar foi concedida, à unanimidade de votos, “lastreada nas diversas doenças que médium possui”. Além disso, a defesa disse que irá recorrer, mas que considera temerária a decisão que determinou o retorno de João de Deus para a prisão.
Ainda segundo a defesa, João de Deus é “reconhecidamente doente”, situação que, conforme acrescentou, se agrava por causa da pandemia da Covid-19. “Todos sabem que idosos, mesmo completando o processo vacinal, fazem parte do grupo de risco”, informou a nota.
Prisão domiciliar
João de Deus estava em sua residência, em Anápolis, há mais de um ano, depois de cumprir parte da pena em regime fechado no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.
Ele obteve o benefício da prisão domiciliar, em março de 2020, após alegar questões de saúde e vulnerabilidade em razão da Covid-19.
Condenações
João de Deus, que ficou conhecido mundialmente pelos atendimentos espirituais na Casa de Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, já foi condenado a mais de 64 anos de prisão por crimes sexuais, como estupro, abuso sexual, além de outras práticas.
O escândalo envolvendo o nome dele veio à tona em dezembro de 2018, após os relatos das primeiras mulheres que se apresentaram como vítimas dos crimes cometidos por ele.
Mais de dois anos se passaram e o MPGO continua sendo procurado por mulheres de todo o Brasil, que relatam terem sido vítimas de João de Deus. Até então, mais de 320 pessoas já registraram denúncias contra o ex-médium, no Ministério Público.
Desde dezembro de 2018, o MPGO já ofereceu 15 denúncias à Justiça, que têm João de Deus como acusado. A maioria dos processos segue tramitando na comarca de Abadiânia.
Até o momento, ele já foi condenado quatro vezes. Veja:
– 19 anos e 4 meses de reclusão por violação sexual mediante fraude, na modalidade tentada, violação sexual mediante fraude, e dois estupros de vulneráveis;
– 40 anos de reclusão por 5 estupros de vulneráveis;
– 2 anos e 6 meses de reclusão por violação sexual mediante fraude contra uma vítima;
– 4 anos de reclusão por posse irregular de arma de fogo de uso permitido e por posse irregular de arma de fogo de uso restrito.