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Para evitar guerra interna, Lula escolhe Gleisi como sua porta-voz

A decisão foi do próprio ex-presidente, que temia disputa pelo poder dentro do PT

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Luiz Inácio Lula da Silva durante evento do PT em Brasília. – Brasília(DF), 24/04/2017
1 de 1 Luiz Inácio Lula da Silva durante evento do PT em Brasília. – Brasília(DF), 24/04/2017 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Algumas horas antes de furar o bloqueio imposto por militantes ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e se entregar à Polícia Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, reuniu vice-presidentes e demais dirigentes do PT, parlamentares e líderes de movimentos sociais a fim de dar uma de suas últimas orientações políticas antes de ir para a prisão: enquanto estiver na cadeia, em Curitiba (PR), quem fala por ele sobre assuntos do partido é a senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional da legenda.

À primeira vista, a ordem, anunciada em uma sala reservada, pareceu redundante, pois Gleisi foi eleita com maioria absoluta – 61% dos votos – no 6º Congresso Nacional do PT em junho do ano passado, em Brasília. Lula, líder de fato da sigla, no entanto, teme que, na sua ausência, as correntes e os grupos internos que disputam espaço no partido deflagrem uma guerra fratricida pelo poder.

Além de evitar um racha no PT, ao dar autonomia à Gleisi, o ex-presidente cria um canal para manter seu controle sobre o partido. Segundo líderes petistas, a decisão contrariou setores que defendiam a nomeação de um porta-voz para o período no qual Lula estiver na cadeia.

De acordo com pessoas que acompanharam o desenrolar da prisão do petista nos últimos dias, as idas e vindas nos processos de tomada de decisões durante as negociações com a Polícia Federal para a rendição serviram como termômetro do que pode acontecer ao partido sem o comando de Lula. Um exemplo citado foi a escolha dos três emissários responsáveis por conduzir os acordos com a PF. Conforme auxiliares do ex-chefe do Executivo, isso só foi decidido após intensa disputa entre correntes, bancadas e movimentos sociais ligados ao PT.

A reunião na qual Lula indicou Gleisi como porta-voz teve a participação dos vices-presidentes do PT Marcio Macedo, Paulo Teixeira e Alberto Cantalice, do tesoureiro da sigla, Emídio de Souza, do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e de integrantes de movimentos sociais. Conforme relatou um dos participantes, Lula anunciou que a senadora é sua representante e mudou rapidamente de assunto, não dando margem a questionamentos.

Denúncia
Gleisi é ré na Lava Jato pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal, em 2010, foi destinado à campanha da petista ao Senado o montante de R$ 1 milhão do esquema de corrupção na Petrobras. Ela nega e se diz “vítima de perseguição política”.

A senadora integra a corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), mas, até ser eleita presidente do partido, não participava ativamente da vida orgânica do PT. A escolha de Gleisi foi uma decisão pessoal de Lula, que temia a vitória de Lindbergh, apoiado por correntes da esquerda petista, como Mensagem e Democracia Socialista.

Ao transferir poderes à presidente da sigla, no entanto, Luiz Inácio deixou claro que as decisões jurídicas cabem à sua equipe de advogados, comandada por Cristiano Zanin Martins. Alguns líderes petistas avaliam que, se Lula passar muito tempo preso, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, coordenador do programa de governo do PT, pode perder espaço. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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