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Porto Alegre – Com quase 20 dias de aulas suspensas na maioria das escolas do Rio Grande do Sul (RS), pais de alunos do ensino público e privado do estado demonstram preocupação com os déficits cognitivos e educacionais dos estudantes. A nova suspensão anunciada pelo prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (PMDB), que depois voltou atrás em sua decisão nessa segunda-feira (27/5), gerou ansiedade e revolta.
Comentários nas redes sociais do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe) e da Prefeitura da Capital reclamam do impasse. Em reunião com o prefeito da capital gaúcha, o presidente da entidade, Oswaldo Dalpiaz, conseguiu o cancelamento do decreto e o retorno das aulas a partir da tarde desta segunda-feira (27/5).
Analista de Departamento Pessoal e mãe do Benjamin, de 4 anos e 6 meses, e da Beatriz, de 1 ano e 7 meses, Ana Luiza Cauduro é uma das tantas profissionais que sofrem diretamente com os efeitos do fechamento das escolas. Sem rede de apoio na capital gaúcha, ela é duplamente impactada, tanto pela dificuldade para trabalhar quanto pela preocupação educacional com as crianças.
“A creche em que meus filhos estudam foi fortemente atingida e, mais uma vez, me vi com eles trancados em casa, sem previsão de normalidade”, diz. Segundo a analista, ter o apoio educacional é importante tanto para quem está na linha de frente quanto nos bastidores.
“Ficar sem escola é desafiador, mas tenho fé que vamos dar a volta por cima e recuperar nossa rotina”, afirma.
Cobrada pelo retorno, a Secretaria Estadual de Educação afirma que se trata de prioridade. Secretária adjunta da Educação do Rio Grande do Sul, Stefanie Eskeresk diz que a retomada deve ocorrer, sim, mas dentro de um contexto de segurança.
“O retorno presencial é prioridade máxima, mas para isso precisamos de uma avaliação da estrutura”, explica a secretária. Os 1,8 mil alunos sem aula atualmente no estado devem retomar em sistema presencial, híbrido ou remoto, de acordo com a condição de cada escola.
A partir desta segunda, a Secretaria da Educação irá olhar de forma específica o contexto de cada uma das 120 instituições de ensino que seguem sem previsão de retorno.
“Nosso foco é a retomada do atendimento, para garantir vínculo do estudante com as escolas. Depois disso vamos falar da reposição da carga horária”, diz Stefanie.
Férias
Segundo a posição do governo, a estratégia de recuperação das aulas no sistema público não passa por repor dias usando férias ou aumento o período do final do ano. O posicionamento é que o descanso de julho é necessário.
“É preciso ter esse momento de recesso, é importante que professores e alunos voltem bem”, diz a secretária adjunta. Em vez disso, fala-se em flexibilização de carga horária, por meio de mudança na política pedagógica que regulamentou a não obrigatoriedade dos 200 dias letivos.
No sistema privado, escolas poderão encurtar o recesso de julho para uma semana, além de cancelar feriadões.
“O processo educacional é cumulativo. Certas deficiências vão sendo supridas, outras permanecerão nos alunos por algum tempo. Mais do que tudo são as competências socioemocionais que foram abaladas. Amigos perdendo os pais, negócios fechados, professores com as casas alagados. Por isso, as escolas têm a necessidade de readequar o calendário”, afirma Dalpiaz.
Retorno às aulas
O retorno está suspenso em todas as instituições de ensino estaduais dos municípios de Pelotas e Rio Grande na segunda-feira (27/05) e terça-feira (28/5). Municípios de Canoas, Nova Santa Rita, Alvorada Cachoeirinha e Gravataí estão com aulas suspensas apenas segunda-feira (27/5).