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Pais de autista celebram comunicação com tatuagem: “Conscientização”

Felipe, de 7 anos, é autista não falante. Seus pais tatuaram um alfabeto no braço para que ele pudesse soletrar palavras e se comunicar

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Foto colorida Felipe vendo tatuagem dos pais - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida Felipe vendo tatuagem dos pais - Metrópoles - Foto: Arquivo pessoal

Há pouco mais de um ano, Annie Coutinho e Rafael Borges apresentaram o método de soletração, através de uma prancha de letras impressa, ao filho autista de 7 anos, Felipe Borges.

Felipe é autista nível 3, não falante e com apraxia da fala. “Fora do Brasil tem uma vertente que ensina os autistas não falantes a se comunicarem apontando letras. E aí eu comecei a ler e a estudar sobre”, conta a mãe do menino.

Segundo ela, a comunicação efetiva com o filho, como a expressão de sentimentos e vontades, sempre foi um desafio por conta do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Apesar de perceber a evolução do filho com a ferramenta, o casal se frustrava quando Felipe tentava se comunicar, mas não tinha acesso à prancha.

“Comecei a perceber que tinha que ter ela [a prancha] mais perto, mas nem sempre conseguia. Até que um dia escrevi o alfabeto com canetinha no meu braço”, relembra Annie.

O improviso deu certo. Em maio deste ano, ela tatuou as letras no antebraço. Pouco mais de um mês depois, o marido também fez a mesma tatuagem. “Nós somos uma equipe. A gente faz tudo em prol dos nossos filhos.”

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"Nós somos uma equipe. A gente faz tudo em prol dos nossos filhos"
Felipe se comunica com a mãe apontando para as letras eternizadas em seu braço
Felipe aponta para letras no braço do pai
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Pais de menino autista usam tatuagem para se comunicar com filho

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"Nós somos uma equipe. A gente faz tudo em prol dos nossos filhos"

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Felipe se comunica com a mãe apontando para as letras eternizadas em seu braço

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Felipe aponta para letras no braço do pai

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Viralizou

Annie é acostumada a postar o dia a dia com os filhos nas redes sociais.

“Posto [nas redes sociais] desde que o Lipe foi diagnosticado, com 1 ano e meio de idade. Desde que eu comecei a compartilhar, serviu de inspiração para outras mães que também têm filho autista e, às vezes, temem sair de casa com as crianças”, explica ela.

Há cerca de duas semanas, a família foi em um parquinho de eletrônicos em um shopping, em Bragança Paulista. “Ele estava em um brinquedo que gira e queríamos saber se ele queria ir de novo ou se queria sair. Foi quando eu perguntei se ele queria ‘mais’. E ele apontou na tatuagem M-A-I-S.”, conta.

Os pais gravaram a interação e postaram na rede. Desde a última atualização desta reportagem, a publicação já tinha mais de 5,8 milhões de visualizações.

Veja o vídeo abaixo:

 

Mais do que ajudar pais de autista

Desde então, a família já apareceu em diversos jornais nacionais e, até mesmo, internacionais.

“Fiquei muito feliz de ver a grandiosidade da repercussão, de ver quanta comoção o tema autismo pode gerar. Hoje as maiores dificuldades das familias de autistas, no dia a dia da sociedade, são por falta de informação. Então, quanto mais falarmos sobre autismo, mais informação geramos para conscientização das pessoas”, celebra Annie.

Luciano Risi, responsável pelo alfabeto eternizado nos pais de Felipe diz que, inicialmente, não tinha ideia do que se tratava o desenho escolhido e, principalmente, o que a tatuagem representaria.

Tatuador há 10 anos, ele conta que já fez algumas artes com utilidades à saúde, como identificação de pessoas diabéticas, tipo sanguíneo e alergias, mas que, dessa vez, “o resultado transcendeu.”

“Me tocou de uma forma especial saber que contribuí para a comunicação do Felipe. A tatuagem é muito mais que um ‘desenho’, neste caso, ela se tornou uma ferramenta para a rotina, uma possibilidade de expressão entre pais e filhos”, celebra o tatuador.

“Longo caminho de trabalho e descobertas”

“O que vocês veem hoje é uma ‘fotografia’ de um momento de desenvolvimento do Felipe, mas existe um trabalho anterior de observação, estudo e compreensão dessa criança. Felipe, a família e os profissionais, já percorreram um longo caminho de trabalho e descobertas”, explica Márcia Tuon, psicóloga de Felipe há cerca de 4 anos.

A profissional explica que o garoto sempre apresentou hiperfoco em letras, uma preferência comum entre crianças autistas.

Porém, foi observado que, apesar de Felipe ter a intenção e o que queria escrever, ele falhava no planejamento motor, “como se o ‘corpinho’ não respondesse a ação que ele gostaria de realizar”.

“Foi então que as pranchas de alfabeto entraram e ajudaram muito, pois o apontar é muito mais rápido e eficaz para o Felipe”, afirma Márcia.

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Felipe tem uma irmã de 4 anos, que se chama Isabela. Ela também é autista, mas está dentro do nível 1 de suporte
Annie e Rafael com os filhos Felipe, de 7 anos, e Isabela, de 4
Felipe tem um cão de serviço chamado Billy
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O melhor amigo de Felipe, Gabriel, escreveu o alfabeto no braço com canetinha para que eles conseguissem se comunicar

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Felipe tem uma irmã de 4 anos, que se chama Isabela. Ela também é autista, mas está dentro do nível 1 de suporte

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Annie e Rafael com os filhos Felipe, de 7 anos, e Isabela, de 4

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Felipe tem um cão de serviço chamado Billy

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“Eu, como psicóloga, observo que o pilar fundamental do desenvolvimento é a postura atitudinal que adotamos com o Felipe de ‘presumir competência’, acreditar que ele é capaz de aprender e compreender. Essa atitude, principalmente vinda dos pais, tem um poder transformador”, finaliza a profissional.

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