metropoles.com

Painel gigante feito com cinzas das queimadas homenageia brigadistas do Brasil

Pintura de 46 metros de altura em SP tem rosto de brigadista voluntário da Chapada dos Veadeiros (GO) e faz releitura da obra de Portinari

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Fábio Vieira/Metrópoles
pintura feita com cinzas das queimadas homenageia brigadistas do Brasil em São Paulo
1 de 1 pintura feita com cinzas das queimadas homenageia brigadistas do Brasil em São Paulo - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Um painel gigante de 46 metros de altura foi concluído nesta segunda-feira (18/10) em São Paulo e pretende chamar a atenção de todos para o poder de destruição do fogo e da devastação nos principais biomas brasileiros. O personagem usado na releitura do artista Mundano da obra O Lavrador de Café, de Candido Portinari, é um brigadista que atua na Chapada dos Veadeiros, no nordeste de Goiás.

A dimensão de mais de 1 mil metros quadrados da lateral de um prédio no Centro da capital paulista foi toda preenchida por uma tinta especial, feita a partir do pigmento das cinzas recolhidas diretamente nos locais atingidos por incêndios florestais, este ano.

3 imagens
Painel foi todo pintado com uma tinta feita a partir das cinzas coletadas nos biomas atingidos por incêndios este ano, no Brasil
Artista idealizador e autor da obra é conhecido como Mundano. Ele se define "artivista"
1 de 3

Painel fica no Centro de São Paulo, na passarela da Rua 25 de Março com a Rua Capitão Jerônimo Leitão

Fábio Vieira/Metrópoles
2 de 3

Painel foi todo pintado com uma tinta feita a partir das cinzas coletadas nos biomas atingidos por incêndios este ano, no Brasil

Fábio Vieira/Metrópoles
3 de 3

Artista idealizador e autor da obra é conhecido como Mundano. Ele se define "artivista"

Fábio Vieira/Metrópoles

O autor da obra – que se define, na verdade, como artivista -, Mundano, fez uma expedição e percorreu mais de 10 mil quilômetros pelo país para coletar as cinzas no Cerrado, no Pantanal, na Mata Atlântica e na floresta Amazônica.

Ele é o idealizador do projeto Cinzas da Floresta, uma ação multimídia, que, além da expedição e do painel, cujo nome é “Brigadista da Floresta”, prevê, ainda, o lançamento de um documentário sobre o tema.

Releitura da obra de Portinari

O desenho não é um desenho qualquer. Mundano escolheu os brigadistas que atuam na linha de frente do combate ao fogo nas florestas e parques nacionais para serem os grandes homenageados.

Para retratá-los como os grandes operários dessa luta, que exige esforço, disposição, noites em claro e muita força de vontade para uma legião de brigadistas que atuam voluntariamente e em condições precárias, ele escolheu a famosa pintura O Lavrador de Café, de 1934, do pintor Candido Portinari para servir como base para uma releitura.

Mundano faz uma adaptação da pintura, hoje exposta no Museu de Arte de São Paulo (MASP), e no lugar do lavrador ele coloca a imagem de um brigadista em seu cenário de atuação: uma área atingida pelo fogo, com árvores queimadas, animais mortos e alguns símbolos que remetem à causa e autoria dos incêndios.

“É um grito por socorro. As nossas florestas estão virando cinza e a gente está normalizando tudo isso”, diz Mundano.

3 imagens
Detalhes do painel
Rosto do brigadista retratado na pintura
1 de 3

Painel é uma releitura do quadro O Lavrador de Café (1934), de Cândido Portinari

Reprodução
2 de 3

Detalhes do painel

Fábio Vieira/Metrópoles
3 de 3

Rosto do brigadista retratado na pintura

Fábio Vieira/Metrópoles
Rosto é de brigadista da Chapada dos Veadeiros

Um dos locais visitados pelo artista para recolher cinzas foi a Chapada dos Veadeiros, que sofreu mais um ano com os incêndios no período de estiagem dos últimos meses. Ele esteve em Alto Paraíso de Goiás em agosto deste ano, onde conheceu os brigadistas voluntários que atuam na região.

Um deles, sem saber, fez a foto que foi escolhida e serviu de inspiração para ser o rosto do brigadista retratado no painel. O brigadista voluntário da Brigada Voluntária de São Jorge (BSVJ), Vinícius Curva de Vento, de 36 anos, foi fotografado por Mundano, numa pose semelhante ao lavrador de Portinari.

Vinícius não sabia o motivo da foto, tampouco imaginava que pudesse ser ele o escolhido para dar rosto a todos os brigadistas do Brasil na arte de Mundano. Ele foi convidado pelo artista e viajou até São Paulo nesse domingo (17/10) para ver de perto o resultado da pintura.

A reação foi de emoção. “Ali tem Amazônia, ali é Mata Atlântica, ali é um tanto de Cerrado… Isso aí não é tinta não, cara. Isso aí é vida”, declarou, enquanto olhava para o gigantismo do painel a sua frente.

3 imagens
Rosto de Vinícius foi escolhido para representar todos os brigadistas do Brasil
Uma nova cena na paisagem paulistana
1 de 3

Foto feita por Mundano, em agosto, do brigadista da Chapada dos Veadeiros, Vinícius Curva de Vento, de 36 anos

Fábio Vieira/Metrópoles
2 de 3

Rosto de Vinícius foi escolhido para representar todos os brigadistas do Brasil

Fábio Vieira/Metrópoles
3 de 3

Uma nova cena na paisagem paulistana

Fábio Vieira/Metrópoles
Surpresa e emoção

Ao Metrópoles, Vinícius disse que foi pego de surpresa com a homenagem. Ele mora na Vila de São Jorge, em Alto Paraíso de Goiás, numa barraca improvisada. “Na minha casa, não tem nem eletricidade”, conta.

Apesar disso e das condições precárias e arriscadas de trabalho, ele e os mais de 20 companheiros de brigada voluntária seguem firmes no propósito de salvarem o que resta de Cerrado nativo das investidas da devastação.

“Meu irmão, que coisa forte! Quando eu cheguei lá (no local do painel), eu vi que eu estou representando os brigadistas do Brasil. Na verdade, não sou eu. É só a minha cara, mas não sou eu. Aquilo lá são os brigadistas do Brasil todo. É muito forte. Eu estou trazendo todos esses guerreiros comigo na bagagem”, diz ele.

Veja:

Diante da obra e sabendo que tudo foi pintado com o pigmento das cinzas das queimadas, foi inevitável a reflexão: “Aquilo não devia estar na parede, devia estar no chão, mas é o resultado do que acontece. Eu fico muito feliz pela visibilidade que está trazendo para os brigadistas, mas o que está ali é uma coisa muito séria”.

Agressividade do fogo e o amanhã ameaçado

A cada ano, segundo Vinícius, eles sentem na pele a dificuldade de controlar e apagar os incêndios, cada vez mais agressivos e acirrados, em razão do aumento da temperatura e da mudança climática.

Ao tocar a pintura com as mãos, Vinícius se emocionou: “eu estou ainda digerindo o que está acontecendo”.

E continuou: “Essa tinta grita. Essa tinta queima. Essa tinta pede, implora. Escutem, pelo amor de Deus, pelo o que é mais sagrado. Não percamos mais tempo. É muito sério. Nunca foi tão sério. Acabou o tempo da brincadeira. Se não, não vai ter amanhã”.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?