Pai encontra lista de desejos escrita por Kathlen: “Cuidar do bebê!”
Luciano Gonçalves fala sobre as lembranças de sua filha, morta por tiro de fuzil no RJ. Ele vai acompanhar reconstituição do crime
atualizado
Compartilhar notícia
Rio de Janeiro – Nos últimos dias, Luciano Gonçalves, de 43 anos, revirou papéis em sua casa em busca de documentos de sua filha para entregar ao Ministério Público do Rio.
Ele é o pai de Kathlen Romeu, de 24 anos, a designer morta por um disparo de fuzil, que atingiu seu tórax, durante uma ação policial no bairro de Lins de Vasconcelos, na zona norte do Rio, no último dia 8 de junho.
Ao remexer gavetas e armários, ele encontrou um pedaço de papel com uma lista escrita por Kathlen que enumera sonhos realizados e metas a cumprir. Entre as conquistas lembradas pela filha, Luciano menciona: “a compra do apartamento próprio e a formação como designer”.
Kathlen estava grávida de 14 semanas, pouco mais de três meses de gestação. Em entrevista ao Metrópoles, ele cita os objetivos de vida lembrados pela filha no papel: “Terminar de pagar o apartamento. Tira a carteira de motorista. Cuidar do bebê. Comprar uma casa para a avó.”
Sayonara Fátima estava ao lado da neta Kathlen no momento da tragédia. Presenciou os últimos instantes da jovem após ser atingida pelo tiro numa rua do bairro carioca. Na próxima quarta-feira (14/7), a Polícia do Rio vai tentar reconstituir justamente como foi a morte de Kathlen em uma reprodução simulada na cena do crime.
Luciano Gonçalves pretende assistir a tudo de perto. Quer entender o que aconteceu, enquanto precisa lidar ao mesmo tempo com as lembranças da filha. Ele fala com amargura sobre o que faltou ser dito. Kathlen morreu numa terça-feira.
No sábado, ele planejava encontrá-la para revelar uma surpresa: havia conseguiu um novo emprego para a filha, dessa vez, na função de designer de interiores como ela almejava. “Queria contar pessoalmente e por isso não falei antes. Ficou para depois e não deu tempo”, lamenta Gonçalves, que trabalha como personal trainer em academias da zona sul carioca.
Até ali, Kathlen trabalhava como vendedora da loja de Ipanema da grife Farm. Nesse primeiro emprego, onde ela estava há seis anos, também contou com a ajuda do pai que conseguiu a indicação para a entrevista para vaga.
Por trabalhar perto da filha, em uma academia localizada em Ipanema, Luciano sempre arrumava tempo para encontrar a filha no almoço ou mesmo numa parada rápida para um açaí.
Ele cita ainda que queria ver a filha estudando inglês. “Eram muitos planos. Desde que soube que ela estava grávida, toda quinta-feira, eu passava na loja com flores para ela”.
Kathlen ainda morava com pais, embora passe muito tempo com o namorado, o tatuador e pai do bebê, Marcelo Ramos. O quarto da jovem ainda está intacto. “Tem horas, que parece que ela vai abrir a porta. Acho que ainda estamos na fase do luto de negação. Estávamos vivendo o melhor momento da nossa vida”, afirmou.
Luta por Justiça
A Delegacia de Homicídios investiga de onde partiu o tiro que atingiu Kathlen. As 21 armas usadas por policiais foram apreendidas. Dois policiais militares que estavam na ação admitiram ter feito sete disparos.
“Está tudo em segredo de Justiça. Acho que a verdade vai vir à tona. Mas nada vai trazer minha filha de volta. Quando criança, ensinei minha filha a não matar nem uma formiguinha. Ser honesta, uma pessoa de bem. Aí a vida te decepciona. Não foi só a minha filha que se foi, a vida da minha família acabou”.