Pai de João Beto: “Queria que educação pela igualdade começasse na escola”
João Batista Rodrigues Freitas, 65 anos, enterrou o filho neste sábado. A vítima foi espancada até a morte em uma unidade do Carrefour
atualizado
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Porto Alegre – Dezenas de pessoas – entre amigos, familiares e militantes de movimentos negros – acompanharam o velório e o sepultamento de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, na manhã deste sábado (21/11), no Cemitério Municipal São João, na zona norte de Porto Alegre.
Em nome dos familiares, o pai da vítima, João Batista Rodrigues Freitas, 65, lamentou a morte brutal do filho. “Eu gostaria que o estopim para que as pessoas se dessem conta da existência do racismo não fosse o fim de uma vida. Queria que a educação pela igualdade começasse pelos bancos escolares. Mas já que aconteceu com o meu filho que sirva de exemplo. Se não podemos banir o racismo, que possamos ao menos reduzi-lo”, disse.
Um desentendimento com funcionários do Carrefour teria motivado as agressões sofridas por João Alberto. Dois seguranças foram presos em flagrante. A vítima foi atacada com vários socos e golpes, registrados em vídeos por pessoas que assistiam à cena de terror.
Um laudo preliminar do Instituto Geral de Perícias apontou asfixia como provável causa da morte. Os dois seguranças foram autuados em flagrante e, segundo a Polícia Civil, serão indiciados por homicídio triplamente qualificado.
“Racismo estrutural”
Em entrevista ao Metrópoles, a chefe da Polícia Civil (PCRS) do Rio Grande do Sul, delegada Nadine Anflor, afirmou que “é evidente a existência de racismo estrutural na nossa sociedade; agora, para isso se transformar em crime, eu preciso de provas”.
A titular da PC gaúcha garantiu que, caso a investigação aponte para racismo como motivação do assassinato de João Beto, o homicídio será qualificado por “motivo torpe”.
“Agora eu não posso dizer nem que há nem que não há (racismo), porque não tenho esses elementos. Se ao final eu tiver esses elementos, vou indiciar por motivo torpe. Se eu conseguir identificar que ele foi agredido pelo fato de ser negro”, pontuou a investigadora.
PM temporário
Os dois seguranças – um deles policial militar temporário, em contrato de emergência na Brigada Militar gaúcha – foram filmados espancando João Beto com socos e chutes repetidos. Ambos ouviram reiterados apelos para que o soltassem, inclusive da esposa da vítima, que o acompanhava no mercado para comprar pão.
Há três meses, antes da atitude brutal de seguranças da rede Carrefour, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) tinha decidido, por unanimidade, declarar inconstitucional a lei estadual gaúcha que criou a figura do policial militar temporário. Um dos acusados de assassinar João Beto ocupa esse cargo.
O comandante-geral da Brigada Militar do RS, coronel Rodrigo Mohr Picon, confirmou que Giovane Gaspar da Silva, um dos seguranças que espancou João Beto até a morte no hipermercado Carrefour em Porto Alegre, é PM temporário e não tem treinamento policial.