Padre Robson diz que ex-diretor da Afipe tentou extorqui-lo em R$ 4 mi
Em áudio de reunião com advogado, o religioso critica trabalho do ex-diretor da Afipe e diz que se o homem morresse seria uma benção
atualizado
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Goiânia – Em áudio gravado durante uma reunião com advogado, o Padre Robson de Oliveira afirma se sentir extorquido pelo, até então, diretor jurídico da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), Anderson Reiner. Na gravação, feita pelo próprio padre e da qual não foi divulgada a data, o religioso diz que estaria sendo cobrado em R$ 4 milhões por Reiner, relativos a uma promessa feita em porteira de fazenda e até tratamentos estéticos. A gravação tem quase 1h30 de duração.
Os áudios foram encontrados durante a Operação Vendilhões, que apurou a suspeita de desvio milionário de dinheiro na Afipe em agosto de 2020. As investigações contra o padre foram trancadas pelo Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) em dezembro do ano passado, no entanto, uma reportagem do Fantástico, da Rede Globo, exibida no último domingo (21/2), apontam novas provas que devem ser levadas em consideração.
De acordo com a investigação suspensa, o dinheiro desviado seria das doações dos fiéis à obra da única basílica no mundo dedicada ao Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), na região metropolitana de Goiânia. O padre seria o comandante de uma organização criminosa que transferia grandes valores para empresas, com o objetivo de utilizar o dinheiro das entidades religiosas por ele, como seu, sem prestar contas nem se submeter às regras associativas.
Áudios
Entre as conversas gravadas pelo Padre Robson de Oliveira, encontradas no celular do religioso, e divulgadas pelo G1, está o encontro com o advogado Luiz Inácio Medeiros Barbosa. No áudio, os dois conversam sobre a venda de uma fazenda e o sacerdote explica que havia falado a Reiner sobre outros trabalhos que poderiam gerar ganhos e uma espécie de aposentadoria e que o ex-diretor, não teria entendido corretamente.
“Querendo receber R$ 4 milhões por esse serviço de merda aqui”, diz o padre sobre a cobrança de Reiner, dizendo que o ex-diretor tentava extorqui-lo por promessas verbais de ganhos financeiros. “Ele só entendeu a parte que cabia”, conclui o religioso.
Na conversa, o Padre Robson faz diversas críticas ao ex-diretor jurídico da Afipe, diz que ele cometia muitos erros na condução da entidade e declara o desejo de afastá-lo do cargo para evitar mais problemas. Ainda na reunião, conforme o áudio, o religioso mostra uma lista de valores que seria cobrada por Reiner, considerando o recolhimento uma extorsão.
“Descrição de valores, Anderson versus Afipe, em função do mandato de promessa compromisso verbal entre o padre Robson e eu. R$ 560 mil do apartamento [onde Anderson mora] que eu tenho que dar para ele. Isso aqui é extorsão, doutor. R$ 300 mil do acompanhamento da execução da [inaudível], sendo que ele era pago para isso, mas ele tem que ganhar R$ 300 mil, porque diz que eu prometi”, diz o sacerdote.
“R$ 3 milhões em aposentadoria privada prometida na porteira do Parque das Águas, fazenda em Abadiânia que era de propriedade da Afipe […]. R$ 140 mil de prêmio em tratamentos estéticos e outros relacionados à saúde pelo desgaste em função do mandato. […] R$ 4,1 milhões, pois foi me dito pelo padre Robson que se eu resolvesse a vida dele, ele resolveria a minha, executando o que me prometeu”, continua o padre na leitura do documento para o advogado.
“Isso aqui é um documento que eu mando ele para a cadeia se eu quiser. Hora que eu quiser usar, eu uso”, completa o padre.
Na continuação da conversa, o padre afirma que não vai bancar uma vida confortável a Reiner e que ele não teria mais condições de continuar no cargo. O advogado demonstra preocupação com a situação e questiona o que fazer com o diretor jurídico. Na resposta, o religioso afirma: “se você pudesse matar ele para mim, eu ia achar uma bênção. Acaba com esse cara, bicho. Isso aí só vai atrapalhar nossa vida. Para mim, até hoje, foi um atraso. Com o que um cara desse escreve e assina uma extorsão, doutor?”, diz o sacerdote.
Até o momento, a assessoria de imprensa da Afipe tem dito que as mensagens divulgadas pelas reportagens são montagens e que desconhece os fatos, bem como afirma que o Padre Robson não tem contato com a nova diretoria da entidade. Já Luiz Medeiros, disse, por meio de nota, que atuou como advogado consultivo da Afipe e que o trabalho “sempre foi lícito e transparente”.
O advogado também afirma que os áudios divulgados foram montados por hackers que extorquiam o padre Robson. Ele se coloca à disposição das autoridades para esclarecimentos.
Comprovação
Apesar das acusações de montagem, de acordo com os investigadores, todas as gravações passaram por perícia técnica, que comprovou serem do padre Robson. Os áudios estavam em HDs, computadores e no celular do religioso, apreendidos no ano passado.
Em outros trechos de conversas, o sacerdote fala sobre o suposto pagamento de propina para desembargadores para conseguir decisões favoráveis no TJGO, em relação à negociação de uma fazenda. O Tribunal declarou que não tem conhecimento dos áudios e não foram usado os meios próprios para levar ao judiciário os indícios de eventual conduta inadequada de magistrados.
O Ministério Público Federal (MPF) encaminhou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) nesta terça-feira (23/2) um pedido de abertura de investigação sobre o caso. O pedido de abertura da apuração preliminar partiu da subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo.