Padre Robson: defesa pede ao STJ acesso a caso sobre suposta propina
Áudio de conversa entre pároco e advogado cita pagamento de propina de R$ 1,5 milhão a desembargadores do Tribunal de Justiça de Goiás
atualizado
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Goiânia – A defesa do padre Robson de Oliveira Pereira, réu no escândalo de suposto desvio de dinheiro de doações de fiéis em Goiás, aguarda autorização para ter acesso a detalhes do inquérito instaurado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra desembargadores do Judiciário goiano. Eles são suspeitos de terem recebido propina de R$ 1,5 milhão para favorecer o pároco.
Ao Metrópoles, o STJ informou que o procedimento tramita em segredo de Justiça. A assessoria de imprensa da corte superior informou que não tem acesso aos autos nem autorização para passar informações.
O advogado criminalista Pedro Paulo Guerra de Medeiros, que defende o padre em ações criminais, disse que ainda não teve respostas da corte superior aos pedidos. “Estamos tentando ter acesso aos autos dos inquéritos no STJ. Já peticionamos, dizendo que nunca houve qualquer irregularidade, colocando-nos à disposição do Judiciário”, afirmou.
Dossiê de provas
Na última semana, o Judiciário goiano terminou de remeter ao STJ os processos criminais e o dossiê de provas contra o religioso, com centenas de interceptações telefônicas, áudios e mensagens de Whatsapp, para um novo pente-fino neles. A juíza Placidina Pires coordenou o envio de todo o material da Operação Vendilhões, deflagrada em agosto de 2020 pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO).
Também foram enviados áudios de conversa do padre com o advogado Cláudio Pinho, flagrado em gravação dizendo que havia necessidade de pagamento aos magistrados para que decidissem a favor do pároco no caso de compra de fazenda.
O portal não obteve retorno às ligações ao celular de Pinho. Ele é investigado pela Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OABGO).
Ouça trecho da conversa:
“Absurdo”
O criminalista Pedro Paulo Medeiros apontou suposta fraude nos áudios, apesar de terem sido submetidos a perícia que comprovou a veracidade deles. “Os áudios, referindo-se aos desembargadores, são montagem e mentira. Não havia necessidade de praticar um absurdo como esse numa mera discussão de uma fazenda”, afirmou o advogado.
Em julgamento de ação cível no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), votaram a favor do padre os desembargadores Orloff Neves Rocha e Amélia Martins de Araújo, além do juiz substituto em segundo grau Roberto Horácio de Rezende.
Ao contrário do advogado cível, o criminalista não foi citado nos áudios divulgados pelo Fantástico, no dia 21/2. Medeiros disse que não viu nem o teor oficial da reação da Procuradoria Geral da República (PGR), que, dois dias depois, enviou representação ao STJ para investigar os magistrados por suposto recebimento de propina.
“Pedimos acesso à referida investigação, mas, até agora, não foi deferido o acesso. Não vi nem o teor da representação da PGR, mas, a despeito disso, a defesa já peticionou dizendo que não houve irregularidade”, disse o criminalista.
Até então, a corte superior tinha poder de definir apenas o andamento de ação criminal contra o padre, já que ainda deve julgar recurso para manter trancada ou liberar esse processo, travado por liminar do próprio STJ desde dezembro.
Repercussão nacional
No entanto, com a repercussão nacional do suposto pagamento de propina, o STJ chamou para si a responsabilidade de reavaliar todos os processos e, em caso de comprovação de qualquer irregularidade, julgar todas as denúncias. Isso ocorrerá se for retirado do TJGO o poder de definir os rumos das ações judiciais, de forma definitiva.
Um dia depois de a PGR pedir ao STJ que investigasse os magistrados do Judiciário goiano, o presidente do TJGO, desembargador Carlos Alberto França, instaurou, em 24 de fevereiro, sindicância contra os magistrados suspeitos de recebimento de propina milionária.
Em 2019, em julgamento de recurso na 1ª Câmara Cível do TJGO, o padre conseguiu reverter uma sentença desfavorável à Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), presidida por ele até ser deflagrada a Operação vendilhões.
Os desembargadores reformaram decisão até então favorável a um empresário que vendeu uma grande fazenda para a associação, em Goiás, mas que, em seguida, reclamou de ter levado calote de R$ 15 milhões.
Outro lado
Em nota, a diretoria da Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego) informou que o encaminhamento da investigação ao STJ é procedimento natural, já que a corte é o órgão competente.
A Asmego disse, ainda, que a abertura de sindicância dentro do próprio Tribunal de Justiça de Goiás demonstra que a instituição busca a clareza dos fatos, de forma ágil, transparente e ética.
O TJGO informou que o andamento da sindicância é sigiloso, e, por isso, não deu mais detalhes da investigação contra os desembargadores. Eles não retornaram ao pedido de respostas do portal.
A reportagem tentou contato com promotores de Justiça responsáveis pela Operação Vendilhões, mas não obteve respostas até a conclusão desta reportagem.
Em agosto, logo após ser deflagrada a operação, o padre divulgou vídeo em seu Instagram para se defender. Na publicação, há comentários contrários e favoráveis a ele.
Veja abaixo:
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