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Padre Júlio para Janaina: corrupção, e não alimento, mantém a Cracolândia

Deputada estadual declarou, neste domingo (8/8), que dar alimentos para viciados “só ajuda o crime”

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Reprodução/Facebook de Julio Lancelotti
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1 de 1 padre-lancelotti-final - Foto: Reprodução/Facebook de Julio Lancelotti

“Alimentar aquelas pessoas na Cracolândia é uma questão humanitária. Não seria matá-los de fome que resolveria o problema”. Foi assim que o padre Júlio Lancellotti respondeu aos comentários da deputada estadual Janaina Paschoal (PSL).

Em suas redes sociais, a parlamentar criticou o religioso por distribuir alimentos na Cracolândia. “As pessoas que moram e trabalham naquela região já não aguentam mais. O Padre e os voluntários ajudariam se convencessem seus assistidos a se tratarem e irem para os abrigos”, escreveu. “A distribuição de alimentos na Cracolândia só ajuda o crime. O tema precisa ser debatido com honestidade”, disse.

Depois de ser criticada pelos comentários, ela rebateu. “Se você tivesse um parente se matando com drogas na Cracolândia, o que preferiria, alguém que o alimentasse ali, possibilitando sua permanência no vício? Ou alguém que estimulasse a sair daquela situação?”.

Janaina ainda declarou que as marmitas são jogadas na rua e propôs uma “reflexão”.

Em conversa neste domingo com a coluna, o padre Lancellotti explicou que, além de ser uma questão humanitária, a partilha de alimentos tem um outro objetivo: “Estabelecer vínculos com os usuários”. “O alimento não é o fim. É a forma de estar próximos e buscar saídas”, afirmou.

Ele relatou que as pessoas que fazem esse trabalho sentam à mesma mesa com os usuários de drogas para criar uma confiança. “É um processo longo e difícil. O nosso desafio não é transformar os irmãos. Mas amá-los”, disse. “Eles não serão transformados pela força do fuzil e das carabinas. Serão transformados pela humanização da vida”, defendeu.

O padre afirma que a forma como é tratada a Cracolândia é limitada, pois o debate é superficial. “Essa frase de que distribuir alimentos é favorecer o crime é um exemplo disso. Qual é o favorecimento? O favorecimento do crime é a corrupção. Não o alimento”, insistiu.

Segundo ele, frases como essa ditas pela deputada mais servem para atender a um público que pensa que o trabalho é “dar alimento para vagabundo”. “O fenômeno humano e a complexidade das pessoas ali é muito maior que se pode imaginar. Eu conheço essas pessoas sabemos dos dramas que essas pessoas têm. Não é a crueldade de negar o alimento que o transforma. Mas a capacidade de comer com ele e partilhar a vida”, defendeu. “Amar não é dizer para eles que estão certos. É caminhar com eles na busca da transformação”, disse.

“As mais de 30 Cracolândias que existem por São Paulo apenas vão desaparecer quando a corrupção acabar e essas pessoas tiverem acesso a vários aspectos que lhes foram negados”, retrucou o padre. “Não é o alimento que mantém a Cracolândia. Mas a corrupção”.

Lancellotti diz estar de acordo com o comentário da deputada sobre a necessidade de uma reflexão. Mas alerta que o debate é outro: “Uma coisa que ela propõe, que é a boa, é a reflexão. E nós estamos abertos a isso, novamente. Nós já fizemos essa reflexão com inúmeros governos”.

O padre afirma estar disposto a acolher a deputada para que ela visite os locais e as igrejas que atuam na região. Ele também quer apresentar à parlamentar as pessoas que conseguiram sair da Cracolândia. “Há até mesmo um padre que era usuário da Cracolândia”, disse.

O religioso ainda lembra do caso de um médico italiano que passou a ser um morador da região, além de enfermeiras e outras profissões. “São vários governos que já anunciaram o fim da Cracolândia. Há uma coleção. Todos já anunciaram o fim da Cracolândia e ela não deixou de existir. E nós fizemos com todos os governos reflexões sobre a questão”, afirmou.

Ele ainda explicou que o alimento que é partilhado com os usuários é preparados por igrejas e associações que já conseguiram retirar centenas de pessoas da Cracolândia. Algumas, segundo ele, já retiraram 2 mil pessoas. “A questão não é tirar, mas quem coloca as pessoas lá. É enxugar o chão com a torneira aberta”, completou. O religioso espera que a “reflexão” proposta pela deputada “ajude a cobrar do estado e das autoridades que se esclareça como é que o crime organizado funciona”.

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