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Paciente de Covid-19: “Difícil foi a perspectiva de ficar mudo ou morrer”

Primeiro doente grave de coronavírus no Rio, médico Edison Souza, de 65 anos, conta sua luta pela vida em uma UTI

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Primeiro paciente a desenvolver a forma grave da covid-19 no Rio, o médico nefrologista Edison Régio de Moraes Souza, de 65 anos, recebeu alta no Hospital Quinta D’Or no sábado (18/04), após passar 35 dias internado – quase metade do período sob sedação. Professor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e médico no Hospital Pedro Ernesto, ele relata momentos angustiantes do tratamento. “O mais difícil foi a perspectiva de ficar mudo ou de morrer”, disse.

“Sou médico, vou ao hospital todos os dias e também dou aula para alunos do 4º ano (de Medicina). Muitos alunos e pacientes são assintomáticos, é díficil saber onde contraí a covid. Comecei a ter coriza numa segunda-feira, e na quarta fui fazer exame de sangue e raio x. Apareceram duas imagens muito alarmantes, tanto do pulmão direito quanto do esquerdo. Não condiziam com nenhum exame de sangue que eu tinha feito, nem com o que estava sentindo. O médico que me atendeu então considerou que era possível reverter com medicação, e me mandou para casa.

Voltei para casa, mas não me convenci e, no mesmo dia, retornei ao hospital. Atuo na minha área há 42 anos, então nos hospitais encontro muita gente com que já tive contato, com ex-alunos, colegas. Conversei com alguns deles e decidimos fazer uma tomografia. Aí vimos que a situação era séria.

Fui internado numa unidade e daí não lembro de mais nada. Fiquei totalmente apagado e acordei 15 ou 20 dias depois. Claro que foi um susto. Comecei a constatar o que estava acontecendo comigo. Eu estava fazendo hemodiálise, meu rim estava parado. Estava traqueostomizado, com um respirador. Fiquei com medo de ficar mudo, porque foram quatro ou cinco dias sem que conseguisse falar. Minha comunicação era feita com as mãos.

Nesse período, o mais difícil foi a perspectiva de ficar mudo ou morrer. Eu não queria morrer. O que eu queria era que alguma coisa acontecesse para me tirar daquela situação terrível. Eu estava isolado. Às oito horas da noite, me davam a última medicação e eu ficava olhando para o teto até as oito da manhã do dia seguinte. A primeira pessoa que ia falar comigo era uma dádiva, e eu sempre ficava na expectativa de ter uma notícia melhor. Fiquei 35 dias internado. Agora estou na casa da minha irmã. Fico num quarto, ela e meu filho cuidam de mim. Vou ficar isolado por enquanto, porque ninguém pode dizer se sou contaminante ou não”.

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