Organizações indígenas repudiam fala do governador de RR: “Desumano”
MPF abriu inquérito contra Antonio Denarium por falas com “potencial discriminatório” em entrevista sobre o caso dos indígenas Yanomamis
atualizado
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Movimentos sociais e organizações indígenas de Roraima divulgaram uma nota, nesta terça-feira (31/1), em que repudiam o “posicionamento na fala desumana e leviana” do governador do estado, Antônio Denarium (PP), sobre o povo Yanomami. O chefe do executivo estadual negou o quadro grave de desnutrição no território e afirmou que as comunidades “têm que se aculturar”.
A população que vive na Terra Indígena Yanomami (TIY), em Roraima, enfrenta uma tragédia humanitária, ocasionada por uma grave crise de saúde, com inúmeros registros de desnutrição e malária. Nos últimos dias, pelo menos mil indígenas da etnia foram resgatados para atendimento médico emergencial.
“Os comentários são extremamente racistas, preconceituosos e desumanos, além de ser uma falta de respeito e sensibilidade neste momento em que várias vítimas Yanomami estão morrendo por malária, desnutrição aguda entre outras doenças que poderiam ter sido evitadas”, diz a nota, assinada por 60 organizações.
O posicionamento do governador do estado de Roraima ocorreu durante entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, publicada nessa segunda-feira (30/1) Na ocasião, Denarium afirmou que: “Eles [indígenas] têm que se aculturar, não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho”.
Responsabilidade
No documento, as organizações indígenas destacam que, diante da crise humanitária que ocasionou a morte de 570 crianças de diversas comunidades impactadas diretamente pela prática de garimpo ilegal, Denarium sancionou duas leis de apoio ao garimpo no estado, em meio à piora do quadro de saúde dos Yanomami, portanto, seria “responsável” pela tragédia.
“O governador Denarium, assim como o ex-presidente Jair Bolsonaro, viola a Constituição Federal Brasileira e os direitos humanos quando não fez e não faz nada para impedir a invasão massiva de garimpeiros, muitos apoiados por uma rede de empresários locais e nacionais, ao contrário, só estimulou esse crime durante todo o seu primeiro mandato.
O Conselho Indígena de Roraima (CIR) e a Hutukara Associação Yanomami (HAY), também se posicionaram, ainda na segunda-feira (30), denunciando a fala do governador do estado.
Veja a nota na íntegra:
“Nós, das pastorais e dos movimentos sociais de Roraima, repudiamos o posicionamento na fala desumana e leviana do governador Antônio Denarium (PP), sobre o povo Yanomami, alegando que não existe desnutrição e que “…Eles têm que se aculturar, não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho”. Diante da crise humanitária, levando a morte de 570 crianças de diversas comunidades impactadas diretamente pela prática de garimpo ilegal, Denarium sancionou duas leis em apoio ao garimpo em Roraima, em meio ao avanço na piora da saúde Yanomami, portanto, é responsável por essa crise humanitária. É responsável pelo genocídio Yanomami!
Os comentários, publicados em uma matéria de repercussão nacional, são extremamente racistas, preconceituosos e desumanos diante da tal situação e isso mostra um total desconhecimento por parte do governador da realidade dos povos indígenas em Roraima, sobretudo, os Yanomami. É uma falta de respeito e sensibilidade neste momento em que várias vítimas Yanomami estão morrendo por malária, desnutrição aguda entre outras doenças que poderiam ter sido evitadas. Os dados de várias entidades, como Fiocruz e ISA, apontam que as práticas ilegais do garimpo estão associadas a alto índice de malária na TI Yanomami.
O governador Denarium, assim como o ex-presidente Jair Bolsonaro, viola a Constituição Federal Brasileira e os direitos humanos quando não fez e não faz nada para impedir a invasão massiva de garimpeiros, muitos apoiados por uma rede de empresários locais e nacionais, ao contrário, só estimulou esse crime durante todo o seu primeiro mandato.
Exigimos que o governador de Roraima seja punido, conforme a lei, diante de tal ameaça ao povo Yanomami, pelo crime de genocídio”.