“Ordens do patrão”, diz Lessa a Suel sobre traficante que tentou barrar “gatonet”
Conversas entre Ronnie Lessa e Maxwell Corrêa mostram que a dupla cogitou dar “um agrado” ao traficante para continuar atuando na região
atualizado
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Conversas interceptadas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal (PF) entre o ex-policial reformado Ronnie Lessa e o ex-bombeiro Maxwell Corrêa, o Suel, mostram a dupla tratando algumas ameaças de um traficante contra o esquema de “gatonet”, gerenciado por Suel no bairro de Rocha Miranda, zona norte do Rio de Janeiro.
O “gatonet”, exploração de sinal clandestino de TV e internet, foi revelado por uma investigação coordenada por PF e MP, após delação premiada do ex-policial militar Élcio de Queiroz.
A dupla foi presa pela participação no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, além da tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora da parlamentar. Lessa está preso desde 2019, e Maxwell Corrêa foi detido em 24 de julho deste ano.
Nos diálogos interceptados, Suel explica a Lessa que um funcionário informou que um traficante exigia dinheiro para permitir o esquema na região. “Se a gente não conseguir falar com o cara, vai perder lá no alto [da favela]”, diz trecho de conversa. A informação é do G1.
Em resposta, Lessa diz a Suel que enviaria um intermediário para negociar com o traficante, que deveria obedecer às ordens dele. “Ordem do patrão, só isso. Porque ele [intermediário] que foi a ponte nossa na época, e o cara não sabe disso”, explicou Lessa.
Ainda segundo as conversas entre Lessa e Suel, o ex-bombeiro conta que os dois precisariam dar “um agrado” ao traficante. “Com certeza, aí, você vê o que é de direito”, concorda o ex-policial reformado.
De acordo com anotações de contabilidade apreendidas na casa de Suel, uma mansão de três andares, em um condomínio de luxo no Recreio dos Bandeirantes (RJ), o lucro do gatonet, em apenas um mês, era de R$ 31 mil.
Relatos de moradores à PF indicam que a “mensalidade” cobrada pela quadrilha era de R$ 70. O pagamento variava em dinheiro em espécie ou transações via Pix.
Conforme a delação premiada obtida pelo Metrópoles, as atividades clandestinas do “gatonet” eram realizadas no bairro de classe média e média baixa de Rocha Miranda, na zona norte do Rio de Janeiro.