ONS prevê colapso de 8 reservatórios de hidrelétricas até novembro
A Aneel já anunciou a criação de um gabinete para monitorar as condições do sistema elétrico
atualizado
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Nota técnica do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) à Agência Nacional de Águas (ANA) prevê que pelo menos oito grandes usinas hidrelétricas instaladas na região Sudeste devem ficar com seus reservatórios perto do colapso total até 30 de novembro, fim do período de estiagem.
De acordo com o Valor Econômico, essas usinas, localizadas na bacia do rio Paraná, somam 10 mil megawatts (MW) de potência e representam 53% de toda a capacidade de armazenamento de água do país. A entidade responsável pela operação do setor também faz projeções sobre o comportamento dos reservatórios no restante da temporada de estiagem.
Segundo as informações, o quadro é estarrecedor: as represas de Furnas, Nova Ponte, Itumbiara, Emborcação e São Simão esgotam seus volumes úteis antes do recomeço das chuvas. As hidrelétricas de Mascarenhas de Moraes, Água Vermelha e Marimbondo terminam o período seco com menos de 2% da capacidade.
Como noticiado pelo Metrópoles, na última terça-feira, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) publicou, em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), a Declaração de Situação Crítica de Escassez Quantitativa de Recursos Hídricos da Região Hidrográfica do Paraná — que abrange Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo –, até 30 de novembro.
Já a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou a formação de um gabinete de situação para monitorar as condições do sistema elétrico. A diretoria da agência informou, também na terça-feira, que o grupo vai monitorar a situação neste ano e em 2022 para propor medidas que evitem a escassez de energia no Brasil.
Recomendações
Com o objetivo de impedir o esvaziamento completo dos reservatórios e minimizar o risco de falta de energia, os diretores Alexandre Nunes Zucarato (planejamento) e Sinval Zaidan Gama (operação), do ONS, recomendam uma série de flexibilizações. Sem isso, alertam, “há praticamente esgotamento de todos os recursos” em novembro e seria necessário “o uso da reserva operativa a fim de evitar déficit” no suprimento.
De acordo com as informações do Valor, o cenário de referência adotado pelo ONS prevê a repetição do regime hidrológico de 2020, que já havia sido crítico, e a manutenção das atuais regras de vazão nas usinas.
O ONS também afirma que “considerando-se as previsões de afluência obtidas com a chuva de 2020, prevê-se a perda do controle hidráulico de reservatórios da bacia do rio Paraná no segundo semestre de 2021”.
“A perda do controle hidráulico na bacia do Paraná implicaria em restrições no atendimento energético nos subsistemas Sul e Sudeste/Centro-Oeste”, acrescenta a nota.
Ao Valor os especialistas informaram que isso significaria ampliar a possibilidade de blecautes, já que o sistema ficaria excessivamente vulnerável a pequenas oscilações e imprevistos, como um pico de consumo e limites técnicos na transmissão de uma região do país para outra.
A ONS recomenda reduções da cota (altura do espelho d’água) mínima em Ilha Solteira (SP), o que inviabilizaria por vários meses a navegabilidade da hidrovia Tietê-Paraná, e uma vazão maior do reservatório de Furnas, que fica próximo à cabeceira do rio Grande, para alimentar o fluxo de água chegando nas represas em seguida. Essa mudança pode causar restrições à piscicultura e já foi objeto de críticas do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que teme impacto negativo na economia regional.
Também é previsto o acionamento de até 20 mil MW de usinas térmicas entre outubro e novembro. Hoje estão ligados pouco mais de 10 mil MW. Na prática, significaria colocar em funcionamento até mesmo as termelétricas movidas a óleo diesel, as mais caras e poluentes de todo o sistema.
Caso as mudanças sugeridas pelo ONS venham a ser acatadas, o operador prevê que essas oito usinas podem evitar a situação de colapso, chegando ao fim de novembro e encerrando o período seco com volumes úteis de 2% a 6,4% — dependendo da represa.
Já a ANA informou que “flexibilizaçōes e demais medidas necessárias para a situação estão em análise”.