ONG criada na pandemia usa skate para mudar vida de crianças no Rio
Instituto Ademafia conta com doações para atividades e ajuda os moradores do Morro Santo Amaro, na região central do Rio
atualizado
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Rio de Janeiro – A pandemia gerou um grande impacto na população mais pobre. Como forma de ajudar os moradores do Morro Santo Amaro, na região central do Rio, a enfrentar esse momento difícil, o skatista Ademar Lucas, conhecido como Luquinhas, de 30 anos, teve a ideia de criar o Instituto Ademafia, fundado em dezembro de 2020.
“Várias pessoas da comunidade trabalham informalmente e passaram a enfrentar problemas na quarentena. Foi quando peguei todos os meus contatos e a experiência nas redes sociais e direcionei minha energia para uma campanha de arrecadação”, conta ao Metrópoles.
Na época, o grupo conseguiu mais de R$ 50 mil em doações. “Comecei a distribuir cestas básicas. Tinha quem não conseguia pagar aluguel e eu pedia auxílio a amigos. Começamos a ter muita ajuda e ganhamos força na parte social”, comemora.
Tropinha S.A.
A ONG, além de ajudar a comunidade como pode, promove aulas de skate todas as terças e quintas, das 15h30 às 19h30, para crianças e jovens. “Com a pandemia, elas ficavam muito dentro de casa”, diz Ademar.
“Vejo a gratidão nos olhares delas. Hoje, elas são mais empoderadas, mais autoconfiantes, mais organizadas. É maravilhoso saber que, juntos, a gente consegue transformar tanta coisa”, celebra. “Tenho a consciência de que crescer dentro da favela ainda traz muitos preconceitos. Então, se a gente não tiver fortalecido para podermos seguir com a cabeça erguida, o mundo só vai colocar nossa cara na lama.”
Para a autônoma Joselia Alves, 36, o instituto tem um importante papel social. Ela é mãe de Miguel, 12, e de Douglas, 10. Os dois são frequentadores assíduos do projeto e fazem aulas de skate semanalmente.
“Os meninos hoje mostram muito mais disciplina em casa e sonham em trabalhar com skate no futuro. Sem essa ONG, eu não conseguiria proporcionar isso para eles”, explica. “Muitas das pessoas da comunidade aderiram e todos amam muito.”
Douglas, o mais novo, diz querer dar aulas no futuro: “Quero ensinar as crianças como ensinam a gente. Os dias que têm aulas são os melhores, eu quero me desenvolver. Antes a gente não fazia nada demais, ficávamos só conversando na rua”, diz.
Das pistas às mídias
O fundador Luquinhas já tinha um projeto próprio há alguns anos, chamado também Ademafia. Através dele, registra a realidade da prática do esporte sob o viés das favelas da cidade.
“Tudo começou quando eu era pequeno, vi várias pessoas andando de skate no Palácio do Catete e me apaixonei. Meus pais sempre me deram muito apoio, mesmo a gente morando no morro e sem tanta grana. Comecei uma carreira no esporte, queria ajudar minha família com isso”, conta Ademar.
No auge das competições, no entanto, sofreu uma torção no joelho, da qual demorou para se recuperar. Foi quando pensou em migrar para a área das mídias. “Comprei uma câmera, um computador, fiz curso e comecei um trabalho especializado em skate. Filmava uns amigos para divulgar e passei a viajar”, explica.
Os projetos nas redes, que começaram em 2014, renderam e o canal no YouTube teve uma boa visibilidade com as coberturas do universo do skate. Dois anos depois, em 2016, Ademar sentiu a necessidade de trazer todo o aprendizado de volta para o Rio.
“O mercado é muito voltado para áreas como São Paulo. Eu viajava o tempo todo e não conseguia ficar muito no Rio, com a minha família. Foi aí que comecei a reparar que era importante valorizar esse movimento, essa cena aqui na cidade”, completa.
O empreendedor começou, então, a visitar projetos sociais de outras favelas, como a Maré, na zona norte do Rio. “Usei a minha carreira e a visibilidade que tinha para mostrar os pilares da cultura urbana”, afirma. Na nova fase, mais próximo do Rio, realizou novos movimentos na comunidade em que cresceu e começou a reparar na realidade da comunidade e suas necessidades.
Páscoa
Como próximos passos do Instituto Ademafia, aparece a campanha Páscoa dos Crias, para arrecadação de dinheiro. O intuito é comprar caixas de bombom para as 85 crianças que participam do Tropinha S.A..
“Contamos com ajuda de voluntários, apoiadores, doações e campanhas para que possamos executar nosso projeto e dar continuidade ao trabalho que é feito no instituto”, diz Teresa Quelma, coordenadora geral, ao Metrópoles.
Segundo ela, a campanha de Páscoa visa uma integração ainda maior com os jovens da comunidade: “Faremos um ‘aulão’ com muito skate, gincanas, sorteios, um lanche maravilhoso com direito a bolo de chocolate, suco, alegria e diversão. É um dia de confraternização em família, e nós somos uma grande família”, completa.
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