Ômicron e atraso na vacinação levam hospitais pediátricos ao colapso
Nas últimas semanas, municípios de ao menos sete estados enfrentaram superlotação em leitos de UTI de Covid destinados a esse público
atualizado
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Cidades brasileiras têm sofrido com os efeitos do avanço da variante Ômicron da Covid-19, doença causada pelo coronavírus, e da demora na vacinação de crianças: hospitais pediátricos funcionando em colapso.
Com o aumento de adoecimentos pela enfermidade, unidades de terapia intensiva (UTIs) destinadas ao público infantil operam com ocupação que chega a 100%.
Municípios de Mato Grosso do Sul, Bahia, Piauí e Minas Gerais enfrentam o problema atualmente. Nas últimas duas semanas, Goiás, Ceará e São Paulo relataram lotação.
Para a comunidade médico-científica, esse panorama é resultado da alta capacidade de contaminação da variante Ômicron e da vulnerabilidade das crianças por não terem sido imunizadas. A campanha para este público começou tardiamente há cerca de 15 dias.
Em Mato Grosso do Sul, o número de crianças em leitos de terapia intensiva ultrapassou em 60% a capacidade hospitalar, segundo boletim da Secretaria Estadual de Saúde.
São cinco leitos pediátricos existentes dedicados à doença, sendo que há dois pacientes com casos confirmados e seis com suspeita. Logo, há mais pacientes infantis do que a capacidade de atendimento instalada.
Em Salvador, a situação também é crítica. A ocupação desses leitos na capital baiana tem variado entre 95% e 100% nos últimos dias.
No estado, a taxa de ocupação das UTIs infantis era de de 93% na quarta-feira (26/1). A Bahia tem 27 dos 29 leitos preenchidos por pacientes. No Distrito Federal, o índice era semelhante: 94% de ocupação.
Abertura de leitos
As internações têm se avolumado tanto que Executivos locais estão reabrindo leitos na tentativa de desafogar o sistema.
Um dos exemplos ocorre no Piauí. Lá, o governo decidiu abrir 87 leitos de Covid-19.Uma das unidades médicas beneficiadas é um hospital infantil.
Em Minas Gerais, a Fundação Hospitalar emitiu comunicado informando que estão sendo abertos novos leitos e mais profissionais pediatras serão contratados para ampliação dos atendimentos. Belo Horizonte, Sete Lagoas e Divinópolis registram lotação em hospitais infantis.
“Conjunção de fatores”
A infectologista Ana Helena Germoglio explica que esse cenário se desenhou por uma conjunção de fatores, como a variante que é transmitida muito mais facilmente, uma alta circulação viral e a alta taxa de vacinação em adultos e baixa em crianças.
“Nesse cenário, as crianças se tornam os mais vulneráveis, já que a maioria não tem anticorpos pela demora excessiva do início da vacinação infantil”, avalia.
A especialista defende o avanço da imunização infantil. “Os pais ainda têm muitas dúvida e até receio de vacinar.
A politização da vacina gerou isso. Precisamos de campanha de informação, retirar dúvidas que ainda restem, conscientizar da necessidade de vacinar, ressuscitar o Zé Gotinha”, salienta.
Riscos
O Brasil teve 1.544 mortes de crianças de até 11 anos por Covid-19 desde o início da pandemia. No entanto, a taxa de letalidade entre as crianças de até 4 anos é quatro vezes maior em comparação com o público mais velho, segundo dados do Ministério da Saúde.
A variante Ômicron provocou aumento de 44% nas internações e mortes de crianças por Covid-19, segundo a plataforma SP Covid-19 Info Tracker, criada pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Essa tendência é a oposta do público vacinado, tanto de adultos quanto de adolescentes a partir de 12 anos.
Fiocruz faz alerta
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) fez um alerta diante do aumento das internações. “Não se pode ignorar que o quadro está piorando”.
Em nota técnica publicada na quarta-feira, a Fiocruz defendeu os efeitos da vacinação na população adulta e na infantil.
“Há ainda uma proporção da população que não recebeu o reforço e, assim, fica mais suscetível a formas mais graves da infecção com a Ômicron; e, principalmente, há uma parte da população não vacinada, muito mais suscetível”, salienta a entidade.