Ômicron: brasileiros na África relatam temor por voos cancelados
Com viagens de volta canceladas pelas companhias, brasileiros aguardam por remarcações e pedem voo de repatriação
atualizado
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São Paulo – A detecção da nova variante da Covid-19, a Ômicron, na África do Sul, e o repentino fechamento de fronteiras surpreenderam brasileiros que estavam no país africano.
Agora, o clima é de incerteza e apreensão: alguns tiveram seus voos de volta cancelados, e outros ainda seguem com a viagem marcada para os próximos dias, mas não sabem se conseguirão embarcar. Ao mesmo tempo, aguardam alguma orientação do governo brasileiro.
Daniella Santos, 27 anos, está morando na Cidade do Cabo desde 15 de setembro e tinha sua viagem de volta ao Brasil agendada para 14 de dezembro, um dia antes do visto de turista expirar – mas o voo, da Qatar Airways, foi cancelado no último domingo (28/11).
“Na sexta, deram o aviso de que havia o bloqueio de vários países a pessoas vindas da África do Sul. Aí no sábado, saiu a notícia da variante e, no domingo, meu voo foi cancelado. A empresa deu um voucher ou reembolso, mas nenhuma alternativa para remarcação. Eu não sei o que fazer”, contou Daniella em entrevista ao Metrópoles.
Os voos da companhia fazem escala em Doha, capital do Catar, país que também bloqueou a entrada de pessoas que saem da África do Sul. Por isso, voos para o Brasil foram cancelados, e agora as opções estão escassas.
Brasileiros que estão na África do Sul se uniram em grupos do WhatsApp para trocar informações. Lá, compartilham as últimas notícias sobre a nova variante e as respostas do governo brasileiro, além de trocarem informações a respeito do cancelamento de voos.
Pegos de surpresa
Daniella diz que a notícia da nova variante e o consequente cancelamento de voos foram repentinos. “Foi do nada, a coisa mais maluca do mundo! Não foi algo ‘ah, temos a variante, que está crescendo’, não, foi do nada. Na sexta saiu a notícia, eu fiquei sabendo só no sábado de manhã, vi as notícias porque minha família me mandou, aqui acaba não saindo muita coisa”, explicou ela.
De acordo com relatos de brasileiros, a TAAG Linhas Aéreas de Angola e a Ethiopian Airlines permanecem com voos da África do Sul para o Brasil. Mas há o temor de que as viagens sejam canceladas nos próximos dias. Por isso, eles esperam que a embaixada brasileira dê alguma alternativa, como um voo de repatriação.
Por enquanto, a embaixada pediu apenas que os brasileiros na África do Sul preencham um formulário informando a situação, para que o governo possa identificar quantas pessoas precisam retornar. De acordo com o Itamaraty, ao menos 230 brasileiros estão retidos no país africano.
Trabalho voluntário em Worcester
Robson Mercúrio, 28 anos, sua esposa e seu filho de 2 anos estão na cidade de Worcester, em uma missão religiosa de trabalho voluntário. Eles chegaram em abril e pretendem ir embora em 14 de dezembro – mas não têm certeza se o voo permanecerá inalterado até lá.
“A gente tem o visto cedido pela embaixada por 1 ano, mas o nosso projeto financeiro, de apoio, mantenedores que suportam a gente aqui, é até dezembro. A gente comprou a passagem pela Ethiopian Airlines, e um dos critérios para conseguir o visto era comprar a passagem de ida e volta. Nossa hospedagem aqui só vai até o dia 11 de dezembro, é o prazo que temos. E agora a gente tem essa notícia da nova variante”, contou Robson ao Metrópoles.
Ele relata que apesar de não ter tido o voo cancelado, também não conseguiu nenhuma informação ou suporte da companhia aérea. “É impossível, eles não prestam nenhum tipo de suporte”, diz.
Robson diz que foi pego de surpresa pela Ômicron. “Já existia uma preocupação, inclusive aqui na base, com o aumento no número de casos. A liderança da organização já alertava para o uso de máscaras e o distanciamento, mas aí, de repente, na última sexta-feira, recebemos essa notícia da variante, os brasileiros começaram a ficar apreensivos porque muita gente estava planejando ir embora, uns porque o visto está vencendo, outros porque precisam ver a família”, falou.
Curso de inglês na África do Sul
Thamires Crepaldi, 23 anos, foi para a África do Sul a turismo acompanhar seu namorado, que foi fazer um curso de inglês. Ele chegou no início do mês, mas ela só chegou no dia 17, e pretende ficar até 3 de dezembro – porém, na reta final da viagem, veio a notícia da nova variante.
Ela disse que os dois viveram as duas últimas semanas de forma normal, fazendo turismo, até a última sexta. “Foi do nada. A gente, na sexta, passou o dia comprando souvenirs, e aí quando a gente chegou em casa, a gente já viu as notícias, alertou a família, já começou a cancelar as coisas que tínhamos marcado para esta semana”, conta.
A ideia imediata de Thamires e o namorado foi fazer o exame PCR, pois ele é necessário para embarcar em qualquer voo. Eles fizeram o exame no sábado e pensaram em ir até o aeroporto para conseguir embarcar em qualquer voo de volta para o Brasil. Entretanto, como a hospedagem até o dia 3 já estava paga, eles decidiram esperar.
O voo foi comprado na Ethiopian Airlines, que ainda não o cancelou. “Chegamos à conclusão que não valia tentar sair daqui. É melhor a gente ficar preso aqui do que ficar preso em algum outro aeroporto no meio do caminho”, disse.
O casal conta que, devido à nova variante, foi imposta uma quarentena no meio da viagem. “A minha decisão com a dele foi de ficar em casa, não adianta a gente conseguir voltar e estar doente. Estamos fazendo nossa quarentena. Já saiu portaria do governo brasileiro confirmando que a gente poderia entrar no país contanto que a gente fizesse um PCR e fizesse quarentena. Mas o grande problema está nas companhias aéreas, não adianta o Brasil estar recebendo a gente se não tem ninguém para levar a gente pro Brasil”, lamentou.
Medo de escala na Etiópia
A nova variante e o fechamento de fronteiras se somou a uma apreensão que já existia em relação ao retorno para o Brasil: passar pela Etiópia. O país enfrenta uma guerra e, no início do mês, o Itamaraty recomendou que brasileiros evitem viagens não essenciais para lá, e que, em caso de conexões, não deixem os aeroportos.
O voo de Robson e sua família tem uma conexão de 12 horas na Etiópia. “A gente já estava inseguro, e agora, com essa situação da nova variante, gerou ainda mais instabilidade, mais insegurança. Contatei a Embaixada da Etiópia, e a pessoa que falou comigo recomendou firmemente que, se pudesse comprar uma passagem por outra companhia para não passar por lá, que comprasse, porque a situação está caótica”, relatou.
Vanessa Marinho mora na Cidade do Cabo e é sócia da agência Africa Exchange, especializada em intercâmbios na África do Sul. Ela também disse ter sido surpreendida com as notícias da Ômicron e lamenta o repentino fechamento de fronteiras para o país, que estava começando a se recuperar da crise econômica e de turismo causada pela pandemia.
“A gente tem muita incerteza porque a curva da Covid que sobe e desce é difícil. O momento era bom. As pessoas acreditando numa melhora e buscando viagens para a África do Sul, estávamos bem esperançosas. É um impacto muito grande”, disse.