Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, morre aos 74 anos
Escritor vivia desde 2005 nos EUA. Foi padrinho de algumas indicações ao governo Bolsonaro, mas viu sua influência reduzir nos últimos meses
atualizado
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Considerado o guru do bolsonarismo, o escritor Olavo de Carvalho, de 74 anos, morreu na noite dessa segunda-feira (24/1), madrugada de terça no horário brasileiro. Ele estava internado em um hospital de Richmond, Virgínia, nos Estados Unidos.
O perfil oficial de Carvalho no Twitter comunicou a morte. Veja:
Nota de falecimento
Olavo Luiz Pimentel de Carvalho (1947-2022)
Com grande pesar, a família do professor Olavo de Carvalho comunica a notícia de sua morte na noite de 24 de janeiro, na região de Richmond, na Virgínia, onde se encontrava hospitalizado. pic.twitter.com/mNoZjhaEh6
— Olavo de Carvalho (@opropriolavo) January 25, 2022
A causa da morte não foi divulgada. Entretanto, o próprio escritor afirmou que tinha se infectado com o novo coronavírus, causador da Covid-19. Carvalho era casado atualmente com Roxane, tinha oito filhos e 18 netos.
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Bolsonaro lamentou a morte
Nos últimos meses, Olavo passou a fazer críticas ao governo de Bolsonaro. Nesta madrugada, logo após o anúncio de sua morte, o presidente da República, pelas redes sociais, lamentou o falecimento do escritor. “Olavo foi um gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre”, publicou o perfil. Confira:
– Nos deixa hoje um dos maiores pensadores da história do nosso país, o Filósofo e Professor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho.
– Olavo foi um gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) January 25, 2022
Natural de Campinas (SP), Olavo vivia desde 2005 nos Estados Unidos. Segundo ele, um dos motivos de sua mudança do Brasil para os EUA foi a chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência da República. Como revelado pelo Metrópoles, Olavo desembarcou no Brasil em 8 de julho de 2021 para um tratamento médico, após anos sem pisar no país.
O escritor foi internado com problemas respiratórios em abril do ano passado num hospital no estado da Virgínia. No Brasil, Olavo foi levado para o InCor, Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), onde foi atendido pelo cardiologista José Antonio Ramires.
Olavo lidava há alguns anos com consequências da doença de Lyme, popularmente conhecida como doença do carrapato, que pode causar irritação na pele, dores nas articulações e fraqueza nos membros.
Fumante, ele propagava a ideia anticientífica de que o cigarro faz bem para a saúde e dizia que o tabaco não tinha ligação com o câncer de pulmão ou doenças cardíacas. Olavo já teve um tumor na traqueia, que o obrigou a se submeter a uma cirurgia delicada.
“Cigarro não faz mal, isso tudo é uma empulhação da Indústria Farmacêutica, que vende remédios que matam a população. Cigarro faz bem para a atividade cerebral e diminui o colesterol, quantas pessoas com Alzheimer fumantes você já viu?”
Opositor do politicamente correto, em 2013 Olavo publicou o livro O Mínimo que Você Precisa Saber para não Ser um Idiota, considerado um dos manuais da direita brasileira. Outros livros de sua autoria são O Jardim das Aflições (1995) e O Imbecil Coletivo (1996). Seus livros e artigos divulgam teorias conspiratórias e informações incorretas, além de discursos de ódio.
Entre essas teorias, estão: a Terra é plana, a negação do aquecimento global e a defesa de que a Pepsi é adocicada com células de fetos abortados.
De astrólogo a representante do conservadorismo
Na juventude, Carvalho diz ter sido militante do Partido Comunista Brasileiro, entre os anos de 1966 e 1968, e opositor da ditadura militar no Brasil, tornando-se anticomunista posteriormente.
Trabalhou como jornalista em veículos como Folha de S.Paulo, Planeta, Bravo!, Primeira Leitura, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, O Globo, Época, Zero Hora e Diário do Comércio. Como astrólogo, colaborou no primeiro curso de extensão universitária em astrologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1979, oferecido a formandos em psicologia.
Crítico do que chamava de pensamento hegemônico de esquerda na imprensa e na academia, Olavo se tornou um expoente da direita brasileira. Em 2020, ele fundou o site Mídia sem Máscara (MSM), que tinha o objetivo de combater o “viés esquerdista da grande mídia brasileira”.
Dos Estados Unidos, Olavo ministrava cursos de filosofia, transmitidos por vídeos na internet. Em seu canal no YouTube e no perfil no Facebook, ele é conhecido por usar palavras de baixo calão e propagar críticas a diversos políticos e figuras públicas. Um dos pontos rechaçados por ele é o que considera o abandono de valores judaico-cristãos pela sociedade.
Apesar da grande repercussão nas redes sociais, Olavo não goza de boa reputação na academia, onde suas obras são ignoradas pelos pares.
Relação com governo Bolsonaro
Olavo era tido como uma figura caricata do conservadorismo brasileiro. Após a eleição de Jair Bolsonaro para presidente, porém, ele se revelou um consultor e espécie de guru intelectual de assessores próximos a Bolsonaro.
Em entrevista ao jornalista Pedro Bial em 2019, no programa Conversa com Bial, da TV Globo, Olavo defendeu que o presidente da República desse um ministério para um cada um de seus filhos que seguem carreira política: o senador Flávio (Patriota-RJ), o deputado federal Eduardo (PSL-SP) e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos).
“Tomara que ponha os três de ministros. São pessoas muito sinceras, muito honestas”, defendeu.
Os filhos do presidente, que se referem a ele como “professor Olavo”, são justamente discípulos do escritor. A lista de seguidores incluiu ainda figuras já rompidas com Bolsonaro, como o blogueiro de direita Felipe Moura Brasil e a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP).
Em uma de suas primeiras entrevistas após ter sido eleito, Jair Bolsonaro apresentou O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota, de Olavo de Carvalho, como um dos seus livros de cabeceira. A obra estava acompanhada da Bíblia, da Constituição Federal e do livro Memórias da Segunda Guerra, de Winston Churchill.
Tido como o padrinho das nomeações de Ernesto Araújo, para comandar o Ministério de Relações Exteriores, e de Ricardo Vélez Rodríguez, para o Ministério da Educação (MEC), o filósofo assistiu recentemente a uma queda de sua influência no governo. Além da saída de Vélez e Araújo, os irmãos Arthur e Abraham Weintraub deixaram seus cargos após uma série de polêmicas.
As saídas dos ministros foram acompanhadas por outras do segundo escalão e vistas como um enfraquecimento da ala ideológica no governo. Desde que Bolsonaro começou a buscar uma base no Congresso que lhe garantisse governabilidade com vistas à reeleição em 2022, Olavo passou a criticar a aproximação com partidos do Centrão.
Apesar de menos influente, o olavismo ainda tem sua fatia no Executivo federal. Seu maior representante hoje é Filipe Martins, assessor especial para Assuntos Internacionais do presidente da República. Acusado de fazer um gesto racista durante sessão do Senado Federal, Martins conseguiu se segurar no cargo apesar da queda de Ernesto Araújo.
Em 2017, foi lançado um filme abordando a vida doméstica, biografia e visão de mundo de Olavo de Carvalho. A obra foi dirigida pelo cineasta pernambucano Josias Teófilo e rodada na residência dele, em Colonial Heights.
O longa-metragem leva o nome de um dos livros publicados por Olavo, O Jardim das Aflições. O filme foi inteiramente realizado com recursos captados por meio de financiamento coletivo.
Processado por Caetano Veloso
Em 2017, o escritor bolsonarista publicou seguidos posts nas redes sociais classificando o cantor Caetano Veloso como “pedófilo”. Em ação movida pelo artista, Olavo foi condenado a pagar indenização de R$ 2,9 milhões por danos morais.
Em maio de 2021, o desembargador José Giordani, da 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), negou um novo recurso de Olavo. Apesar da decisão do TJRJ, o escritor ainda podia entrar na Justiça com embargos de declaração para tentar um novo recurso.