O que se sabe sobre a clínica no RJ investigada por tortura de idosos
Casa de Repouso Laço de Outro, em Guaratiba, foi denunciada por estagiários. Duas pessoas foram presas por tortura, sequestro e cárcere
atualizado
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Rio de Janeiro – Interditada desde o último domingo (7/8), a casa de repouso Laço de Ouro, em Guaratiba, zona oeste do Rio, mantinha 29 idosos sob maus-tratos, tortura e cárcere privado. A Polícia Civil foi até a clínica após denúncias de estagiários que trabalhavam no local. Duas pessoas foram presas e parentes falaram que eram impedidos de visitar os idosos.
Assim que os agentes chegaram ao local, três idosos precisaram de cuidados médicos e foram encaminhados para o hospital. Em um vídeo enviado ao Metrópoles, uma das idosas diz que estava sem comer desde cedo e sentia fome. Veja:
Até o fechamento desta reportagem, a prefeitura do Rio já havia localizado 18 famílias.
O que os agentes encontraram?
O caso está sendo investigado pela 35ª DP, em Campo Grande, que realizou o resgate e as prisão dos acusados. A denúncia foi feita por um grupo de estagiários que presenciaram as irregularidades e decidiram procurar a polícia.
Eles informaram que todos os idosos estavam em situação de maus-tratos, cárcere privado e alguns eram dopados com medicamentos de receita exclusiva.
Assim que chegaram à casa de repouso, os agentes começaram a solicitar auxílio dos demais órgãos de proteção. Toda a ocorrência durou até a madrugada desta segunda-feira (8/7).
“Lá foi constatado que todos os idosos estavam sofrendo maus-tratos, sendo que um foi transferido para um hospital com urgência. Encontramos comidas estragadas e sinais de que alguns idosos foram vítimas de lesão corporal pelos responsáveis pelo local”, disse ao Metrópoles o delegado da 35ªDP, Túlio Pelosi, responsável pela investigação.
Alguns idosos foram encontrados caídos no chão pelos agentes e, em diversos locais, era possível sentir um forte cheiro de urina pela casa de repouso.
Como era o tratamento dado aos idosos?
Os idosos passavam fome, viviam em um ambiente insalubre e alguns relataram agressões aos agentes que fizeram o resgate.
Uma das idosas afirmou que às 15h ainda não tinha tomado café da manhã e que os alimentos servidos eram horríveis. “E só carne, com repolho e abobrinha”, disse Madalena.
Na porta da casa de repouso, uma família gerou comoção. Internado desde abril de 2021, o idoso José Cruz Angelo estava sem ver a esposa, que era proibida de fazer visitas.
“Ele teve problema de saúde, ficou com depressão e os filhos trouxeram ele até aqui, falaram que era um lugar bom. Depois disso me proibiram de entrar, fiquei mais de um ano sem ver meu marido, nem no quintal eu podia pisar. Há muito tempo estou lutando, não consigo nem ver e nem tirar ele. Quero tirar meu marido daqui”, disse Maria do Carmo da Silva, que estava acompanhada de uma sobrinha.
A idosa já tinha feito um registro de ocorrência na 19ª DP e tinha ido naquele domingo tentar visitar o marido. Ela e a sobrinha choraram quando encontraram os agentes.
O que dizem os acusados?
A casa de repouso Laço de Ouro existe desde fevereiro de 2014 e, segundo a polícia, a responsável seria uma mulher chamada Vanessa da Silva Ferro. Ela e mais um funcionário, Manoel Alves Paulino, foram presos em flagrante.
Em depoimento à polícia, Vanessa negou maus-tratos aos idosos. Já Manoel, preferiu ficar em silêncio.
“Até o momento são dois presos, mas há outros envolvidos que podem sofrer representação de prisão”, reforçou Túlio Pelosi à reportagem.
Para onde vão as vítimas?
A equipe da Secretaria Municipal de Assistência Social foi acionada pela 35ª DP para auxiliar no resgate e na busca pelos parentes das vítimas. Caso os familiares não sejam encontrados, os idosos poderão ser encaminhados para abrigos da assistência social.
Dos 29 resgatados, três precisaram de cuidados médicos e foram levados para o hospital. Até o final da tarde de segunda-feira (8/8), 18 famílias já haviam sido localizadas e cinco idosos já haviam sido encaminhados para um abrigo, já que não foi possível identificar os parentes. Outros três idosos estão em processo de localização de parentes.