O que já se sabe sobre operação da PMGO que matou 4 homens na Chapada
Testemunha, policiais afastados, protesto e plantação de maconha. Veja o que se sabe sobre a ação da PM na Chapada dos Veadeiros
atualizado
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Goiânia – Uma operação da Polícia Militar de Goiás (PMGO) na última quinta-feira (20/1) está causando revolta em moradores da Vila de São Jorge, área turística bastante conhecida da Chapada dos Veadeiros, no município de Alto Paraíso, em Goiás.
Isso porque quatro pessoas foram mortas por militares em uma fazenda da zona rural de Cavalcante, próximo a Colinas do Sul, cidades na mesma região. Os policiais dizem que houve uma troca de tiros, mas, segundo familiares e amigos, as vítimas eram conhecidas por ter uma vida pacata e não ter histórico de violência.
Familiares e amigos das vítimas estão cobrando providências e afirmam que a ação policial promoveu uma verdadeira chacina e que os mortos não tiveram sequer chance de defesa. No último domingo (23/1), moradores de São Jorge fizeram uma passeata exigindo apuração do caso. O clima é de revolta (veja fotos e vídeo abaixo).
Veja aqui o que já se sabe sobre essa operação.
Mortes violentas
As mortes aconteceram durante a manhã, em uma fazenda próxima da divisa com o município de Cavalcante, também na Chapada. No local havia uma plantação de maconha, que seria o motivo da operação policial.
Os policiais dispararam 58 vezes. Quarenta tiros de fuzil e 18 de pistola. O dono da fazenda, um dos mortos, teria apenas uma espingarda, segundo amigos. No entanto, a PM diz que eles também teriam quatro revólveres e três teriam sido usados no suposto confronto.
O tamanho da plantação de maconha não é claro. No boletim de ocorrência, os policiais disseram que eram cerca de 2 mil pés. Algumas horas depois, afirmaram que seriam entre 500 e 600 pés. As plantas foram queimadas pelos próprios PMs, logo depois das mortes. A legislação diz que o delegado deve acompanhar a incineração de plantação, para garantir a preservação das provas.
Identidade das vítimas
Dos quatro mortos na operação policial na Chapada, dois eram da vila São Jorge, um de uma comunidade quilombola kalunga e um de Colinas do Sul. Nenhum deles tinha antecedentes criminais.
Alan Pereira Soares, de 27 anos. Morava em Colinas. Tinha uma namorada, que foi uma das testemunhas da ação da polícia e estava grávida. Ela conseguiu fugir do local. Alan teria tido uma desavença com um dos policiais que participaram da operação, segundo amigos.
Antônio da Cunha dos Santos, de 35 anos, era de uma comunidade quilombola. Ele era conhecido como Chico. Gostava de jardinagem e conhecia plantas medicinais.
Ozanir Batista da Silva, de 46 anos, era de uma família pioneira em São Jorge. Era conhecido como Niro ou Jacaré. Costumava fazer pequenos bicos e já teria tido problemas com álcool. Ele e Chico seriam vizinhos da fazenda com a plantação de maconha.
Salviano Souza Conceição, de 63 anos, o mais velho entre os mortos na ação policial. Seria o dono da plantação. Era muito conhecido por moradores de São Jorge, de onde era. Tinha o comportamento pacato e tranquilo, segundo amigos.
Veja vídeo do protesto:
Identidade dos policiais
Sete policiais participaram da operação. São eles os sargentos Aguimar Prado de Morais e Mivaldo José Toledo, os soldados Welborney Kristiano Lopes dos Santos, Eustáquio Henrique Nascimento Lopes e Italo Vinicius Rodrigues de Almeida. Também participaram os cabos Mascarenhas, que não teve o nome completo divulgado, e Jean Roberto Carneiro dos Santos.
Pelo menos seis policiais atiraram durante a operação, segundo o boletim de ocorrência. Quatro estavam com fuzis e dois com pistolas. Eles fazem parte do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT), um batalhão especializado da PMGO em Niquelândia, cidade vizinha.
Durante a operação, os policiais estacionaram as viaturas na estrada de terra, em um ponto alagado que não dava para passar. Eles chegaram até a fazenda a pé. A motivação teria sido uma denúncia anônima.
O que as autoridades estão fazendo
A PM divulgou que todos os policiais envolvidos na operação foram afastados e que uma apuração rigorosa dos fatos está sendo feita. A PM só se manifestou quatro dias após as mortes.
O Ministério Público manifestou que está acompanhando a investigação em Cavalcante, onde a Polícia Civil apura as mortes, e que foi instaurada uma investigação em Niquelândia, cidade de onde saíram os policiais que participaram da operação. Segundo o MP, o núcleo de controle externo da polícia foi acionado e uma investigação própria poderá ser realizada.
As autoridades não comentaram sobre a legalidade na queima da plantação. As quatro vítimas foram levadas para o hospital de Colinas, pois não havia sinal de telefone na chácara, segundo a PM. Eles já chegaram sem vida à unidade de saúde.
A Secretaria de Segurança Pública de Goiás e a Polícia Civil não se manifestaram sobre a operação policial. O Governo de Goiás também segue sem se posicionar a respeito do assunto.