O Pantanal vai acabar? Entenda a “previsão” da ministra Marina Silva
Para especialistas, a fala da ministra não é exagerada, visto o atual cenário de alta degradação que o Pantanal vive nos últimos anos
atualizado
Compartilhar notícia
As queimadas que estão atingindo o Pantanal têm preocupado autoridades sobre o futuro do bioma. Na última quarta-feira (4/9), a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva, afirmou que o Pantanal pode acabar até o fim do século caso sejam mantidas as atuais tendências. A declaração gerou controvérsia durante os últimos dias. Mas afinal, o que aconteceria se o Pantanal acabasse?
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), neste ano foram registrados 9.478 focos de incêndios no Pantanal. Na comissão de Meio Ambiente (CMA), do Senado, a ministra Marina Silva pontuou preocupação com a elevada degradação do bioma.
“Segundo os pesquisadores, se continuar o mesmo fenômeno (queimadas) em relação ao Pantanal, o diagnóstico é de que poderemos perder o Pantanal até o fim deste século. Isso tem um nome: baixa precipitação, alto processo de evapotranspiração, não conseguindo alcançar a cota de cheia, nem dos rios nem da planície alagada.”
O especialista em meio ambiente Charles Daer analisa que, mantidas a estiagem e as queimadas na região, não é exagero prever um fim para o Pantanal até o final do século. “Tudo isso pode levar ao fim do bioma. O horizonte de tempo é muito longo. Se esse cenário for mantido (degradação do Pantanal), ele é sim problemático para o futuro”, frisa o ambientalista.
O Pantanal acolhe 264 espécies de peixes, 652 de aves, 102 de mamíferos, 177 de répteis e 40 de anfíbios. O professor de biologia Marcello Lasneaux explica que, além das espécies próprias, o Pantanal é formado por animais da floresta amazônica, Cerrado e campos. Ele ressalta que o bioma serve de “corredor” para muitos animais de outras regiões, e o possível fim do bioma acarretaria em uma perda considerável da biodiversidade e da abundância da fauna brasileira.
“Isso deverá desfavorecer certas espécies, bem como causar explosão demográfica de outras. Além disso, haverá escassez de água e aumento da vulnerabilidade das populações locais, agravando problemas socioeconômicos na região”, esclarece Lasneaux.
Futuro
O ambientalista Charles Daer lembra que a desertificação está atuando em diversas planícies no mundo, mas que ainda é muito cedo para afirmar que o Brasil vai virar um grande deserto. Daer detalha que as avaliações atuais são baseadas em modelos, que indicam uma redução das chuvas e aumento da temperatura para os próximos anos.
“Olhando o recorte atual, no qual dependemos de água para a geração de energia, podemos ter um problema. Vamos precisar de energia para lidar com as altas temperaturas. O Brasil dificilmente vai virar um grande deserto, mas a situação vai ficar bem crítica”, prevê.
Lasneaux traz a visão que a desertificação é como um câncer que se alastra quase silencionamente. “Se não for contido, pode sucumbir um país inteiro (…) Nossas melhores imagens do espetáculo que a natureza nos proporciona estarão disponíveis apenas digitalizadas para as gerações futuras”, destaca o biólogo.