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O Brasil onde a água não chega às torneiras

Norte do país é a região que mais sofre. Apenas 55% da população local têm acesso ao recurso natural por meio de fornecimento estatal

atualizado

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1 de 1 torneira - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Apesar de o Brasil deter a maior parcela da água doce do planeta, 12% – segundo informações da Agência Nacional de Águas (ANA) –, o recurso natural não chega para toda a população do país. Em pleno século XXI, há mais de 35 milhões de brasileiros sem fornecimento garantido para consumo em suas casas.

O dado é do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2016, levantamento do Ministério das Cidades divulgado em fevereiro deste ano, que também aponta o Norte do Brasil como a região que mais sofre com o abastecimento ineficiente. Lá, apenas cerca de 55% dos cidadãos têm acesso à água por meio de torneiras.

Morador do bairro Brasil Novo, na capital do Amapá – estado onde apenas 35,86% da população recebe água tratada –, Edivaldo Fernandes dos Reis relatou ao Metrópoles sua insatisfação com a dificuldade em obter o recurso natural. “Moro em Macapá desde 1979. A falta de água aqui é um problema que existe há décadas.Temos que cavar poços artesianos para garantir o recurso. Todos os vizinhos fizeram isso. Mesmo assim, a qualidade é péssima. O governo não resolve, então, é cada um por si. Fico entristecido com essa situação, sabendo que há tanta água no país”, disse.

O Metrópoles procurou o Governo do Amapá para questionar sobre as queixas referentes ao fornecimento de água. Entretanto, até o fechamento desta reportagem, não houve resposta.

De acordo com o estudo da pasta das Cidades, o serviço de água tratada atualmente chega para 83,3% dos brasileiros. Há um planejamento do governo federal, denominado Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansa), que auxiliará no processo de ampliação da cobertura para as regiões mais afetadas pela falta de água e de saneamento básico.

A iniciativa é de longo prazo e ainda será implementada para apoiar os governos municipais, que são responsáveis pelo fornecimento. Até 2033, a medida tem como meta aumentar o atendimento de saneamento sanitário para 93% das áreas urbanas e 69% das áreas rurais do país. Já sobre o abastecimento de água tratada, o objetivo é alcançar 100% dos domicílios em meio urbano ainda em 2023.

Saneamento
Edivaldo Fernandes dos Reis conta ainda como instalou a fossa que recebe todo o descarte de resíduos sólidos de sua casa.Sem coleta de esgoto garantida pelo governo do Amapá, a solução também foi fazer a obra por conta própria.

“Esse segmento de saneamento representa o pior serviço que temos no país, tenho certeza, porque é muito ruim”, declarou. “Eu e meus vizinhos tivemos que resolver isso e construir as fossas na parte de trás das casas para evitar contaminação nos poços, de onde pegamos água para consumir”, completou.

Essa é só mais uma história sobre cidadãos brasileiros que ainda não contam com rede de esgoto. Edivaldo não faz parte dos 10% da população da região Norte que têm esse serviço. O percentual é o menor do país, de acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. No Brasil, o registro mostra que 51,92% da população têm acesso aos canais de coleta dos dejetos e que 44,92% dos esgotos são tratados.

Para Édison Carlos, presidente-executivo do Instituto Trata Brasil, entidade que tem o intuito de conscientizar a sociedade sobre problemas relacionados ao assunto, a situação de esgotamento sanitário ainda será dramática por décadas. “Há obras de longa duração e custosas, mas houve afrouxamentos naturais dos governos municipais, estaduais e até Federal em relação a esse assunto”, destacou. “A situação tende a ficar mais grave principalmente em regiões que não possuem saneamento básico”, concluiu.

 

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