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“O autoritarismo detesta o riso”, diz humorista que imitou Bolsonaro

André Marinho, que fez poderosos rirem em jantar com Temer, diz que “não há nada mais broxante que humor chapa branca”

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Fábio Vieira/Metrópoles
André Marinho
1 de 1 André Marinho - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

São Paulo – Conhecido pelas participações diárias no Programa Pânico, da Jovem Pan, e por suas redes sociais, André Marinho, de 26 anos, agora virou até tópico de conversa entre Jair Bolsonaro e Michel Temer.

O jovem foi o humorista responsável por imitar o presidente da República em jantar ocorrido na noite da última segunda-feira (13/9), em São Paulo, que reuniu importantes políticos, jornalistas e empresários em torno de Temer.

O vídeo da brincadeira, que Marinho garante ter sido fruto de um momento de descontração, circulou na terça-feira e mostra os presentes se divertindo com a brincadeira.

Ele disse que o registro foi gravado apenas como forma de recordar o momento, porém acabou repercutindo mais que o esperado e “atraiu a ira majoritariamente de bolsonaristas”.

“Foi um evento social no qual o anfitrião, que adora meu trabalho, pediu que eu fizesse a imitação. Eu, na condição de convidado, fui muito prestigiado ali e fiz algo que faço dia após dia desde os oito anos de idade. O humor para mim é liberdade e o autoritarismo, não importa o lado ideológico, detesta o riso. Eu lamento quem pode ter se sentido ofendido porque foi tão somente uma descontraída sessão de imitações”, falou ao Metrópoles.

“Entendo quem está de fora ver a cena de um jantar opulento com figuras poderosas, e tentar a partir disso chegar a conclusões, teorias da conspiração, mas se tratava apenas de um jantar em torno do ex-presidente Temer que inegavelmente teve um papel para dissuadir os tambores que estavam rufando da ruptura. Ou você aprende a rir ou Rivotril”, acrescentou.

Marinho contou ao Metrópoles que começou a fazer imitações ainda criança, em 2002. O primeiro imitado foi Luís Inácio Lula da Silva, quando recém-eleito presidente da República.

“Eis que adentrei o quarto dos meus pais e comecei a imitar aquela voz carnuda, grossa do metalúrgico, e dali todos que estavam no entorno ficaram maravilhados, ficaram surpresos, e eu gostei da atenção que aquilo acabou atraindo e ali foi descoberto um dom que eu venho cultivando desde então”, falou.

Bolsonaro

Ele destaca a ironia da trajetória das imitações, que começou com Lula, mas foi Bolsonaro, seu adversário, quem lhe deu maior projeção. “Eu fui notando que ele se utilizava de expressões recorrentes e comecei a ir anotando esse gatilho, essas frases que ele usava de forma corriqueira”, diz sobre Bolsonaro, com quem conviveu de perto durante a campanha eleitoral de 2018.

Isso porque André é filho de Paulo Marinho, empresário que ajudou Bolsonaro a se eleger no Rio de Janeiro. Pouco após a posse do presidente, o pai e o filho romperam com o mandatário por divergências.

André diz que a proximidade com a família Bolsonaro foi apenas na campanha, “numa relação que tinha prazo de validade”. A última vez que esteve com o presidente, diz, foi em 30 de outubro de 2018, dois dias após a eleição do segundo turno.

O humorista afirma ter sido responsável por ter escrito, com a própria caligrafia, uma frase na terceira página do discurso lido por Bolsonaro naquele dia: “Nós não governaremos com os olhos nas próximas eleições, e sim nas próximas gerações”.

Ele diz que a única única expectativa que tinha com Bolsonaro era que “houvesse o mínimo de gratidão para que [Gustavo] Bebianno não fosse deixado pelo caminho”. Foi Bebianno o responsável por trazer Paulo e André Marinho para colaborarem com a campanha mas, segundo André, o ex-aliado “foi escorraçado do governo com requintes de crueldade”.

“Dê poder ao homem e verás quem é, e assim que o presidente foi para o Centro Cultural do Banco do Brasil, o centro de transição do governo, o próprio Bebianno já via um semblante diferente, e ali ele revelou sua verdadeira natureza”, conta André.

Para o jovem, “não há nada mais broxante que humor chapa branca”, pois “humor é contestação”. Mas ele admite que, na época em que era próximo de Jair Bolsonaro, por vezes apaziguou suas imitações em favor do presidente.

“Falando aqui, sem demagogia, um sujeito que já incorreu nesse erro, de talvez fazer uma versão mais simpática e menos fiel da realidade. Mas tem um bordão que é uma frase maravilhosa do Roberto Campos, que diz que está mais do que na hora de o Brasil abandonar a chupeta da utopia em favor da bigorna da realidade. E a bigorna da realidade se impôs”, afirma.

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