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Número de mamografias no Brasil tem pior 1º trimestre em 10 anos

Especialista chama a atenção para o crescimento de casos avançados de câncer e para a falta de equipamentos necessários para diagnóstico

atualizado

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Câncer de mama cicatriz
1 de 1 Câncer de mama cicatriz - Foto: iStock

O número de mamografias realizadas por mulheres no Sistema Único de Saúde (SUS) no primeiro trimestre deste ano despencou ao menor nível em 10 anos. Nos meses de janeiro, fevereiro e março, 751.525 mil exames foram feitos pelo SUS, número 24,3% menor que o registrado no último trimestre antes da pandemia provocada pelo novo coronavírus no Brasil, no fim de 2019.

Os dados foram levantados e analisados pelo (M)Dados, núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles, a partir do DataSus, o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. Vale destacar que, por serem recentes, os números de exames podem sofrer alterações posteriormente.

Veja abaixo, o histórico de exames de mamografia realizados no SUS desde 2011:

A maior queda foi registrada nas mamografias de rastreamento de câncer, com uma queda de 26,4% no primeiro trimestre deste ano em comparação ao mesmo período em 2019. Este tipo de exame é recomendado, segundo o Ministério da Saúde e a OMS, para mulheres sem sinais e sintomas, entre 50 e 69 anos, uma vez a cada dois anos. Já a mamografia diagnóstica teve uma redução de 2,7% no período analisado. Este exame pode ser solicitado em qualquer idade, a critério médico.

Presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz afirma que o isolamento ocasionado pela pandemia e as orientações feitas para que consultas e cirurgias eletivas fossem canceladas são responsáveis pela queda nos números de exames realizados, em um país onde os indicadores sobre câncer de mama estão longe de serem positivos.

No Brasil, a estimativa é de que ocorram 66.280 novos casos de câncer de mama, para cada ano do triênio 2020-2022. Esse número corresponde a um risco estimado de 61,61 casos novos a cada 100 mil mulheres no país, segundo estimativa realizada pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). A mortalidade prevista pelo Inca é de 18.068 mulheres por ano (2019).

Já uma pesquisa realizada pelo Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, em parceria com o Observatório de Oncologia, mostrou que apenas 23% das brasileiras descobriram câncer de mama precocemente. A pesquisa analisou dados de 2015 a 2019.

A detecção do câncer em fases inicias é essencial para que os tratamentos tenham sucesso. Esse tipo de tumor pode aumentar em um curto estágio de tempo, levando a paciente para metástase (quando o câncer se espalha em outros órgãos) mais rapidamente.

O câncer possui cinco estágios, sendo o zero o mais leve e o quatro o mais avançado. O tratamento para a doença é definido segundo o grau em que a doença se encontra na mulher. É também a partir disso que a opção por tratamentos menos ou mais evasivos, como a própria retirada da mama, é feita.

Para Holtz, os atrasos nos diagnósticos durante a pandemia vão ocasionar uma alta no número de mulheres que descobrirão tardiamente a doença.

“Vamos ter que lidar, depois que a pandemia passar, com casos onde mulheres já vão descobrir tardiamente que têm o câncer. E, por mais avanços tecnológicos que tenhamos para tratamento, eles não vão estar disponíveis para todo mundo”, completa.

A especialista chama a atenção também para a falta de aparelhos de mamografia nos municípios brasileiros e para a má distribuição deles em regiões precárias do país. Ultimo estudo do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) mostrou que o SUS conta com 2.102 aparelhos; 40% deles, na Região Sudeste do Brasil.

A vendedora Socorro Cardoso, 41, é moradora de Abaetetuba, cidade do interior do Pará, e mudou toda a sua vida para tratar de um câncer de mama descoberto no início de março do ano passado, logo no começo da pandemia do novo coronavírus no país.

Com a suspeita levantada pelo marido, ela começou uma corrida até o tratamento da doença. Com o sufocamento do SUS pelo avanço da Covid e o fechamento de clínicas frente à incerteza da pandemia, Socorro conseguiu apenas realizar o exame de mamografia em Belém, a duas horas de distância da cidade natal.

“Tudo estava fechado, inclusive as clínicas particulares. Eu não conseguia marcar nada por aqui no SUS, então tive que ir para Belém. Lá, descobri que tinha câncer no segundo estágio da doença. Foi desesperador”, conta.

Sem previsão de tratamento nem mesmo no hospital de referência da cidade, Socorro voltou para Abaetetuba com uma missão; vendeu todos os bens da família e, com o marido e os dois filhos, se mudou para Belém para começar o tratamento em uma clínica particular.

“Foi difícil, pois largamos absolutamente tudo que tínhamos para ir em busca de uma cura. Fomos embora sem olhar para trás”,  lembra.

Um ano depois que começou o tratamento, Socorro está em remissão e de volta para sua cidade, mas se emociona ao lembrar que nem todas têm a mesma sorte que a sua. “Para mim já foi difícil, mas imagina para alguém que não conseguiria fazer como fiz?”, lamenta a vendedora, que perdeu recentemente uma amiga para a mesma doença: “Ela faleceu antes de conseguir o tratamento no SUS”, conta, emocionada.

Em outubro, mês de conscientização do câncer de mama, Socorro realizou um ensaio fotográfico para influenciar outras mulheres a se cuidarem: “Uma hora você está bem, e depois que você descobre o câncer parece que um buraco se abre em sua vida. É difícil pensar que eu tive câncer, mas sou muito feliz por conseguir a cura”.

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"É difícil pensar que eu tive câncer, mas sou muito feliz por conseguir a cura", diz Socorro.
Socorro Cardoso descobriu o câncer durante a pandemia.
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Sem previsão de atendimento no SUS, ela e a família venderam todos os bens e se mudaram da cidade de Abaetetuba, interior do Pará, para a capital.

Arquivo Pessoal / Metrópoles
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"É difícil pensar que eu tive câncer, mas sou muito feliz por conseguir a cura", diz Socorro.

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Socorro Cardoso descobriu o câncer durante a pandemia.

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Ao contrário de Socorro, a advogada Pamella Amorin, 31, tinha acesso a hospitais e clínicas particulares devido ao plano de saúde da empresa em que trabalha. Mesmo assim, adiou o exame preventivo no começo do ano passado, devido à pandemia do coronavírus. “Demorei pelo medo de sair de casa. Depois, eu não conseguia marcar, mesmo pelo plano, pois tudo estava sem agendas, com horários reduzidos”, conta.

Moradora da cidade de Contagem, região metropolitana de Minas Gerais, Pamella só conseguiu realizar sua mamografia em janeiro deste ano, com o diagnóstico de câncer no terceiro estágio da doença. Neste mês, segundo seu médico, um dos tumores que não era perceptível agora está aparente.

Pamella vai começar o tratamento em breve, e se mostra otimista. “Tenho uma filha que depende de mim, e vou lutar por ela. Tenho fé em que tudo se resolva e eu fique curada, por ela”, conclui a advogada.

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