Novo protesto anti-Bolsonaro será “teste de tolerância” para grupos rivais
Neste sábado deve haver atos em todo o país. Opositores ainda resistem a abraçar manifestantes de partidos de centro e direita
atualizado
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Manifestantes vão às ruas pela quarta vez no ano, neste sábado (23/7), em pelo menos 488 cidades do país pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Além de partidos da oposição e integrantes de movimentos sindicais, que marcaram os atos, militantes de siglas e movimentos de centro e de direita que também criticam o presidente são esperados.
Depois da confusão em São Paulo entre integrantes do PCO e do PSDB durante o último protesto nacional, contudo, organizadores sabem que o novo ato nacional será uma espécie de “teste de tolerância” para essa união pelo impeachment.
Na capital do país e onde mora Bolsonaro, a movimentação começa às 15h e terá concentração no Museu da República, com previsão de seguir em direção ao Congresso Nacional, na Esplanada dos Ministérios. Os organizadores, em todos os estados, recomendam a utilização de máscaras de proteção contra a Covid-19 (modelo PFF2, de preferência) e álcool em gel, além do distanciamento social.
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Os atos são organizados por movimentos sociais, partidos políticos e sindicatos. Eles pedem, principalmente, o impeachment do chefe do Executivo, mas também o aumento do valor do auxílio emergencial, a aceleração da vacinação contra a Covid-19 e mais investimento em educação.
A página Povo na Rua Fora Bolsonaro, que atualmente reúne quase 70 mil seguidores no Instagram, é uma das principais articuladoras dos eventos e reúne informações gerais sobre as manifestações. Brasília é uma das ao menos 100 cidades no Brasil e no mundo com atos previstos contra o mandatário da República neste sábado.
Veja fotos dos últimos atos:
Participação partidária
Partidos políticos mais à esquerda puxaram os atos anteriores, como PT, PSol, PCdoB, PCB, UP, PCO e PSTU, mas a ideia começou a ser ampliada e a mobilização ganhou mais apoio do centro e mesmo da direita contra Bolsonaro.
Na última manifestação contra a gestão do presidente, no dia 3 de julho, porém, ocorreu um incidente no qual um integrante do Partido da Causa Operária (PCO) entrou em conflito e agrediu outro, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). O militante tentava expulsar o tucano do ato na Avenida Paulista, em São Paulo, que também pedia a saída de Bolsonaro. Era a primeira vez que integrantes do PSDB iam, com estímulo formal do partido, aos protestos contra o presidente.
Depois do ocorrido, movimentos sindicais e representantes partidários da esquerda paulista se reuniram para alinhar a conduta dos integrantes diante de eventuais participações de filiados a siglas de centro e centro direita, tentando impedir conflitos.
Debate
O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Distrito Federal, Oton Pereira Neves, é contrário à participação de grupos ligados ao centro, já que, segundo ele, “foram eles próprios que elegeram” o presidente Jair Bolsonaro.
“O Sindsep-DF é totalmente contra a participação desses partidos nos atos, especialmente, em conjunto. Não dá pra misturar os atos com quem provocou todo esse caos político, social, econômico: foram os partidos de centro, a partir do momento em que eles deram o golpe na ex-presidenta Dilma, sem nenhuma razão”, opina o sindicalista.
“Somos contra, mesmo porque os partidos de centro são inimigos da classe trabalhadora, sempre foram, mas evidente que todo mundo tem o direito de se manifestar. Eles que chamem atos, de forma que não fiquem juntos com os dos partidos de esquerda, sindicatos, movimentos centrais e etc.”, complementa.
Alguns ainda veem com muita resistência a ida às ruas para se manifestar, já que em eventuais aglomerações ficam mais suscetíveis ao contágio pela Covid.
O Movimento Brasil Livre (MBL), por exemplo, acredita que as manifestações contra Bolsonaro sejam necessárias, mas decidiu evitar integrar os atos antes de setembro, que é quando acreditam que vai haver uma maior segurança sanitária para ir às ruas.
“O momento não é adequado para manifestação, pois a vacinação ainda não atingiu níveis seguros. Por isso, convocamos atos para o dia 12 de setembro, quando atingiremos índices tranquilos. Ainda é cedo para os partidos aderirem às manifestações”, ressalta Rubinho Nunes, um dos cofundadores do MBL.
O deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), que também é membro do MBL, acredita que a adesão dos partidos de centro é fundamental para a concretização do impeachment, mas que o momento certo é a partir de setembro, com a vacinação avançada.
“Acho fundamental. Sem esse bloco não é possível derrubar o presidente. Foi só depois de virar o MDB que o impeachment contra a Dilma tornou-se sério”, disse o parlamentar.
Mudança de posição de Bolsonaro
Na campanha eleitoral, Bolsonaro tentava se diferenciar do bloco político chamado de Centrão. Em vídeos promocionais, o atual chefe do Executivo brasileiro era crítico ferrenho dos partidos do bloco.
Assim que foi oficializado como candidato à Presidência, à época, pelo Partido Social Liberal (PSL), Bolsonaro disse, durante uma convenção da sigla, que o rival Geraldo Alckmin (PSDB) estava cercado pela “nata do que há de pior no Brasil”. O candidato tucano, à época, havia recebido apoio dos partidos do Centrão.
“De um lado está a esquerda. De outro, o Centrão. Vou até agradecer Alckmin por ter juntado a nata do que há de pior no Brasil ao seu lado. Costumo dizer que algo tão mais grave que a corrupção é a questão de ideologia que tomou parte do Brasil”, disse Bolsonaro em 2018 – que, durante toda a vida política, integrou partidos que compõem o bloco, como PP, PTB, DEM e PSC.
Alguns dias depois, em um vídeo para a campanha, o então candidato criticou: “De um lado, o Centrão, com essa gente que você muito conhece. De outro, a esquerda, que teima em voltar ao poder. Juntos, têm todo o tempo de televisão e de rádio, bem como quase R$ 1,7 bilhão para investir em campanha”, disse Bolsonaro.
Na última semana, contudo, Bolsonaro mudou completamente de discurso. Seu governo já havia cedido grandes espaços a partidos aliados nos últimos meses, e agora o presidente está promovendo nova reforma ministerial na qual colocará um integrante do Centrão no ministério mais importante do governo. O presidente disse que não tem como governar sem o bloco.
“Centrão é um nome pejorativo. Eu sou do Centrão, eu fui do PP metade do meu tempo, fui do PTB, fui do então PFL. No passado, integrei siglas que foram extintas, como PRB, PPB. O PP, lá atrás, foi extinto. Depois, nasceu novamente da fusão do PDS com o PPB, se não me engano”, disse em entrevista à Rádio Banda B de Curitiba, parceira do Metrópoles.
“Nós temos 513 parlamentares. O tal Centrão, o chamam pejorativamente disso, são alguns partidos que lá atrás se uniram na campanha do Alckmin e ficou, então, rotulado Centrão como algo pejorativo, algo danoso à nação. Não tem nada a ver, eu nasci de lá”, defendeu, numa reviravolta retórica.