Novo estudo do Inpe diz que óleo em praias veio do mar da África
Hipótese refuta a tese de vazamento por navio em área mais próxima da costa brasileira; contaminação já atingiu 129 municípios
atualizado
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Estudos realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que a origem do derramamento de petróleo no litoral brasileiro estaria a milhares de quilômetros da costa do país. Mais precisamente as avaliações indicam que o óleo teria se deslocado da região sul do mar da África, em abril, até chegar à costa brasileira, em setembro.
Essa hipótese refuta completamente a linha mais recente de investigações divulgadas pela Marinha e pela Polícia Federal, que apontaram, como principal suspeito da tragédia, o navio Bouboulina, da empresa grega Delta Tankers.
No início de novembro, o Ministério da Defesa, a Marinha e a PF declararam que, por meio de geointeligência, haviam identificado uma imagem de satélite do dia 29 de julho relacionada a uma mancha de óleo a 733,2 quilômetros da costa brasileira, na região leste do Estado da Paraíba. De um dia para o outro, essa mancha teria aparecido, na região por onde o navio passava.
A Delta Tankers negou qualquer tipo de incidente com a embarcação e se prontificou a auxiliar nas investigações. Nesta semana, a Marinha evitou falar sobre o assunto em audiência na CPI do Óleo, instalada na Câmara dos Deputados.
A nova hipótese de que o local de origem seria o mar na região sul da África é detalhada por Ronald Buss de Souza, pesquisador do Inpe que atua no Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA) da crise do óleo.
Oceanógrafo, Souza é chefe de gabinete e diretor substituto do Inpe. Segundo o especialista, modelos estatísticos que levam em consideração situações tecnicamente reconhecidas sobre as correntes marítimas, vento e ondas indicam que o óleo, que efetivamente chegou ao litoral de forma submersa, teria como origem a região sul da África.
O pesquisador, no entanto, não detalhou se seria um acidente com embarcações ou um vazamento.
Material pode estar estocado no fundo do oceano
O Inpe considera ainda que, apesar de não terem surgido novas manchas no litoral brasileiro, há chances de que parte do óleo ainda possa estar estocado no fundo do mar, preso a sedimentos.
“A gente tem uma hipótese principal de que esse derrame ocorreu a partir de abril deste ano, e as manchas só chegaram ao país, em subsuperfície, de maneira difícil de ser detectada através de imagem de satélite, em setembro”, comentou Ronald Buss de Souza, que participou da reunião da CPI do Óleo, nessa quarta-feira (11/12/2019).
A Marinha tem reafirmado que o óleo seria uma mistura de petróleo com origem em poços da Venezuela. Passados mais de cem dias desde a primeira ocorrência do derramamento no litoral da Paraíba, em 30 de agosto, uma faixa de 3,6 mil quilômetros do litoral já foi atingida pelo óleo. São 942 localidades de 129 municípios nas Regiões Nordeste e Sudeste.
O levantamento das ações feitas por Marinha, Ibama e demais órgãos que atuam na retirada do petróleo cru aponta que 5 mil toneladas de óleo já foram coletadas.
Hipóteses para o derramamento
Navio grego
O navio Bouboulina, da empresa grega Delta Tankers, foi considerado suspeito pelo vazamento de óleo que atinge o litoral brasileiro. Em novembro, a Polícia Federal deflagrou operação em companhias ligadas à embarcação.
Trajeto sem incidentes
Análises da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e de uma organização americana, a Skytruth, não viram relação entre o navio grego e as manchas de óleo. O Bouboulina teria seguido uma trajetória sem incidentes.
Ilhas Marshall
Estudo da Ufal indicou a possibilidade de que o navio Voyager I, de bandeira das Ilhas Marshall, tenha causado o vazamento.
Sul da África
Agora, uma pesquisa do Inpe indica que o óleo teria se deslocado da região sul do mar da África, em abril, chegando à costa brasileira em setembro.