metropoles.com

Nove brasileiros já tomaram o remédio mais caro do mundo; ao menos 35 estão na fila

Produzido pela suíça Novartis, o fármaco Zolgensma surpreende pela tecnologia e pelo valor: uma única dose custa US$ 2,125 milhões

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Reprodução/Instagram
Bebê Helena
1 de 1 Bebê Helena - Foto: Reprodução/Instagram

Em meio a uma disputa envolvendo o governo federal e os pais de pacientes com atrofia muscular espinhal (AME), doença genética rara que leva à morte nos primeiros anos de vida, o remédio Zolgensma recebeu os holofotes pela tecnologia avançada e pelo preço: uma única dose custa US$ 2,125 milhões, o equivalente a cerca de R$ 12 milhões.

Criado pela empresa AveXis, do grupo farmacêutico suíço Novartis, o medicamento é um grande passo para o tratamento da doença. No entanto, o preço do composto lançou debate em escala mundial: quem pode pagar esse valor por um remédio?

Segundo a própria empresa, mais de 600 pessoas em todo o mundo, inclusive brasileiros, já bancaram o fármaco. Para efeito de comparação, estima-se que um em cada 10 mil nascidos tenha a doença e que há, aproximadamente, 8 mil casos no Brasil. Cerca de 90% dos pacientes com essa enfermidade morrem aos 2 anos.

De acordo com levantamento do (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, com base em depoimentos nas redes sociais e reportagens, pelo menos nove crianças brasileiras já conseguiram o remédio, pago com doações ou por meio de decisões judiciais. Outras 35 ainda estão lutando contra o tempo, como é o caso da brasiliense Helena Gabrielle Ferreira, de apenas 9 meses (foto de destaque).

 

Ver essa foto no Instagram

 

Uma publicação compartilhada por Campanhas AME Brasil (@campanhas_amebrasil)

“É uma terapia gênica inovadora para o tratamento de uma doença genética grave e progressiva e tem um preço consistente em todo o mundo sob uma estrutura baseada em valor. É importante reforçar que o custo de tais terapias reflete décadas de pesquisas científicas, investimentos em cadeia logística e manufatura em larga escala, bem como custos diretos e indiretos com capacitação de centros de referência, hospitais e profissionais de saúde”, explica a empresa, em nota.

Para a Novartis, o Zolgensma é uma economia a longo prazo em comparação com atuais terapias, que são contínuas.

Em artigo publicado no Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, Jorge Bermudez, chefe do Departamento de Política de Medicamentos e Assistência Farmacêutica da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), argumentou que o montante torna o tratamento proibitivo até mesmo para pessoas com alta renda.

“Não é por acaso que uma das principais polêmicas durante a 72ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada de 20 a 28 de maio de 2019, em Genebra, foi uma proposta de resolução apresentada por diversos países exigindo maior transparência dos mercados de medicamentos, vacinas e outras tecnologias de saúde”, assinalou Bermudez.

“Os monopólios, de fato ou de direito, levam à fixação de preços elevados e constituem barreiras ao acesso das nossas populações a medicamentos, impedindo a competição genérica. Não se trata de proteção patentária para recuperar recursos investidos em pesquisa e desenvolvimento, mas de lucro extorsivo e desmedido. Até onde vai a cobiça desse setor?”, questionou.

O remédio

No tratamento com Zolgensma, uma espécie de vírus modificado em laboratório, sem efeito no corpo humano, é injetado na veia do paciente com a finalidade de levar uma cópia saudável do gene SMN1 para os neurônios especializados em controlar a contração muscular. O resultado é a correção do DNA afetado, uma cura genética.

A princípio, o remédio é indicado para crianças de até 2 anos, e os resultados perduram por até meia década após a administração da dose. Segundo os responsáveis pelo produto, a duração pode ser maior, mas ainda é preciso esperar a evolução dos pacientes que usaram o Zolgensma recentemente.

Medicamento no Brasil

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, em agosto, o registro do Zolgensma. Na última sexta-feira (4/12), a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) autorizou o preço máximo de comercialização do fármaco, liberando-o para ser vendido no Brasil. O valor, no entanto, ainda é um mistério. A Anvisa ainda não informou quanto vai custar o remédio no país. Em nota, limitou-se a dizer o seguinte: “Caso discorde do preço aprovado, a empresa requerente ainda tem a possibilidade de recorrer ao Conselho de Ministros da CMED”.

Nas redes sociais, muitos pedem celeridade no processo. “Por favor, CMED, se posicione, pois a AME não espera. Temos centenas de crianças que podem perder a chance de ter acesso aa essa medicação. O Zolgensma, além do custo absurdo, tem limitação de idade e peso. É uma corrida contra o tempo. Não trabalhem com o prazo-limite. Emitam o relatório indicando o valor máximo a ser cobrado por essa medicação no Brasil”, escreveu perfil dedicado a divulgar campanhas de bebês e crianças com a doença.

O remédio vem para somar com a Spinraza, da Biogen, única opção até agora no país, com custo de R$ 1,3 milhão por ano. Em abril, o Ministério da Saúde assinou a incorporação do composto à Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) para pacientes com AME – isso significa que o fármaco está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?