Nos EUA, Bernie Sanders apoia Haddad em ideia de taxar super-ricos

Terminando sua rodada de compromissos em Washington, nos Estados Unidos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, recebeu o apoio do senador americano Bernie Sanders, símbolo da esquerda naquele país, à sua proposta de taxação dos super-ricos.

“Precisamos de justiça ao redor do mundo, e vou fazer meu melhor para que os Estados Unidos sigam isso”, disse Sanders em entrevista ao lado de Haddad nesta quinta-feira (18/4).

O senador exemplificou que, nos EUA, um bilionário paga menos impostos do que um motorista de caminhão ou uma enfermeira. “E isso é absurdo”. Ele ainda afirmou que o presidente americano, Joe Biden, está trabalhando no tema, mas disse entender que o assunto precisa ser tratado globalmente.

Participando nesta semana do Encontro de Primavera dos Ministros das Finanças e Presidentes de Bancos Centrais, que também inclui a segunda reunião da trilha financeira do G20, Haddad defendeu sua agenda de taxação dos super-ricos a ministros de outras nações.

A proposta, que recentemente recebeu endosso da França e da Espanha, consiste na criação de um sistema tributário internacional. Os impostos corporativos internacionais teriam alíquota de 20% e seria constituído um fundo que seria complementado com a taxação da riqueza dos super-ricos.

Essa ideia vem sendo desenhada pelos economistas Gabriel Zucman e a prêmio Nobel de Economia Esther Duflo. O fundo teria US$ 500 bilhões, recursos que seriam canalizados para projetos socioambientais, com o objetivo de combater a pobreza e as mudanças climáticas.

Questionado se a proposta é realista para um grupo de países diverso como o G20, Bernie Sanders respondeu que a ideia não será implementada “amanhã”, mas “assim que possível”, porque é uma questão global. “Eu apoio fortemente [essa proposta] e vamos fazer o possível para que a administração Biden e os Estados Unidos embarquem nessa”.

“Ninguém — seja vivendo na China ou no Canadá ou nos EUA ou no Brasil — acha que faz sentido que pessoas com riqueza incrível não paguem um centavo em impostos. Quem pensa que isso faz sentido? Ninguém. É difícil unir as nações, mas eu aplaudo a liderança do Brasil, a liderança do ministro e é algo que nós temos que fazer”, concluiu o americano.

Sistema de saúde

Outro tópico que o ministro brasileiro disse ter discutido com Sanders foi o sistema único de saúde brasileiro, o SUS.

“É algo que os Estados Unidos podem implementar com muita rapidez. Se nós levarmos em conta a renda per capita americana seria uma fração pequena que seria envolvida nisso. E a desmercantilização da saúde nos Estados Unidos traria um benefício social enorme para a sua população. Ou seja, tornar a saúde um bem público”, defendeu Haddad.

Sanders reagiu, entre risos, à fala do ministro: “Você está fazendo o discurso que eu venho fazendo há 20 anos”.

Inflação

Haddad ainda afirmou que só ouviu no G20 elogios ao combate à inflação no Brasil. Ele foi perguntando sobre as altas taxas de inflação ao redor do mundo.

“Não se pode confundir preço alto com alta de preço, são coisas diferentes. Nós estamos trabalhando nas duas frentes e o aumento do salário real no Brasil foi o maior em 28 anos em 2023. Só em 1995, por ocasião do Plano Real, nós tivemos um incremento da renda do trabalho equivalente ao que aconteceu no ano passado.”

Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do Brasil, ficou em 0,16%, mostrando desaceleração em relação a fevereiro, quando parou em 0,83%.

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