Nos EUA, à espera do Banco Mundial, Weintraub tem tema único: “Liberdade”
O ex-ministro da Educação tem usado o Twitter no último mês para, frequentemente, defender a “liberdade da escravidão socialista”
atualizado
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Envolto em polêmicas desde que assumiu o Ministério da Educação, o agora ex-ministro Abraham Weintraub continua usando o Twitter para se comunicar com fãs e apoiadores enquanto espera assumir o cargo no Banco Mundial, prometido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
A rede social do passarinho virou um dos meios favoritos do ex-titular da Educação desde que ganhou “fama”. Nos Estados Unidos, Weintraub já publicou 504 posts, considerando tweets e retweets, segundo análise do (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles. Entre ataques à esquerda e exaltação à direita, a maior parte das publicações, 21% das 60 escritas por ele, pede “liberdade”. Nos textos, ele cita “escravidão socialista” e “comunismo”.
“A luta contra a escravidão socialista será longa. A eleição do presidente Jair Bolsonaro foi só o começo. Os inimigos são ricos e poderosos, porém, finalmente enxergamos a estrutura do mal. Cada brasileiro que desperta nos torna mais fortes. Liberdade”, escreveu no início de julho. “Nunca abandone a luta pela liberdade”, pediu logo depois.
Entre as palavras preferidas, também estão “socialismo”, repetida 8 vezes, “comunismo”, 6, e “blogueiros”, referindo-se a jornalistas. No último caso, em seis tweets, ele mencionou a imprensa.
Os temas educação, sua antiga pasta, e economia, do seu possível futuro cargo, foram pouco explorados. O último, inclusive, apenas citado como assunto de um vídeo em seu canal do YouTube. “Você é conservador? Você é de direita? Fiz uma palestra sobre economia e, na parte final dela, abordei essas questões”, avisou.
Sem papas na língua
Abraham Weintraub tem aproveitado esse tempo de “folga” dos cargos políticos para emitir opiniões mais calorosas. O tom, já adotado quando defendeu, no início de 2020, a máxima “Meu Twitter, minhas regras” tem se firmado ainda mais.
No dia 2 de julho, por exemplo, citou a jornalista Miriam Leitão ao falar da cachorra dele, Capitu. “Coitada da Capitu, está bem velhinha e perdeu os dentes da boca. A jararaca da Miriam leitão, que também está acabada, poderia emprestar a dentadura dela. Eu sei que é nojento, porém, a Capitu não liga. Afinal, ela é apenas uma cadela”, tweetou.
“Será que o governador Dória vai aproveitar esse período de máscara para fazer preenchimento labial?”, escreveu, cutucando o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
E mais: em resposta a uma ofensa de um internauta, ele não titubeou. “Nunca passou pela minha cabeça introduzir uma bala em meu ânus. Agradeço a dica, porém, não é meu estilo. Pela cara na foto, qual o calibre que você usa? 308? .50? 12?.”
Pedido de demissão
O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub foi exonerado no dia 18 de junho, por determinação do presidente Jair Bolsonaro. A medida foi tomada pelo chefe do Executivo federal após o titular da pasta se tornar alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). O anúncio foi feito em um vídeo, com os dois lado a lado, publicado no Twitter de Weintraub.
Relembre:
Agradeço a todos de coração, em especial ao Presidente @jairbolsonaro
O melhor Presidente do Brasil!
LIBERDADE!https://t.co/zYLGh4hntI— Abraham Weintraub (@AbrahamWeint) June 18, 2020
Porém, a oficialização da saída do governo só ocorreu no dia 20 de junho, após Weintraub já ter viajado para Miami (EUA).
A polêmica saída do país foi intercessão do Ministério das Relações Exteriores, conforme a pasta confirmou ao jornal Folha de S.Paulo nessa segunda-feira (27/7). Segundo a publicação, o visto foi requisitado no passaporte diplomático do ex-titular do MEC. O pedido encaminhado pelo Itamaraty à Embaixada dos Estados Unidos também informava que a missão de Weintraub no Banco Mundial se dará de 19 de junho a 31 de dezembro deste ano.
O Itamaraty informou, em nota, que o próprio Weintraub comunicou ao chanceler Ernesto Araújo que iria assumir o cargo de diretor-executivo no Banco Mundial. Por isso, o ex-ministro solicitava os “bons ofícios” das Relações Exteriores para requerer o visto.
Investigação no STF
Weintraub é investigado pelo STF no âmbito do Inquérito das Fake News por ter falado em prisão de ministros da Corte e os xingado de “vagabundos”. O ex-ministro também enfrenta outra ação, por suposta prática de racismo ao ironizar a China.