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No RS, vereador pede que vinícolas contratem argentinos, e não baianos

Bolsonarista Sandro Fantinel (Patriota), de Caxias, criticou ação contra trabalho escravo e atacou baianos vítimas de exploração. Veja vídeo

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imagem colorida do vereador Sandro Fantinel, de Caxias do Sul, segurando uma arma
1 de 1 imagem colorida do vereador Sandro Fantinel, de Caxias do Sul, segurando uma arma - Foto: Reprodução/Instagram

Um vereador de Caxias do Sul (RS) usou a tribuna da Câmara da cidade para tratar os cidadãos baianos de forma preconceituosa e criticar a operação que resgatou 208 trabalhadores de exploração análoga à escravidão na cidade vizinha, Bento Gonçalves (RS). Sandro Fantinel (Patriota) aconselhou produtores da região a não contratar trabalhadores vindos da Bahia e, em vez disso, buscar mão de obra de argentinos. “São limpos”, justificou o parlamentar, em sessão na última terça-feira (27/2).

O resgate dos trabalhadores que eram mantidos em alojamento apertado e sem higiene, tratados sob ameaças e até agredidos com choques e spray de pimenta está causando enorme repercussão desde a semana passada, pois eles eram explorados em grandes vinícolas da região.

Para o vereador Sandro Fantinel (imagem em destaque), porém, a denúncia é “exagerada e midiática” e teria sido feita com motivos políticos, como forma de atingir o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem o parlamentar é fã. “Como é de costume, o empresário é tratado como vilão”, reclamou Fantinel. “Agora o patrão vai ter que pagar empregada para fazer limpeza todos os dias para os bonitos? Temos que botar em hotel 5 estrelas para não ter problema com o Ministério do Trabalho?”, questionou ele, antes de partir para as críticas aos baianos – que foram maioria entre os resgatados.

“Agricultores, produtores vou dar um conselho para vocês: não contratem mais aquela gente lá de cima”, disse, referindo-se aos baianos e se colocando à disposição para ajudar a criar “uma linha” para a contratação de argentinos para o trabalho de colheita de uvas.

“Todos os trabalhadores que têm argentinos trabalhando hoje só batem palmas. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantém a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão. Agora com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que fosse ter esse tipo de problema”, disparou o vereador.

“Deixem de lado. Que isso sirva de lição, deixem de lado aquele povo, que é acostumado com carnaval e festa, pra vocês não se incomodarem novamente”, completou.

Veja:

A fala de Sandro Fantinel foi seguida de protestos da bancada do PT na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul e foi acatada pela presidência da Casa uma questão de ordem pela retirada da manifestação dos anais da instituição, onde ficam registrados todos os discursos de parlamentares.

Após a sessão, vereadores de esquerda começaram a se articular para pedir a cassação do mandato de Fantinel por quebra do decoro parlamentar.

Entidade empresarial associou falta de mão de obra a programas assistenciais

Em outra manifestação polêmica sobre o resgate dos trabalhadores, uma entidade que representa o setor produtivo de Bento Gonçalves criticou programas de transferência de renda.

Para o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), esse tipo de programa, como o Bolsa Família, leva a uma carência de mão de obra que está relacionada a casos como o resgate de 208 trabalhadores que estavam sendo explorados na colheita de uvas na região.

“Situações como esta”, diz nota da entidade divulgada no fim de semana, “infelizmente, estão também relacionadas a um problema que há muito tempo vem sendo enfatizado e trabalhado pelo CIC-BG e poder público local: a falta de mão de obra e a necessidade de investir em projetos e iniciativas que permitam minimizar este grande problema”.

A crítica ao assistencialismo vem na frase seguinte: “Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade”.

A publicação da nota causou perplexidade e revolta nas redes sociais, e muitas cobranças e ataques têm sido feitos nos perfis do próprio CIC-BG em redes sociais como Instagram e Facebook.

“Vocês estão de brincadeira com essa nota, certo? Justificam o ocorrido como falta de mão de obra, sendo que a mão de obra que estava disponível foi tratada dessa maneira?”, cobrou um dos internautas em reação à postagem da nota no Instagram.

Como denunciar o trabalho escravo

Denúncias de trabalho análogo à escravidão podem ser feitas de forma anônima no Sistema Ipê, do Ministério do Trabalho em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

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