No rastro da dengue, casos de chikungunya aumentam no Brasil
Brasil registrou 84.626 casos prováveis de chikungunya durante os primeiros três meses de 2023, contra 141.212 no mesmo período de 2024
atualizado
Compartilhar notícia
O Brasil registrou, até terça-feira (2/4), 2.624.300 casos prováveis de dengue, o número representa um recorde em comparação com anos anteriores, segundo informações do próprio Ministério da Saúde. Em meio ao avanço da doença, a chikungunya, também transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, tem registrado aumento ao longo de 2024.
O país já contabilizou 117.259 casos de chikungunya e 46 mortes pela doença este ano. Apenas nos primeiros três meses deste ano, foram registrados 141.212 casos de chikungunya, um aumento de 66,8% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Confira o aumento de casos da chikungunya:
O coeficiente de incidência da doença no Brasil é de 57,8 casos para cada grupo de 100 mil habitantes.
Minas Gerais é o estado com a maior incidência da doença, com 358 casos para cada 100 mil habitantes. Seguido por Espírito Santo (144,1), Mato Grosso do Sul (127,4), Mato Grosso (124,8) e Goiás (63).
Veja a distribuição da doença no país:
Gabriela Leite de Camargo, médica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), aponta que o aumento de casos das duas doenças está relacionado porque elas possuem o mesmo vetor, o mosquito Aedes aegypti.
“A principal relação entre o aumento de casos de dengue e o aumento de casos de chikungunya é porque as doenças compartilham o mesmo vetor, que é o mosquito fêmea do Aedes aegypti. Está acontecendo um aumento considerável dos vetores por questões ambientais, que estão fazendo com que realmente o potencial de surto aumente muito”, explica a médica da UERJ.
Apesar do vetor, o pesquisador Christovam Barcellos, do Observatório de Clima e Saúde, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), destaca que a chikungunya tem menor incidência do que a dengue porque demora mais a se espalhar.
“O que podemos dizer é que a incidência de chikungunya é sempre menor que a de dengue e que os casos demoram mais para se espalhar numa comunidade. Uma das razões é que as pessoas (os infectados e os médicos) podem confundir os sintomas das duas doenças. Em geral, as pessoas procuram as unidades de saúde quando a dor articular é muito forte. Isso depois de uma semana ou até um mês depois dos primeiros sintomas”, pontua Christovam Barcellos.
Médico infectologista Claudilson Bastos, consultor técnico do Sabin Diagnóstico e Saúde, esclarece que as duas doenças, inclusive, possuem sintomas semelhantes, o que pode dificultar o diagnóstico.
“Dengue e chikungunya, eles são bem semelhantes, mas existem algumas diferenças básicas entre eles. Por exemplo, chikungunya leva a dores articulares bem significativas, e essas dores articulares, das pequenas e grandes articulações, ela pode perdurar por um tempo maior, e aí ela pode se tornar uma doença crônica prolongada”, afirma Claudilson Bastos.
“Dengue não causa isso, porém, a dengue pode causar fenômenos hemorrágicos. Na dengue grave, com os sangramentos, algo que chikungunya não levaria”, completa o consultor técnico do Sabin Diagnóstico e Saúde.
Casos de dengue
O Brasil registrou bateu recorde de casos de dengue neste ano. No entanto, a doença tem demonstrado retração no Acre, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Piauí, Roraima e Distrito Federal, segundo dados do Ministério da Saúde.
“Já temos oito estados com tendência de queda consolidada. Doze estados com tendência de estabilidade. Isso significa que já passaram o pico. Os estados que estão com tendência de aumento são sete”, disse a secretária de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel, durante entrevista coletiva nessa terça-feira (2/4).
A médica da UERJ defende que as mudanças climáticas são os principais agravantes do aumento de casos de dengue no país, como o desmatamento e a emissão de gases de efeito estufa, que são mais evidentes durante o verão, que terminou no último 20 de março.
“No Brasil isso [aumento dos casos de dengue] acontece geralmente no verão, a gente já tem um clima quente e úmido, e tem piorado muito com essas ondas de calor, com os problemas climáticos. Então, é importante a gente ter noção do nosso impacto no meio ambiente”, enfatiza Gabriela Leite.
Apesar do índice de redução, o Ministério da Saúde e especialistas reforçam a necessidade de combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya. Como limpar reservatórios de água, guardar pneus em locais cobertos, guardar garrafa com a boca virada para baixo e realizar a limpeza periódica de ralos e outros tipos de escoamentos de água.
Em uma ação a longo prazo, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem oferecido a vacina contra a dengue para pessoas de 10 a 14 anos em municípios selecionados. De acordo com o diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunização, Eder Gatti, já foram distribuídas 1.235.119 doses do imunizante.