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No maior cemitério da América Latina, parentes de vítimas da Covid-19 revivem luto

Cemitério de Vila Formosa, em São Paulo, chegou a sepultar 80 pessoas por dia e ficou famoso com foto aérea de dezenas de covas

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Véspera do primeiro Dia de Finados após a pandemia. Cemitério Vila Formosa18
1 de 1 Véspera do primeiro Dia de Finados após a pandemia. Cemitério Vila Formosa18 - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

São Paulo – A pandemia que até o momento ceifou a vida de 160 mil brasileiros abre, na memória coletiva do país, espaço para cenas dramáticas, como a da terra fresca de dezenas de covas abertas lado a lado num momento em que as mortes por coronavírus aceleravam.

Estampadas na capa do jornal norte-americano The Washington Post no começo de abril de 2020, as sepulturas cavadas no Cemitério da Vila Formosa, na capital paulista, foram fechadas em enterros com público restrito e tempo contado.

Com a flexibilização das regras neste Dia de Finados, muitos parentes voltam ao local para uma espécie de complemento da despedida, agora com mais calma e reflexão.

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O Cemitério da Vila Formosa foi fundado em 20 de maio de 1949
Até 2005, a estimativa era que 1,5 milhão de sepultamentos ocorreram no local
Este será o primeiro Dia de Finados desde o início da pandemia
Visitantes no Cemitério da Vila Formosa
Cemitério da Vila Formosa
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Covas abertas no maior cemitério de São Paulo

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O Cemitério da Vila Formosa foi fundado em 20 de maio de 1949

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Até 2005, a estimativa era que 1,5 milhão de sepultamentos ocorreram no local

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Este será o primeiro Dia de Finados desde o início da pandemia

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Visitantes no Cemitério da Vila Formosa

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Cemitério da Vila Formosa

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Em agosto, no rápido velório e sepultamento da mulher com quem passou 52 anos casado, o aposentado Israel Figueiredo, 75 anos, incomodou-se principalmente com a exigência do caixão fechado.

“Para mim, o problema maior foi não poder vê-la uma última vez”, afirma ele, que conversou com a reportagem do Metrópoles enquanto cuidava da sepultura de Ana na véspera do feriado, retocando o pequeno jardim que montou no local.

Falecida aos 81 anos, ela tratava um câncer de pele, segundo o viúvo, e acabou contraindo a Covid-19 dentro do hospital – as regras impostas pela pandemia incluem o caixão lacrado quando a pessoa morreu com a doença.

Véspera do primeiro Dia de Finados após a pandemia. Cemitério Vila Formosa18
Israel Figueiredo visitou o túmulo da esposa
Luto

Dramas parecidos foram vividos por milhares de parentes de pessoas enterradas nessa área de 763 mil metros quadrados na Zona Leste da cidade – vítimas ou não do coronavírus.

Apesar de ostentar o título de maior do país e da América Latina, o Cemitério da Vila Formosa não chega a ser atração turística, como algumas das outras 21 necrópoles públicas da megalópole paulista.

Não há ali mortos famosos ou sepulturas que possam ser consideradas obras de arte – como as do Cemitério da Consolação, tombado como patrimônio municipal.

Capa do The Washington Post de 2 de abril de 2020 mostra foto de covas abertas no cemitério paulistano

Voltado às classes de menor poder aquisitivo, o cemitério no qual o Metrópoles passou algumas horas da manhã fria e chuvosa do domingo que antecedeu o feriado tem lápides simples, padronizadas.

Falta manutenção e mato está alto em alguns pontos. Noutros, sepulturas seguem sendo abertas em ritmo mais acelerado do que em 2019 – mas sem precisar, por exemplo, das câmaras frigoríficas, que chegaram a ser instaladas pela prefeitura.

Eram de 20 a 30 enterros por dia até março, segundo a administração do local. Em alguns dias de maio e junho, o número de sepultamentos diários chegou a 80 – todos com restrições. Nessa época, as famílias paulistanas sequer podiam escolher onde seriam sepultados seus mortos.

Véspera do primeiro Dia de Finados após a pandemia. Cemitério Vila Formosa18
José Alves Rocha foi visitar o túmulo do irmão
Cuidados

Foi o caso do irmão do operador de empilhadeira José Alves da Rocha, 60, João da Rocha, que morreu aos 71 anos, também com o novo coronavírus. “Aqui ficou longe para a maioria das famílias, que vivem na Zona Sul, onde ele vivia, mas não tivemos opção, infelizmente”, afirma ele, que foi ao local na véspera para evitar as inevitáveis aglomerações desta segunda-feira (2/11).

Mesmo tendo sido acometido pela Covid-19, com poucos sintomas, ele continua tomando cuidados – muito por causa do que viu quando sepultou o irmão.

“Eu vi aqui do chão aquela imagem do monte de covas. Quando nós chegamos com ele, essa área estava toda aberta, muito assustador”, relembra ele, que lamenta o relaxamento das medidas para evitar a propagação do vírus. “Infelizmente, o pessoal não dá valor, é só balada, só correria. Enquanto não doer na pele…”, afirma ele, com dificuldade para completar o raciocínio.

E no cemitério do cenário “assustador”, mesmo mortes que não foram diretamente causadas pela Covid-19 têm sua história marcada pela pandemia.

Para o comerciante Mario Batista dos Santos, 63, que foi visitar o túmulo do sogro ao lado da esposa, Maria Aparecida, e da cunhada, Iraci, a morte dele pode ter sido causada pelo reumatismo e pela úlcera que o tratamento causou, mas foi acelerada pelo isolamento forçado pelo coronavírus.

“A vida dele eram os netos, que não puderam mais visitá-lo. Aí, ele ficou sozinho, começou a ficar depressivo, não quis mais ir ao médico tratar do problema dele, foi definhando… São tempos muito tristes”, afirma Mario Batista, que também teve de lidar com um sepultamento cheio de restrições.

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Cemitério de Vila Formosa, em São Paulo
Homenagem aos entes que se foram
Túmulos no cemitério de Vila Formosa
O movimento nesta segunda-feira deve ser intenso
Para evitar a aglomeração do Dia de Finados, algumas famílias anteciparam a homenagem
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Mario Batista dos Santos, Maria Aparecida Neves e Iraci Neves

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Cemitério de Vila Formosa, em São Paulo

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Homenagem aos entes que se foram

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Túmulos no cemitério de Vila Formosa

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O movimento nesta segunda-feira deve ser intenso

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Para evitar a aglomeração do Dia de Finados, algumas famílias anteciparam a homenagem

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Mesmo com regras mais flexíveis, o uso de máscaras segue obrigatório

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Funcionário do cemitério

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Mulher no Cemitério de Vila Formosa

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Restrições

Neste domingo (2/11), sem limite de tempo e sem aglomeração, a família pôde ficar pela primeira vez bastante tempo ao lado do parente que partiu há poucos meses.

Ainda assim, no fim de semana, com menos restrições, o público no cemitério foi pequeno, menor do que o esperado pelos funcionários, que acreditam que, além do frio e da chuva, parte da população ainda evita lugares públicos por medo do vírus.

O governo paulista afrouxou as restrições nos cemitérios por ocasião do Dia de Finados, mas medidas de distanciamento social continuam valendo. O uso de máscaras no local é obrigatório e há medição de temperatura e distribuição de álcool gel nas entradas das necrópoles.

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