No fim do mandato, Temer erra e exagera dados sobre economia
A maior parte das declarações foram dadas em entrevista a um programa de TV exibido no último dia 16
atualizado
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O presidente Michel Temer concedeu entrevista ao programa Poder em Foco, do SBT, no dia 16 de dezembro. No programa, falou sobre diversos assuntos, entre eles os resultados da economia em seu governo. Com base nos relatórios oficiais do IBGE, do Banco Central e de empresas públicas, a Lupa verificou o grau de veracidade de algumas informações do presidente. Confira abaixo:
“O Banco do Brasil aumentou três vezes seu patrimônio [nos últimos quatro anos].”
Michel Temer, presidente da República, em entrevista ao programa Poder Em Foco do SBT, no dia 20 de dezembro de 2018
Segundo relatórios do próprio Banco do Brasil, o aumento do patrimônio da instituição no período foi bem menor do que o citado por Temer. Em 2014, o patrimônio líquido do banco era de R$ 78,4 bilhões. A informação consta na Demonstração Contábil daquele ano. Quase quatro anos depois, no terceiro trimestre de 2018, o patrimônio cresceu para R$ 103,8 bilhões. Ou seja, cresceu 32,5% a mais – e não 200%, como afirmou o presidente.
Procurado, Temer não respondeu.
“Correios, que só dava prejuízo, nesse primeiro semestre [de 2018], pela primeira vez, apresentou resultado positivo.”
Michel Temer, presidente da República, em entrevista ao programa Poder Em Foco do SBT, no dia 20 de dezembro de 2018
No primeiro semestre de 2018, os Correios tiveram um prejuízo de R$ 115,1 milhões – e não um “resultado positivo.” De acordo com dados públicos, no primeiro trimestre do ano, a empresa teve um resultado negativo em R$ 231 milhões. No segundo trimestre, o resultado foi positivo – um lucro de R$ 110,6 milhões.
Mesmo com o prejuízo, o resultado do primeiro semestre de 2018 foi significativamente melhor do que o do mesmo período no ano passado. Em 2017, o prejuízo acumulado chegou a R$ 1,4 bilhão. E em 2016, a R$ 993 milhões.
Procurado, Temer não respondeu.
“A inflação estava em dois dígitos [no fim do governo Dilma], hoje está abaixo dos 4%.”
Michel Temer, presidente da República, em entrevista ao programa Poder Em Foco do SBT, no dia 20 de dezembro de 2018
Em abril de 2016, último mês de Dilma Rousseff na presidência, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE, acumulado em 12 meses era de 9,28% – e não “estava em dois dígitos”, como disse Temer. A inflação até chegou aos dois dígitos, mas entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016, antes de o atual presidente assumir o país.
Hoje, o índice também não está “abaixo dos 4%”. Em novembro de 2018, último mês com dados disponíveis, a inflação estava ligeiramente acima do patamar citado pelo presidente: 4,05%. Mas, em agosto de 2017, ela atingiu seu patamar mais baixo desde 1999: 2,46%.
Procurado, Temer não respondeu.
“Quando nós chegamos [ao governo], em maio [de 2016], o [crescimento do PIB] estava em 5,9% negativo.”
Michel Temer, presidente da República, em entrevista ao programa Poder Em Foco do SBT, no dia 20 de dezembro de 2018
Procurado, Temer não respondeu.
“Logo em dezembro [de 2016], o [crescimento do] PIB já era negativo em 3,6%.”
Michel Temer, presidente da República, em entrevista ao programa Poder Em Foco do SBT, no dia 20 de dezembro de 2018
Quando o PIB de 2016 foi divulgado pela primeira vez, o IBGE estimou a redução em 3,6%. Entretanto, esse valor foi reavaliado e corrigido em 2018 para 3,3%, ou seja, um cenário ligeiramente melhor do que aquele medido inicialmente.
“No final do ano seguinte [2017], era [o crescimento do PIB] mais 1%.”
Michel Temer, presidente da República, em entrevista ao programa Poder Em Foco do SBT, no dia 20 de dezembro de 2018
Segundo as Contas Nacionais Trimestrais, do IBGE, em 2017, o PIB do Brasil cresceu 1,1%. No terceiro trimestre de 2018, a variação do PIB está em 1,4% positivo. A expectativa do mercado, segundo o último Relatório Focus, do Banco Central, é que 2018 feche com um crescimento de 1,3%.
“Nós liberamos essas contas inativas [do FGTS]. Isso injetou R$ 44 bilhões na economia.”
Michel Temer, presidente da República, em entrevista ao programa Poder Em Foco do SBT, no dia 20 de dezembro de 2018
Segundo documento publicado pelo Banco Central, com base em dados da Caixa Econômica Federal, a liberação do saque das contas inativas do FGTS, medida tomada por Temer em dezembro de 2016 e iniciada em março do ano seguinte, injetou R$ 44,3 bilhões na economia, o equivalente a 0,71% do PIB do ano passado.