Nise Yamaguchi é afastada do Einstein após fala polêmica sobre o holocausto
Defensora da hidroxicloroquina, a médica disse que a defesa do uso precoce em casos de coronavírus foi motivo da suspensão
atualizado
Compartilhar notícia
A médica Nise Yamaguchi foi suspensa, neste sábado (11/7), de suas atividades no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Segundo a pesquisadora, o motivo teria sido por ela defender o uso precoce de hidroxicloroquina em pacientes com coronavírus, no entanto, em nota divulgada pelo próprio hospital, o motivo real de seu afastamento está em uma fala na qual ela apontou que os judeus, na época do Holocausto, eram “massa de rebanho”. Segundo ela, famintas, as vítimas iam “alegremente” para os campos de concentração nazistas.
A médica, que chegou a ser cotada para o Ministério da Saúde pelo presidente Jair Bolsonaro, fez parte de um gabinete de crise do governo federal para o combate ao coronavírus. Agora, ela tem seu posicionamento submetido à comissão de ética da instituição que trabalha.
“Trata-se, contudo, de hospital israelita e a Dra. Nise Yamagushi, em entrevista recente, estabeleceu analogia infeliz e infundada entre o pânico provocado pela pandemia e a postura de vítimas do holocausto ao declarar que ‘você acha que alguns poucos militares nazistas conseguiriam controlar aquela MASSA DE REBANHO de judeus famintos se não os submetessem diariamente a humilhações, humilhações, humilhações…’”. argumenta a direção da instituição por meio de nota.
“Como se trata de manifestação insólita, o hospital houve por bem averiguar se houve mero despropósito destituído de intuito ofensivo ou manifestação de desapreço motivada por algum conflito. Durante essa averiguação, que deve ser breve, o hospital não esperava que o fato viesse a público”, argumentou.
O afastamento da médica é temporário e só será definitivo dependendo do resultado da análise da comissão de ética. “A expectativa do hospital é a de que o incidente tenha a melhor e mais célere resolução, de modo a arredar dúvidas e remover desconfortos”, informou.
Em entrevista ao SBT na noite dessa sexta-feira (10/7), Nise Yamaguchi disse que está impedida de prescrever aos pacientes e atender os internados no hospital. “Recebi uma ligação hoje do diretor clínico me informando de que não poderia exercer minhas funções no hospital, prescrevendo nem atendendo pacientes já internados”, disse ela ao jornalista Roberto Cabrini.
Segundo ela, seu afastamento se deu porque a instituição acredita que a defesa dela sobre o uso precoce da hidroxicloroquina “não tenha fundo científico, denigre o hospital”. “Insistindo que esse remédio pode curar pessoas, eu estaria indo na contramão daquilo que o hospital, com seus médicos, com seu corpo científico, decidiu.”
No fim de junho, o Albert Einstein comunicou que estava recomendando aos seus médicos que não prescrevessem medicamentos à base de cloroquina para o tratamento da Covid-19, diante da falta de evidência científica da eficácia da medicação.
De acordo com a assessoria do hospital, o Einstein realiza pesquisa sobre o uso da hidroxicloroquina, no entanto, a médica não faz parte da equipe que trabalha nesta pesquisa.
O afastamento da médica repercutiu nas redes sociais:
Não só. Ela comparou a atual situação das pessoas com medo da Covid-19 com judeus indo “alegremente” para os campos de concentração. pic.twitter.com/ajRCxmL9gH
— Gusta (@GustaAB) July 11, 2020
Ela chegou a reclamar de perseguição por parte da cúpula do hospital e argumentou que tem pacientes que dependem dela e não podem ser hoje atendidos.
Confira a íntegra da nota:
Com relação a declarações prestadas pela Dra. Nise Yamagushi, o Hospital Israelita Albert Einstein tem a esclarecer o seguinte:
1. O hospital respeita a autonomia inerente ao exercício profissional de todos os médicos, jamais permitindo restrições ou imposições que possam impedir a sua liberdade ou possam prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho.
2. A Dra. Nise Yamagushi faz parte do corpo clínico do Hospital, sendo admissível que perfilhe entendimento próprio com relação ao atendimento de seus pacientes ou à sua postura em face da pandemia ora combatida, desde que observe as regras relacionadas ao uso da sua condição de integrante do Corpo Clínico em sua comunicação.
3. Trata-se, contudo, de hospital israelita e a Dra. Nise Yamagushi, em entrevista recente, estabeleceu analogia infeliz e infundada entre o pânico provocado pela pandemia e a postura de vítimas do holocausto ao declarar que “você acha que alguns poucos militares nazistas conseguiriam controlar aquela MASSA DE REBANHO de judeus famintos se não os submetessem diariamente a humilhações, humilhações, humilhações…”.
4. Como se trata de manifestação insólita, o hospital houve por bem averiguar se houve mero despropósito destituído de intuito ofensivo ou manifestação de desapreço motivada por algum conflito. Durante essa averiguação, que deve ser breve, o hospital não esperava que o fato viesse a público.
A expectativa do hospital é a de que o incidente tenha a melhor e mais célere resolução, de modo a arredar dúvidas e remover desconfortos.
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN