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Neste A Semana em Fakes: desinformação afeta a desorganizada vacinação

Saiba como fake news e golpes estão ajudando a confundir a população diante de um cronograma que já causa dúvidas

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Aline Massuca/Metrópoles
Primeira porta bandeira da Viradouro, Edna Maria Pereira, de 86 anos, recebe a vacina contra a Covid-19
1 de 1 Primeira porta bandeira da Viradouro, Edna Maria Pereira, de 86 anos, recebe a vacina contra a Covid-19 - Foto: Aline Massuca/Metrópoles

Para além dos inúmeros boatos espalhados pelo movimento antivacinas (que perderam força nos últimos dias após bolsonaristas “descobrirem” que o presidente seria “a favor da vacina”), um tipo de desinformação que tem ganhado força nos últimos dias é a relacionada ao próprio processo de vacinação no Brasil.

A escassez de vacinas (que não é exclusividade do Brasil), a descentralização (e desorganização) dos cronogramas de vacinação e a ansiedade (justificada) de muitos em se imunizar resultam em terreno fértil para notícias falsas que confundem e geram ainda mais dúvidas na população brasileira. Calendários falsos de vacinação, tentativas de golpes e até teorias da conspiração falsas contra profissionais de saúde se espalharam em redes sociais.

Cronogramas falsos de vacinação

Nos últimos dias, falsos cronogramas de vacinação se espalharam por diversos estados brasileiros. O primeiro deles surgiu em janeiro, antes mesmo da primeira pessoa ser vacinada no Brasil.

Depois que o estado de São Paulo divulgou, em dezembro do ano passado, um cronograma de vacinação (que acabou não se concretizando) com o início da vacinação previsto para 25 de janeiro de 2021, o calendário acabou sendo compartilhado falsamente como se fosse de outros estados (como Rio de Janeiro e Amazonas) e até como se fosse um “calendário nacional”.

Quando as pessoas começaram a se vacinar (e as dúvidas de “quando será minha vez” aumentaram), mais tabelas falsas surgiram. No início de fevereiro, uma tabela “tirada do nada” com datas da vacinação de pessoas de 0 a 75 anos começou a circular como o “novo cronograma” de São Paulo e teve que ser desmentido pela Secretaria de Saúde do estado. Ainda sim, o maior fake sobre calendário estava por vir.

A divulgação do cronograma de vacinação na cidade do Rio de Janeiro para fevereiro suscitou um grande boato.

Seguindo a lógica do calendário do município para fevereiro (que previa a vacinação de pessoas com 99 anos no dia 1º, 98 anos no dia 2 sucessivamente até pessoas com 75 anos se vacinarem no dia 28), alguém criou uma “tabela de março” com pessoas de 74 anos se vacinando no dia 1º março, de 73 anos no dia 2 sucessivamente até “pessoas de 55 anos” se vacinarem no dia 31/03.

O boato se espalhou, primeiramente, no Rio de Janeiro e acabou desmentido pelo próprio prefeito Eduardo Paes. Porém, a descentralização de calendários fez com que o cronograma falso se espalhasse em muitos outros estados e cidades. Nem é preciso dizer como foi difícil desmentir uma mentira como essa.

Tentativa de golpe e denúncias falsas de golpes

Não bastassem os falsos calendários de vacinação, golpes e denúncias falsas de golpes também teimam em viralizar nas redes sociais. De acordo com autoridades públicas, bandidos estão se aproveitando da vacinação para aplicar o golpe de sequestro de WhatsApp.

Mensagens de pessoas se identificando como “membros” do Ministério da Saúde começaram a chegar a alguns telefones. Ao interagir com internautas, o golpista pede um código que “seria envido por SMS para verificação”. Detalhe: o código dá acesso à conta do WhatsApp. A partir do código, o golpista “sequestra” a conta no aplicativo e pode, por exemplo, pedir falsos empréstimos para contatos. Temos até um vídeo que fala sobre esse golpe:

Também vimos notícias falsas descredibilizando ferramentas oficiais. Desmentimos duas nos últimos dias: uma falava que o site Vacina Já (do governo de São Paulo) seria um site falso. Outro denunciava uma ferramenta do governo do Rio de Janeiro. Nos dois casos, as denúncias eram falsas e as ferramentas, além de oficiais, são úteis no processo de vacinação.

Teorias da conspiração

Pior do que as denúncias falsas sobre ferramentas governamentais são as teorias da conspiração criadas nos últimos dias contra profissionais de saúde.

Após vídeos reais de pessoas sendo vacinadas de forma errada (com vacina sem líquido ou sem o êmbolo da vacina ser empurrado), começaram a circular denúncias falsas e sem provas contra as pessoas da linha de frente da imunização.

Uma das histórias falava que enfermeiros estão “aplicando seringas vazias” para “vender no mercado negro”. Outra ia além: falava que “soro fisiológico” estava sendo aplicado nas pessoas para o mesmo fim. Não é preciso nem dizer que nenhuma das duas graves acusações tinham qualquer prova.

Felizmente, essas fake news não acarretaram em uma consequência mais grave (como aglomerações ou agressões nos locais de vacinação). Porém, é preciso que internautas fiquem alertas.

Para tanto, vale a receita de sempre: se você vir um calendário de vacinação, ofertas de vacinação ou mesmo “denúncias bombásticas” no WhatsApp, Facebook etc., verifique a fonte da informação e, em último caso, confira se é boato em sites de checagem como o Boatos.org. Na medida do possível, faremos a nossa parte.

Trends da semana

As palavras mais buscadas no Boatos.org nos últimos sete dias foram, em ordem decrescente, Ivermectina, Vacina, Whatsapp, Policial invade necrotério, WhatsApp, Israel, Lula, Dr. Roger Hodkinson, ivermectina e Prisão em segunda instância.

Os desmentidos mais lidos do Boatos.org nos últimos 7 dias foram, em ordem decrescente, da mensagem falsa que apontava que o Tigres do México havia sido eliminado do Mundial de Clubes por escalar um jogador com Covid-19, da mensagem (compartilhada em 2020) que apontava que um policial havia invadido um necrotério e encontrado a mãe viva e ensacada, da história falsa que apontava que 22 missionários estão “condenados à morte” no Afeganistão, do boato que o pai do menino que ficou preso em um barril havia sido espancado na cadeia e da teoria da conspiração que apontava que seringas vazias estão sendo aplicadas para desvio de vacinas para o mercado negro.

No Twitter, a matéria com maior engajamento foi a que desmentia o boato que Neymar havia doado R$ 1,5 milhão para Lucas Penteado. O “A Semana em Fakes” sobre a ivermectina foi o conteúdo mais compartilhado da semana do Facebook. No Instagram, o conteúdo de maior engajamento foi o desmentido sobre o “um estudo da USP que havia comprovado a eficácia da hidroxicloroquina”.

O conteúdo mais visto da semana no Telegram foi o alerta do golpe que pedia um “código SMS” para vacinar. Por fim, no YouTube, o conteúdo mais visto da semana foi o que desmentia o boato sobre o espancamento do pai que colocou o filho em um barril.

Edgard Matsuki é editor do site Boatos.org, site que já desmentiu quase 6 mil notícias falsas

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