Nenhum teste de Covid foi perdido, diz Pazuello; 1,7 milhão venceram
Cerca de 1,7 milhão de exames RT-PCR, adquiridos em abril de 2020, perderam o prazo de validade, revelou o Metrópoles nesta quarta-feira
atualizado
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O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello afirmou categoricamente, nesta quarta-feira (19/5), em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, que nenhum teste para identificar o novo coronavírus foi perdido. A CPI apura ações e omissões do governo federal durante a pandemia.
Como revelou o Metrópoles, no entanto, 1,7 milhão de exames RT-PCR perderam o prazo de validade, mesmo após flexibilização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e serão “substituídos”.
“Não temos nenhum teste perdido. Não foi perdido nenhum teste. Zero”, disse o general, ao afirmar que o Ministério da Saúde aumentou a capacidade de processamento do país de 1,1 mil testes por dia para 66 mil testes por dia.
Questionada pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), por que os exames não foram distribuídos a tempo, antes de ter estourado o prazo de validade, Pazuello assinalou que “já foram distribuídos e usados”.
“A validade foi uma validade emergencial feita pela Anvisa, e foi revista naturalmente. Fazia parte do processo aumentar a validade. Até porque a testagem é por demanda. Não enviamos para estados e municípios. Ele começa na demanda de estados e municípios, e a gente fornece.”
“Testes com validades perdidas, na minha avaliação, é zero”, prosseguiu o general.
Testes perdidos
O Ministério da Saúde deixou estourar, porém, o prazo de validade de aproximadamente 1,7 milhão de testes RT-qPCR para Covid-19. A informação foi apurada pelo Metrópoles e confirmada pela pasta.
Os exames serão “substituídos sem custo”, alega o ministério, sem, no entanto, informar como ou quando – nem repassar qualquer documento que confirme o mecanismo de troca.
Todos foram comprados pelo governo federal em abril de 2020, via Fundo Estratégico da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). No total, o lote continha cerca de 10 milhões de testes, que foram produzidos pelo laboratório Seegene, da Coreia do Sul.
Cada teste custou aos cofres públicos R$ 42, segundo informação enviada pelo Ministério Público Federal à CPI da Covid-19. Isso significa que, além de os brasileiros não terem tido acessos aos exames, o desperdício pode chegar a R$ 71,4 milhões.
Em dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ampliou o prazo de validade dos testes, por mais quatro meses, após o jornal O Estado de S. Paulo revelar que 6,9 milhões de exames estavam encalhados em um galpão do governo federal em Guarulhos (SP).
No início de abril de 2021, o Metrópoles mostrou que, desse total, 2,8 milhões de exames RT-qPCR seguiam sem destinação.
À época, a pasta acenou com a possibilidade de nova avaliação da Anvisa para estender o prazo de validade dos exames para Covid-19 estocados. E acrescentou que “trabalha, juntamente com os estados e municípios, para que nenhum teste perca a validade”.
Por sua vez, a agência reguladora afirmou, ao Metrópoles, que não tinha “perspectiva do que poderá ocorrer com os referidos testes”.
Após publicação da matéria, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Benjamin Zymler determinou que o ministério desse “imediata destinação” aos exames RT-qPCR que seguiam parados.
Na avaliação do ministro do TCU, “causa preocupação esse alto número, especialmente se comparado com o histórico de utilização do insumo nos últimos 12 meses”.