Negro drama: analfabeta, avó foi inspiração para os estudos de médico
Em entrevista ao Metrópoles, Deyvisson Luís Maia, médico que se formou ao som de Negro Drama, fala de sua relação com a avó, Dona Quita
atualizado
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“Pensando de onde eu vim, chegar aqui é uma vitória quase inimaginável”, conta o médico recém-formado Deyvisson Luís Maia, de 23 anos. Na cerimônia de colação de grau da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), de Salvador (BA), realizada em 18/1, ele subiu ao palco ao som da música Negro Drama, dos Racionais MCs, e foi ovacionado.
“Na verdade, essa música Negro Drama, fala muito mais da minha avó do que de mim. Entender essa música, ter a minha religião, minha essência, tudo isso eu devo à minha velha”, afirma ele.
Por isso, um dos momentos de maior emoção para Deyvisson foi que dessem o capelo nas mãos de sua avó, Dona Quita, para que ela colasse o grau do neto. Analfabeta até os 64 anos, ela foi sempre a maior inspiração de seus estudos, diz o jovem médico.
“Minha avó não sabia ler, mas ela nunca descuidou dos estudos da minha mãe ou dos meus. Ela não conseguia corrigir o que a gente estava escrevendo, mas sentava com a gente para estudar e ficava ali, incentivando”, conta Deyvisson.
Dona Quita aprendeu a ler com o passar dos anos, mas ainda tem certa dificuldade com as letras. Ainda assim, sempre foi defensora do progresso na vida através dos estudos e nunca deixou que seus familiares trabalhassem sem estudar.
O negro drama de Dona Quita
Por isso, além de ver o neto se formar médico, Dona Quita ainda viu a filha, que teve como mãe solteira, se tornar professora. “Teve época que elas passaram muita dificuldade, tinha que escolher: uma almoçava e a outra jantava, não dava para as duas. Ainda assim, para ela o estudo veio antes de tudo”, afirma.
No Instagram, Deyvisson publicou uma carta aberta à avó, na qual diz que a realização de ser médico nasceu com ela: “Meu projeto de vida foi iniciado muito antes do meu nascimento. Em Conceição do Coité, há 75 anos, nascia o sonho. Dona Quita se mudou, analfabeta, para região metropolitana para melhorar de vida e o início foi complicado. Lembro disso toda vez que escuto Negro Drama”.
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