“Não vou fugir desse país”, afirma Glenn Greenwald em ato no Rio
Norte-americano cofundador do The Intercept Brasil recebeu apoio de artistas, jornalistas e políticos em defesa da liberdade de expressão
atualizado
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Com o auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio de Janeiro, lotado, inclusive com pessoas nos corredores e a frente do prédio, o ato em defesa do jornalista Glenn Greenwald e da liberdade de expressão foi marcado pelo momento em que o cofundador do site The Intercept Brasil, ao discursar, mostrou o passaporte norte-americano e garantiu:
“Esse passaporte me permite ir para o aeroporto a qualquer minuto e sair do país”, continuou. “(Mas) Eu não me importo com as ameaças que (o presidente Jair) Bolsonaro fez contra mim. Eu não vou fugir desse país.”
Greenwald referia-se ao fato de que Bolsonaro tem atacado os vazamentos de mensagens de autoridades, a exemplo do ex-juiz e hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e procuradores da Operação Lava Jato, e chamado de “crime” a ação do jornalista norte-americano de publicar as conversas, hackeadas do aplicativo Telegram de autoridades.
“Talvez pegue uma cana aqui no Brasil”, atacou Bolsonaro ao ser perguntado se Greenwald se enquadraria em uma portaria publicada por Moro que permite a expulsão de estrangeiros “perigosos”.
O presidente, porém, não diz a qual crime se refere — e até agora não há evidência de que o jornalista tenha cometido alguma irregularidade. Ele vem sustentando que recebeu o material de uma fonte anônima. O ato de ontem foi baseado justamente na defesa do princípio constitucional do sigilo da fonte.
Entenda
Em 9 de junho, o site The Intercept Brasil começou a publicar reportagens com base nos diálogos vazados de Moro e de procuradores da força-tarefa da Lava Jato.
Antes do ato, em entrevista, o jornalista se disse ameaçado por Bolsonaro. “Quando o presidente está te ameaçando por três dias consecutivos, usando seu nome como Jair Bolsonaro está fazendo contra mim, obviamente o risco é grande de eu ser preso. Nós sabemos isso todo o tempo”, afirmou. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Na ABI, Glenn rejeitou o que chamou de tentativa de personalizar nele as reportagens publicadas pelo site, enfatizando características como o fato de ser gay e estrangeiro. Ele afirmou que não participou da produção da maioria dos textos publicados pelo Intercept e que a equipe não está recebendo o crédito que merece.
Na última terça-feira (23/07/2019), quatro pessoas foram presas na Operação Spoofing, da Polícia Federal, deflagrada contra hackers suspeitos de invadir celulares de autoridades. Um dos detidos, Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, disse em depoimento que repassou as mensagens a Glenn, “de maneira anônima, voluntária e sem cobrança financeira”.
Estiveram presentes no ato artistas, como Chico Buarque, Wagner Moura, Marcelo D2 e Camila Pitanga, além dos advogados Pierpaolo Bottini e Carol Proner, e os políticos Marcelo Freixo (PSol-RJ) e Jandira Feghali (PC do B-RJ), deputados federais e o deputado federal David Miranda (PSol-RJ), marido de Greenwald.