“Não teremos leniência com traficantes ou milicianos”, diz governador do RJ
Cláudio Castro exaltou o trabalho da polícia carioca, que, durante operação na manhã deste sábado, abateu Ecko, maior miliciano do Rio
atualizado
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Rio de Janeiro – O governador do Rio, Cláudio Castro, garantiu, neste sábado (12/6), que o estado não tolerará traficantes e milicianos. A declaração foi dada em coletiva de imprensa nesta tarde sobre a Operação Dia dos Namorados, deflagrada pela Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (DRCPIm) e que resultou na morte de Wellington da Silva Braga, o Ecko, considerado o maior miliciano do Rio de Janeiro.
Ecko foi encontrado na comunidade Três Pontes, reduto do criminoso, em Paciência, zona oeste, enquanto visitava a família. Ele foi baleado pelos policiais. A morte do miliciano foi confirmada por volta das 9h30. “Não teremos leniência com traficantes, milicianos ou narcomilicianos. Não prendemos bandido com Twitter”, avisou o governador carioca.
Veja imagens do miliciano baleado:
Sobre a operação deste sábado, ele destacou que autorizou que os policiais fizessem o que precisava ser feito. “Montamos uma força tarefa e começou um trabalho duro de investigação. Os resultados começaram a acontecer. Bloqueamos mais de R$ 1 bilhão e meio de empresas e pessoas físicas e jurídicas ligadas à milícia”, diz o chefe do Executivo fluminense. Segundo Castro, foram presos quase 700 milicianos desde o começo da força-tarefa.
O governador destacou que a liberdade de Ecko sintetizava uma situação de impunidade. Ele disse que houve celebração quando o irmão do miliciano foi preso recentemente. Mas, para Cláudio Castro, aquilo não era suficiente. O intento era chegar no irmão mais conhecido. “Só quem tá na linha de frente entende a importância dessa vitória”, destacou.
Apesar de ter alcançado o que considera uma vitória, o governador ressaltou que não está celebrando uma morte. “Governador aqui não se mete na polícia. Mas estou aqui para parabenizar. Não estou celebrando morte, mas celebrando chegar ao objetivo que foi tirar da circulação alguém que fez tão mal à sociedade”, ressaltou Castro.
Dia dos Namorados
As investigações para tentar chegar em Ecko estão ocorrendo há seis meses. Nas últimas duas semanas decidiu-se que a data para a ação seria justamente o Dia dos Namorados. A ideia era pegá-lo em companhia da esposa/namorada. “Ele foi lá. Tivemos a certeza da visita dele e fomos”, conta o secretário de Polícia Civil do RJ, Allan Tournowski.
Nas últimas duas semanas, a expectativa da força-tarefa se intensificou, com a aproximação do Dia D. “Não dormimos, não descansamos até este momento. A milícia tem um sistema de monitoramento policial e precisamos desenvolver um jeito de chegar invisível, mas não vamos dizer como”, afirma o subsecretário operacional Rodrigo Oliveira.
Tournowski esclareceu que a ação para prender o miliciano envolveu cinco unidades. “Hoje vocês recuperaram, comigo, o orgulho de ser policial civil, o aplauso, o lado do bem”, afirmou ele, se dirigindo aos policiais envolvidos na ação. “Polícia combate crime organizado de duas formas: atacando o dinheiro deles e os prendendo”, disse.
O policial argumentou que não é aceitável que um bandido esteja à frente de uma organização durante anos sem que a polícia tente prendê-lo. “Estamos ao lado do bem, ao lado da sociedade. No caso concreto de hoje, fazemos uma das partes. Prendemos o líder. Mas temos força-tarefa com mais de 99 operações, mais de 650 presos, mais de R$ 1 bilhão e meio bloqueados”, revelou.
A ação
Às vésperas da ação, quatro equipes policiais ficaram concentradas em diferentes locais da comunidade. Elas aguardavam a chegada do alvo na casa da esposa por conta da data comemorativa.
Ecko entrou na casa por volta das 5h. Apenas 21 policiais estiveram na ação com apoio de dois helicópteros. ” O efetivo foi reduzido para não vazar e ele fugir. Foi um cerco planejado”, explica o diretor de polícia especializada, delegado Felipe Curi.
O policial conta que o miliciano tentou fugir quando ouviu o helicóptero. “Ele saiu pelos fundos, com um fuzil Ak 47 que foi apreendido. Voltou pra dentro da casa e bateu de frente com equipe que estava entrando. Teve confronto e ele foi baleado ao apontar a arma para os policiais” disse.
Um helicóptero pousou em um campo de futebol próximo à casa para que Ecko fosse socorrido. Ele foi levado para o local em uma van.
“Durante o trajeto da van pro helicóptero, ele tentou tirar a arma da policial feminina e ele recebeu outro tiro”, esclareceu Curi, por conta de fotos vazadas em redes mais quais o miliciano aparece com um tiro na casa e dois tiros no hospital. Na casa, além do fuzil, a polícia também apreendeu uma farda, com colete, que seria de um policial identificado como capitão Braga.
De acordo com o delegado Thiago Neves, da subsecretaria de inteligência, a ação confirma e permite a identificação de epolocoais envolvidos no esquema crimina. No entanto, ele diz que não há qualquer indício de envolvimento de políticos e parlamentares com Ecko.
Resgate
Outro ponto polêmico da ação foi o socorro ao criminoso, que foi levado de helicóptero para o Hospital Miguel Couto, distante pelo menos 70 quilômetros do local onde o Ecko foi baleado – na região, há pelo menos três grandes emergências e sete UPAs.
“Por questão de segurança, também não se pode levar um criminoso desse porte para hospital local, evitando tentativa de resgate. Fui baleado perto dali e meu socorro foi igual. Até porque há serviço de saúde no heliponto da polícia, na Lagoa, que aciona os Bombeiros para o transporte ao hospital. Fizemos tudo dentro do protocolo dos bombeiros”, garantiu Rodrigo Oliveira.
De pedreiro a bandido sanguinário
Antes servente de pedreiro, Wellington da Silva Braga herdou a chefia da milícia “Liga da Justiça”, que atua na zona oeste do Rio, do irmão Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes, em 2017. Na extensa ficha criminal de Ecko, são atribuídos crimes como homicídio, extorsão e organização criminosa.
Segundo investigações que incluíram o Ministério Público, Ecko era ligado também ao miliciano Adriano da Nóbrega, ex-PM, fundador do “Escritório do Crime”, grupo de matadores de aluguel. Adriano foi morto no ano passado na Bahia. Ecko era um dos bandidos mais procurados do Rio, e o Disque-Denúncia oferecia R$ 10 mil por informações que o levassem à prisão.