“Não ia conviver com o estigma de resgatar bandido”, diz piloto sequestrado
Helicóptero pilotado por Adonis Lopes foi rendido por bandidos no Rio. Piloto viveu 30 minutos de agonia e pensou que faria seu último voo
atualizado
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Rio de Janeiro – Após ser rendido por dois bandidos armados com pistolas, o piloto de helicóptero e policial civil Adonis Lopes de Oliveira viveu exatos 30 minutos de agonia e medo de estar realizando seu último voo. Adonis, que também faz transporte aéreo particular, atendeu a um chamado para levar passageiros de Angra dos Reis, na Costa Verde, para a cidade do Rio, quando o sequestro foi anunciado.
De acordo com o piloto, em entrevista à TV Globo, os ocupantes do helicóptero ordenaram que Adonis seguisse para o Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio, onde resgatariam um comparsa.
“Eles retiraram dois fuzis de uma maleta. Imaginei que aquele pudesse ser meu último voo. Mas não ia conviver com o estigma de resgatar bandido”, lembrou o policial, que já participou de grandes operações policiais comandando aeronaves da corporação.
Os 30 minutos de sufoco também deram a Adonis a possibilidade de traçar um plano para conter os criminosos, que não tiveram os nomes revelados pela polícia. “Para o presídio, eu não iria de jeito nenhum, então tentei convencê-los a desistir. Dizia: ‘isso não vai acabar bem, vão atirar no helicóptero’”, disse à dupla. “Fica tranquilo, não vai acontecer”, respondeu um deles.
Já chegando na zona oeste, o piloto sequestrado avaliou entre os quartéis do Exército e a Base Aérea de Santa Cruz qual a melhor opção para o pouso. Mas decidiu pelo campo de futebol do 14º BPM (Bangu). No entanto, os criminosos perceberam a ação e iniciaram uma luta dentro da aeronave, que ficou sem comando por um tempo.
“Eles pegaram os comandos, e o sujeito de trás me deu uma gravata. Eu pensei que a aeronave fosse colidir com qualquer comando. O helicóptero é muito sensível. A todo o momento, eu evitava bater. Alertei: ‘A gente vai cair, larga, solta, a gente vai morrer!’. Não sei explicar, eles ficaram muito atônitos”, avaliou o piloto sequestrado.
Helicóptero desgovernado
Adonis esclareceu que as imagens que viralizaram em um vídeo, do helicóptero desgovernado, não foram propositais. O piloto sequestrado contou que reassumiu o comando da aeronave e seguiu para Niterói, próximo ao Complexo do Caramujo, na Região Metropolitana do Rio, como ordenou a dupla. “Fiquei com medo de atirarem, de morrer. Eu decolei de porta aberta para fugir de possíveis disparos”, destacou.
Em nota, a Polícia Civil informou que dois passageiros contrataram um voo para Angra dos Reis, na manhã deste domingo (19/9), com retorno previsto para segunda-feira (20/9). “No final da tarde de ontem (domingo 19/9), informaram que retornariam ao Rio de Janeiro ainda no domingo. Como o piloto que fez o voo não estava se sentindo bem, solicitou ajuda de outro colega. Após a decolagem, o piloto que o substituiu foi rendido e avisado que deveria ir para o presídio de Bangu”.
Ainda de acordo com a corporação, “os bandidos desistiram do plano e mandaram seguir para Niterói, onde pularam do helicóptero em uma área de mata. Em seguida, a aeronave pousou no Grupamento de Aeromóvel da Polícia Militar, localizado em Niterói. Foram realizadas buscas na região para localizar a dupla”, diz o texto.
O caso foi registrado na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco), que trabalha para identificar e prender os bandidos, além de esclarecer todos os fatos.