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“Não há tempo para comer, ir ao banheiro”, diz chefe de UTI para Covid

Médica intensivista do Hospital São Paulo relata rotina exaustiva de equipe. “Estamos muito próximos do colapso”, afirma Flávia Machado

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Arquivo pessoal
flavia ribeiro machado hospital são paulo
1 de 1 flavia ribeiro machado hospital são paulo - Foto: Arquivo pessoal

São Paulo – Nesta semana, fará um ano que o setor de terapia intensiva do Hospital São Paulo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na capital paulista recebeu o seu primeiro paciente com Covid-19. Haverá uma cerimônia com o objetivo de estimular a equipe.

“Sou chefe de uma equipe de 450 pessoas, então não posso me permitir pensar em desistir. Muito pelo contrário, tenho que sempre estar motivada para transmitir que precisamos continuar na luta”, afirma a médica intensivista Flávia Ribeiro Machado, professora da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp, e chefe do setor de terapia intensiva do Hospital São Paulo.

Em meio ao caos, ela tenta buscar sentido em tudo o que vem fazendo, procurando buscar alento nos aspectos positivos. “O segredo é tentar enxergar as coisas sempre da forma reversa, não pensar nas vidas que perdemos, pensar nas vidas que salvamos.”

Mas a missão da médica, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira desde 1997, no momento atual tem se tornado cada vez mais difícil. Sob a sua gestão estão 53 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI), dos quais 45 para pacientes de Covid-19 totalmente ocupados.

E não há dúvidas que o país vive o pior momento da pandemia, porque nunca os pacientes chegaram tão velozmente às UTIs. No ano passado, mesmo nas piores fases, segundo Flávia, a equipe tinha tempo para atender os pacientes.

“Agora, a rapidez está provocando o colapso. Nós conseguimos no ano passado evitar o colapso. Se a população ajudar, evitaremos o colapso, mas estamos muito próximos dele”, diz.

Escolhas

Com as UTIs lotadas e dificuldades de alocação, o critério para admitir pacientes na UTI está mais rigoroso, o que torna difícil a situação dos profissionais da saúde.

“Gostaríamos de receber na UTI pacientes menos graves. Mas com a restrição de leitos estamos recebendo pacientes que estão em estado muito grave. Isso é uma situação ruim, porque também limita as nossas oportunidades de reversão”, afirma.

Nesse cenário, a equipe tem trabalhado 70, 80, 90 horas por semana. Segundo a médica, a rotina no setor de saúde já é superior à jornada de 40 horas semanais, em geral, dos demais profissionais, mas o estresse para tratar pacientes bem mais graves tem sido muito maior.

“Dia após dia com pacientes que são muito mais graves que qualquer outro. Então, isso que talvez as pessoas não compreendam. Mesmo para nós, intensivistas, uma unidade Covid-19 é muito mais pesada, porque a gravidade do paciente que está lá não se compara com em uma UTI não Covid”, afirma.

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Uma das grandes preocupações das autoridades de saúde atualmente é com as aglomerações no transporte coletivo
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Trabalhadores enfrentam aglomerações para chegar ao trabalho
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Aglomeração de passageiros na plataforma da Estação Luz da CPTM, no centro da capital paulista, na manhã da quarta-feira (3/3)

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Trabalhadores enfrentam aglomerações para chegar ao trabalho

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A médica explica que, por exemplo, o maior percentual de pacientes intubados gera uma sobrecarga de trabalho. “Você não tem tempo para nada, não para um minuto. Se você está em uma unidade Covid, às vezes, passa o dia inteiro sem comer nada, conseguir ao banheiro, sair para tomar uma água. Eventualmente, você consegue tomar uma água e ir ao banheiro. É realmente muito sobrecarregado, dependendo do dia, é extremamente exaustivo.”

Falta de profissionais

De acordo com a médica, hospitais públicos e privados de São Paulo então tentando aumentar os leitos de UTI, mas não conseguem contratar médicos e enfermeiros para ampliar a equipe. Diferentemente da primeira fase da pandemia, em que as equipes contavam com o auxílio de profissionais não intensivistas, hoje não é possível encontrar mais médicos dispostos a trabalhar em leitos de Covid-19.

“Não é uma questão de remuneração, é uma questão que os médicos que conseguiram trabalhar na primeira fase da pandemia, e que não eram intensivistas, hoje não estão com essa disposição, estão cansados também”, afirma.

Flávia diz ainda que há dificuldade até de manter as atuais equipes, porque muitos profissionais estão sem férias há muito tempo. “Na nossa equipe, estão tentando dar algum descanso aos médicos que ficaram sem férias durante o ano passado inteiro. Imagina como é enfrentar a Covid sem algum tipo de descompressão”, relata.

A equipe tem visto ainda a mudança de perfil desses pacientes. “Tem sido difícil atender pacientes mais jovens, que não têm comorbidades e vendo o quão grave a Covid pode ser mesmo em pessoas sadias. A gente tem tido pacientes de 30 e 40 anos.”

“Não queremos perder mais ninguém”

No ano passado, a equipe de terapia intensiva do Hospital São Paulo também teve enfrentar o sofrimento de ver a partida de um colega que trabalhava na linha de frente de combate à Covid-19. “Perdemos um amigo, um dos nossos médicos que trabalhava aqui havia 20 anos. Temos aqui uma placa com uma foto, era uma pessoa muito querida. Não queremos perder mais ninguém, e temos que agradecer porque só perdemos ele.”

Para a médica, somente com muita união e paz de espírito entre os profissionais será possível enfrentar a atual situação. “E da mesma forma como nós profissionais de saúde estamos compreendendo nosso papel, a população precisa compreender a dela e ficar em casa”, reforça.

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Hospital de Campanha de Osasco foi destinado a atender pacientes com Covid-19
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Pessoas aguardam do lado de fora em hospital de Osasco, na Grande São Paulo
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Movimentação em hospital na Grande São Paulo

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Hospital de Campanha de Osasco foi destinado a atender pacientes com Covid-19

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