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“Não dói o útero e, sim, a alma”, desabafa vítima de estupro coletivo

Em sua página no Facebook, a adolescente carioca de 16 anos agradeceu o apoio: “Pensei que seria julgada mal! Mas não fui, todas podemos um dia passar e por isso…”

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estupro coletivo
1 de 1 estupro coletivo - Foto: iStock

Em sua página no Facebook, a adolescente de 16 anos vítima de um estupro coletivo no Rio de Janeiro, na quarta-feira (25/5), postou um agradecimento e fez um desabafo: “Não, não dói o útero e, sim, a alma por existirem pessoas cruéis sendo impunes!!”. No post, a adolescente agradece o apoio: “Obrigada pelo apoio de todos .. realmente pensei que seria julgada mal! Mas não fui, todas podemos um dia passar e por isso…”

A polícia investiga a participação de 33 pessoas no estupro e postagem de vídeos e imagens nas redes sociais. O caso ganhou repercussão internacional e foi alvo de manifestação da Nações Unidas (ONU). Quatro suspeitos já foram identificados e a prisão preventiva deles deve ser autorizada a qualquer momento.

A agentes da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), da Polícia Civil do Rio, nessa quinta (26), ela contou que foi atacada por 33 homens armados de fuzis e pistolas. Disse que, no último sábado (21), foi visitar o namorado no morro do Barão, na Praça Seca, zona oeste carioca, e só lembra de ter acordado, no dia seguinte, “dopada e nua”, em uma casa desconhecida, cercada pelos agressores.

No depoimento à Polícia Civil, reproduzido no site da revista Veja, a vítima contou que, depois de acordar, vestiu roupas masculinas e pegou um táxi para casa, no bairro da Taquara, também na zona oeste. A jovem é mãe de um menino de 3 anos.

Ainda de acordo com o depoimento, ela soube, na terça-feira passada, que um vídeo com imagens suas depois do estupro havia sido divulgado nas redes sociais e em sites de relacionamento. Nesse mesmo dia, segundo as informações prestadas à polícia, ela voltou à favela e cobrou do chefe da quadrilha dos traficantes de drogas, não identificado, que devolvesse seu celular, possivelmente furtado no dia do estupro coletivo.

Ressarcimento
Segundo a jovem, o traficante disse não ter encontrado o celular, mas prometeu ressarcir-lhe o prejuízo. Disse também que se informaria sobre o estupro. A jovem identificou o namorado apenas como Petão, de 19 anos, que conheceu no colégio onde ambos estudam. A vítima disse que se relaciona com Petão há três anos. Ela afirmou que costumava usar ecstasy, lança-perfume e cheirinho da loló, mas que há um mês não se drogava.

No depoimento, a adolescente disse que está “profundamente abalada” e que, desde que foi estuprada, tem sentido muitas dores internas. Na manhã de quinta-feira, ela foi submetida a exames no setor de ginecologia de uma maternidade da rede municipal de saúde. “Quando acordei tinham 33 caras em cima de mim. Só quero ir para casa”, disse ela ao sair do hospital, em declaração reproduzida no site do jornal O Globo.

Antes do exame médico, ela prestou depoimento e foi periciada no Instituto Médico-Legal (IML). O pai, que a acompanhou na perícia, disse que, ao chegar em casa no domingo, encontrou a filha “gemendo de dor”.

Em entrevista à rádio CBN, a avó afirmou ter ficado chocada com o vídeo, em que um dos homens faz menção a mais de 30 estupradores e afirma: “Essa aqui, mais de 30, engravidou”. “O vídeo é chocante, eu assisti, ela está completamente desligada”, disse a avó.

Segundo ela, a neta tem o hábito de passar alguns dias sem dar notícias, mas que a família nunca soube que tenha sofrido abusos sexuais. A avó levantou a suspeita de que o estupro coletivo tenha sido “vingança” do namorado, que teria suspeitado de uma traição da garota. Os nomes da jovem e de seus parentes são mantidos em sigilo pela polícia.

Investigação
A publicação e o compartilhamento do vídeo da vítima depois do estupro causaram indignação entre internautas, que pediram que ninguém mais divulgasse o vídeo. As imagens mostram o órgão genital da jovem e a narração do responsável pela publicação: “Olha como tá (sic). Sangrando. Olha onde o trem passou. Onde o trem bala passou a marreta”.

Um dos responsáveis pela publicação no Twitter, identificado como Michel, escreveu: “Amassaram a mina, intendeu (sic) ou não intendeu (sic) kkkkk”. Foi publicada também uma fotografia de um dos homens diante do corpo da jovem deitado em uma cama.

O caso também é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), que recebeu uma denúncia anônima do estupro coletivo e da divulgação das imagens nas redes sociais. Segundo o MP-RJ, cerca de 800 comunicações do caso foram feitas à Ouvidoria. A promotoria pediu que agora sejam encaminhadas apenas denúncias que tenham informações novas sobre o caso.

Barbárie
A Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ) classificou o caso como “barbárie”. “Os atos repulsivos demonstram, lamentavelmente, a cultura machista que ainda existe, em pleno século 21”, diz a entidade em nota. “Um estupro coletivo, com requintes de crueldade, no qual vários indivíduos perpetuaram a humilhação expondo, nas redes sociais, a dor da vítima”, afirma a entidade.

A OAB-RJ atenta ainda para o fato de que, para cada caso público de estupro, tantos outros permanecem ocultos, sem repercussão.

Precisamos lutar contra a violência em cada lar, em cada comunidade, em cada bairro. A revolta e a mobilização são claros indícios de que a indignação social se faz fortemente presente.

OAB

Diante do ocorrido, a OAB-RJ afirma que frases machistas, piadas sexistas e propagandas que tornam a mulher um objeto sexual devem ser combatidas, “sob o risco de se tornarem potenciais incentivadoras de comportamentos perversos”. A entidade está oferecendo assistência jurídica à família e afirma esperar que a lei prevaleça na punição aos responsáveis. (Com informações da Agência Estado)

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